Não foi propriamente a melhor exibição da temporada. Teve 30 minutos de qualidade, teve uma parte inteira (a segunda) de capacidade ofensiva mínima ou nula. No final, ficaram os três pontos e a confirmação do Sporting dominador em Alvalade para o Campeonato onde em anos recentes já deitou a perder as possibilidades de lutar pelo título – em dez encontros já feitos em casa, os leões somam nove triunfos e apenas um empate, sem golos, frente ao FC Porto. Ainda assim, e em vésperas de disputar o primeiro título oficial da temporada (para si, porque em agosto os dragões já venceram a Supertaça), nem tudo foram coisas boas e saíram dos próprios intérpretes verde e brancos esses avisos de que alguns aspetos terão de mudar.

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“Foi uma ​​​​partida difícil, complicada. O mais importante é a vitória. Não tenho palavras, temos de falar no balneário. Tivemos posse de bola na primeira parte mas na segunda não jogámos muito. Há um pouco de cansaço, de tudo. Jogamos de três em três dias e às vezes é difícil, como esta noite. Temos de recuperar bem porque temos muitos jogos importantes pela frente”, disse Mathieu na zona de entrevistas rápidas. “Começámos muito bem, marcámos cedo, fizemos o segundo e depois jogámos para marcar mais. Sofremos um golo e a equipa deixou de estar bem com a bola. Demos oportunidades ao Moreirense para jogar. Não jogámos bem na segunda parte, podíamos ter decidido o jogo. Os jogadores correram muito mas não estiveram bem na posse de bola. Se fizéssemos o 3-0 seria mais fácil para nós e podíamos mudar jogadores mas sofremos um golo e tudo mudou”, admitiu Mathieu, também na flash interview, depois do triunfo diante dos cónegos.

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Em termos coletivos, há processos que terão de ser revistos num Sporting que às vezes se perde entre as virtudes a atacar e os pecados quando chega à transição defensiva; no plano individual, continua a existir uma figura que se distingue das demais e assume cada vez maior protagonismo no plano de ação do técnico holandês: Bruno Fernandes, jogador que foi o terceiro maior investimento de sempre do Sporting (8,5 milhões de euros mais 500 mil em variáveis por 90% do passe) e que continua a justificar a aposta feita pelo clube no verão de 2017 para poder estrear-se na Primeira Liga após ter saído muito novo para Itália.

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Desde que Marcel Keizer chegou ao Sporting, o internacional português, que tinha marcado seis golos em 17 jogos (o que já é um registo assinalável para alguém que não é nem avançado nem ala), apontou dez golos em apenas 13 partidas a contar para o Campeonato (Rio Ave, dois ao Nacional e Moreirense), para a Taça de Portugal (Lusitano Vildemoinhos, Rio Ave e Feirense), Taça da Liga (Feirense) e Liga Europa (dois ao Qarabag). Com isso, o número 8 já tem tantos golos a meio de janeiro do que aqueles que alcançou em toda a época de 2017/18, a primeira de verde e branco (16). Que é, em paralelo, três vezes mais do que os melhores registos que alcançara em Itália, pela Sampdória e pela Udinese.

Em paralelo, e tendo em conta o apagão de Bas Dost nos últimos jogos (leva quatro partidas em branco, depois de uma série de 12 golos em sete encontros entre meio de novembro e final de dezembro), Bruno Fernandes juntou-se também ao holandês como o melhor marcador do Sporting na presente temporada, seguidos por Nani (nove) e Diaby (seis).

Desta forma, e recuperando os dados do Playmakerstats, o sub-capitão leonino tornou-se apenas o terceiro médio leonino a ter duas temporadas consecutivas a marcar 15 ou mais golos, depois de Fernando Peres (início dos anos 70) e Krassimir Balakov (década de 90). E fica com outro objetivo na mira: alcançar os 21 golos alcançados pelo mágico canhoto búlgaro que encantou Alvalade em 1994 e também por Osvaldo Silva (1963), brasileiro que passou por FC Porto e Leixões antes de chegar aos leões – fez parte da equipa que conquistou a Taça dos Vencedores das Taças – e que ficaria anos a fio como um dos símbolos da formação verde e branca no comandos dos infantis do clube depois de ser adjunto nos seniores.

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Apesar de toda a turbulência no seguimento do ataque à Academia em Alcochete a meio de maio, que levou o jogador a rescindir contrato quando já estava concentrado com a Seleção Nacional na Rússia para o Mundial, Bruno Fernandes acabou por voltar atrás depois da cobiça de outros clubes estrangeiros e nacionais e tornou-se o principal reforço dos leões a par de… Bas Dost. Em paralelo, e apesar de alguns assobios que chegou ainda a ouvir nos primeiros encontros depois do regresso, o médio assumiu o papel de sub-capitão de equipa e mostra-se cada vez mais um dos líderes de uma equipa em reconstrução.

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