Os norte-americanos estão a criticar a performance dos Maroon 5 durante o intervalo da Super Bowl, a final da temporada 2018 na National Football League (NFL), a liga de futebol americano. Duas coisas estão a contribuir para as reações: o momento em que Adam Levine ficou de peito à mostra, já na reta final do espetáculo, para cantar “Moves Like Jagger”; e a falta de entusiasmo que alguns telespectadores detetaram no líder da banda.
Theory: They made this halftime this bad in order for the game to look good by comparison.
— (((Harry Enten))) (@ForecasterEnten) February 4, 2019
Comecemos pela primeira. O espetáculo dos Maroon 5 começou com a banda em cima de um palco com o formato de “M” e com uma viagem ao passado: primeiro interpretaram “Harder to Breathe” e depois “This Love”, duas canções lançadas em 2002, no mesmo ano em que os Patriots e os Rams se tinham encontrado tal como aconteceu nesta edição do Super Bowl.
Nesse momento, Adam Levine ainda estava completamente vestido com uma t-shirt e dois casacos: um preto com duas listas coloridas e outro com a palavra “ATLiens” no centro — o segundo álbum de estúdio que os Outkast, que haviam de aparecer no espetáculo, lançaram em 1996. O problema é que, à medida que o concerto avançava, Adam Levine ia despindo uma peça de roupa numa espécie de “Flip, Sip or Strip” em que jogava sozinho.
Adam Levine redefined mailing it in. Holy crap. Start to finish it was awful.
— Jeremy White ???? (@JeremyWGR) February 4, 2019
Ora, a estratégia, embora tenha arrancado gritos às adolescentes que compunham o público e tenha motivado alguns esforços hercúleos para tocar nos abdominais do cantor, não caiu bem a quem viu o concerto a partir de casa. Houve até quem apontasse o dedo à CBS, a cadeia de televisão norte-americana responsável pela transmissão do evento, recordando a vez em que o peito nu de Janet Jackson foi retirado do ecrã por atentado ao pudor.
Dessa vez, a irmã de Michael Jackson atuava com Justin Timberlake quando o cantor tocou na roupa da artista e revelou um dos seios de Janet Jackson. Isso aconteceu em 2004, mas desde então a transmissão do Super Bowl é atrasada em alguns segundos para evitar que outra situação embaraçosa volte a protagonizar o evento desportivo mais ansiado dos Estados Unidos. É por isso que os internautas se questionam porque é que a mesma censura não foi aplicada à nudez parcial de Adam Levine.
https://twitter.com/robfee/status/1092232089364180992
A segunda fonte de críticas é aquilo a que os internautas identificam como falta de vivacidade por parte de Adam Levine. O vocalista dos Maroon 5 não conseguiu conquistar o público, nem quando atirou o casaco para a plateia ao cantar “Sugar” nem quando se ajoelhou pronto a interpretar “Moves Like Jagger”. E a presença de Travis Scott, de Big Boi e de Sleepy Brown — que juntos cantaram “The Way You Move” dos Outkast — não acalmou os críticos, que comparam Adam Levine “a um pai perdido à espera do filho numa festa de secundário”, como descreveu o The Guardian.
Ainda assim, o espetáculo ao intervalo do Super Bowl não foi completamente ruinoso. E não o foi por causa, em primeiro lugar, da homenagem feita pelos produtores do evento a Stephen Hillenburg, o criador de SpongeBob SquarePants que morreu em novembro de 2018. Ainda antes de Travis Scott ter entrado em palco, e de modo a satisfazer os pedidos dos norte-americanos, uma cena do desenho animado amarelo surgiu nos ecrãs de televisão ao som de “Sweet Victory”.
Depois veio o outro momento inesperado da noite: afinal, essa homenagem protagonizada por Sponge Bob era um mote para abrir as portas do palco ao rapper Travis Scott, que graças aos efeitos especiais parecia ter vindo a bordo de um meteorito em chamas que caiu em cima do palco dos Maroon 5. Outra entrada épica em palco foi a de Big Boi, que, aconchegado por um gigante casaco de pelo, entrou em campo dentro de um Cadillac.
Mas quem realmente salvou o espetáculo dos Maroon 5 foi o grupo de gospel que a banda chamou para substituir Cardi B, que confirmou oficialmente este domingo ter recusado um convite para atuar no Super Bowl, de modo a mostrar solidariedade com o quarterback Colin Kaepernick. Ao cantar “Girls Like You”, uma poderosa voz saiu do coro para dar embalo à canção. E isso, sim, resultou.
Entretanto, Adam Levine já respondeu aos críticos através do Instagram. Numa publicação com duas fotografias do concerto, o vocalista dos Maroon 5 agradeceu por esta “oportunidade histórica” e diz que os comentários, bons ou maus, são sempre bem-vindos: “Quando aceitámos a responsabilidade de nos apresentarmos no Super Bowl Halftime Show, peguei na minha caneta e comecei simplesmente a escrever. Algumas das palavras que chegaram até mim naquele momento acabaram por chegar às incríveis lanternas que voavam hoje à noite. Agradecemos ao universo por esta oportunidade histórica de tocar no maior palco do mundo. Agradecemos aos nossos fãs por tornarem os nossos sonhos possíveis. E agradecemos aos nossos críticos por sempre nos obrigarem a fazer melhor”, diz o texto.
A seguir, Adam Levine enumera todas as palavras que estavam nas lanternas: “Perdoar, rir, chorar, sorrir, partilhar, viver, suportar, abraçar, recordar, sublinhar, preservar, inspirar, transpirar, lutar, expressar, dar, receber, elevar, trepar, unificar, fortalecer, suavizar, dançar, gritar, sonhar, educar, providenciar, inalar, exalar, perseverança, ficar, ajoelhar, ultrapassar, amar, ouvir”.
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O patriotismo norte-americano (com batota?)
Cento e vinte e um segundos. Gladys Knight, a “Imperatriz do Soul“, natural de Atlanta, precisou de dois minutos e um segundo para cantar “The Star-Spangled Banner”, o hino dos Estados Unidos. Por melhor que tenha corrido, há muitos norte-americanos desiludidos neste momento: nas casas de apostas, a maior parte dos jogadores diziam que o hino seria interpretado num minuto e 45 segundos. Gladys Knight fintou-os e acrescentou 16 segundos.
Gladys Knight não bateu recordes: esse continua a pertencer a Alicia Keys, que precisou de 2 minutos e 15 segundos para cantar o hino. Mas inflamou uma controvérsia. A cantora disse a palavra “brave” — que em português significa “valente” e que surge no último verso do hino — duas vezes, fazendo aumentar a duração da performance.
E porque é que isso é importante? Porque pode ser uma manobra para contornar as casas de apostas, já que a maior parte dos investidores apostou que o concerto duraria um minuto e 50 segundos. A controvérsia ainda se adensa mais porque, retirando o tempo de que Gladys Knight precisou para repetir aquela palavra, o atuação resume-se a apenas a um minuto e 49 segundos de duração.
Atrás da artista estavam dez homens, todos munidos de tambores e instrumentos de sopro, bandeiras e espingardas. Pertenciam aos Colour Guards, uma organização militar que na tradição dos Estados Unidos são responsáveis por proteger e exibir os símbolos do país. Em Portugal, essa função é desempenhada ora pela Marinha, ora pela Força Aérea ou então pela Guarda Nacional Republicana (GNR). Lá, assim como no Reino Unido, por exemplo, há um destacamento militar apenas para isso.
Além da companhia dos Colour Guards, a interpretação de Gladys Knight também foi enriquecida pela passagem de seis Thunderbirds da Força Aérea dos Estados Unidos. Os aviões levantaram voo da Base Aérea de Nellis, Nevada, para rasgar o céu de Atlanta mesmo por cima da cúpula do Estádio Mercedes-Benz. Para trás deixaram seis rastos brancos para enfatizar o hino norte-americano no último verso cantado por Gladys Knight: “E a bandeira estrelada em triunfo tremulará sobre a terra dos livres e o lar dos valentes”.
Com batota ou não, o espetáculo emocionou os atletas. Uns ficaram de olhos pregados ao céu, outros fixaram o olhar na cantora de 74 anos, alguns levaram a mão ao peito em sinal de respeito pelo hino norte-americano. Ninguém se ajoelhou, como o quarterback Colin Kaepernick tinha feito durante a temporada 2016 da NFL. Nem podiam: as novas regras dizem que os jogadores devem ficar de pé durante a entoação do hino. A única forma de protesto permitida é ficar no balneário até que ele acabe. Caso contrário serão multados.
Mas Gladys Knight não foi a única a agradar as dezenas de milhares de pessoas no Estádio Mercedes-Benz. Ainda antes de a famosa cantora de soul ter entrado em campo, as irmãs Chloe Bailey e Halle Bailey, do grupo Chloe x Halle, estiveram a interpretar “America the Beautiful”. É parte da tradição. Essa é uma canção patriótica norte-americana composta por Samuel A. Ward em 1883 e escrita por Katharine Lee Bates doze anos mais tarde.
Os primeiros cheerleaders homens
O outro foco das atenções não estava de microfone em punho nem de capacete enfiado. Estava nas laterais do campo do Estádio Mercedes-Benz, entre as raparigas de minissaia às pregas e pompons prateados. Quinton Peron e Napoleon Jinnies tornaram-se este domingo nos primeiros homens da história a participar enquanto cheerleaders num Super Bowl. Na verdade, em toda a NFL só há mais um homem nesse lado do espetáculo.
Este é um passo importante na luta pela igualdade de género, principalmente tendo em conta que o cheerleading começou como um desporto reservado exclusivamente para os homens. Isso acontecia porque essa prática começou nas universidades quando o ensino superior ainda era ocupado praticamente apenas por homens. E depois porque se julgava que o cheerleading tornava as mulheres “demasiado masculinas”.
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As coisas mudaram com as duas guerras mundiais porque os homens foram chamados para a guerra e as mulheres tiveram de substituir os lugares deles. Aconteceu nas fábricas, mas também nos desportos universitários. A partir daí, o cheerleading transformou-se em algo além de uma prática desportiva: num entretenimento. Foi reformulado para tornar os uniformes mais sexuais e os números mais graciosos. Agora, dois homens querem tentar reequilibrar o cheerleading. E começaram a fazê-lo esta madrugada.