O ex-ministro da Saúde do atual governo socialista, substituído em outubro por Marta Temido, lamenta não ter tido mais dinheiro para investir no setor, mas garante que continua a ser Centeno. Em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, Adalberto Campos Fernandes abordou os constrangimentos financeiros do setor: “Eu gostava muito de ter tido a sorte de ter feito muito mais investimento nestes três anos, de ter melhorado os hospitais”. O antigo ministro acrescenta que “foi e está a ser feito muito investimento, mas continua a ser claramente insuficiente”.
Para Adalberto Campos Fernandes “o que faz falta ao Serviço Nacional de Saúde é um choque de modernização” e que só com essa renovação será possível “atrair mais e melhores profissionais”. Sobre o que não fez e queria ter feito, o ex-governante volta a lamentar a falta de verbas: “Se eu voltasse atrás nestes três anos o que é que eu gostaria que tivesse acontecido? Gostava que tivesse tido mais recursos financeiros para que o tal Plano Marshall [que defende para o SNS] já tivesse começado”.
Colou-se à pele de Adalberto Campos Fernandes uma frase que disse no Parlamento, quando a oposição alegava que os ministros estavam de costas voltadas: “Somos todos Centeno”. Na entrevista ao DN e à TSF, o ex-ministro reitera: “Pode não ser muito popular, pode ser algo que não fica bem, mas eu dir-lhe-ia hoje, quatro meses depois de sair do governo, que continuo a ser não pelo Mário Centeno em concreto, mas adepto da ideia de que é preciso prevenir” um quarto resgate financeiro ao país.
Sobre as relações com Mário Centeno e António Costa após a saída do Governo, Adalberto Campos Fernandes não se alongou, dizendo que tem duas características que são comuns aos três: são “benfiquistas” e têm um “razoável sentido de humor”. Mas jurou fidelidade ao atual governo: “Portanto este, é o meu Governo. Eu sou membro do PS como é do conhecimento geral, faço parte da comissão política e mesmo que eu não fosse, este continuaria a ser o meu Governo”.
Quanto à saída, Adalberto Campos Fernandes conta que já antes de ser substituído tinha dito a António Costa que “talvez fosse bom haver uma saída e um refrescamento”, mas “ele tinha a prerrogativa, como tem qualquer primeiro-ministro, de escolher o momento em que o faria”. O antigo governante lembra que “a duração média de um ministro da Saúde em Portugal é relativamente baixa. O Paulo Macedo conseguiu fazer os quatro anos porque tinha aquele cimento que era a presença da troika em Portugal”. E acrescento: “[A Saúde] é uma pasta de muita intensidade política, de muito combate e, por vezes, o refrescamento não só traz uma melhor relação com o terreno, como traz também alguma frescura política que eu admito que se perde ao fim de três anos na Saúde”.