Um grupo de reclusos da cadeia de Paços de Ferreira transmitiu em direto, através do Facebook, a festa de aniversário de um traficante de droga, noticiou o Correio da Manhã. O vídeo de 40 minutos, divulgado pela SIC e entretanto posto no Youtube, foi filmado este sábado na ala A da prisão através de um telemóvel. As imagens mostram um grupo de reclusos a dançar e a comer um bolo de aniversário. A Direção-Geral dos Serviços Prisionais disse ao Correio da Manhã que foi instaurado “um inquérito interno, a cargo do Serviço de Auditoria e Inspeção, e coordenado por um procurador”.

Entretanto, o Diário de Notícias avança que o magistrado do Ministério Público que coordena o Serviço de Auditoria e Inspeção do Norte da Direção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais já esteve no estabelecimento prisional este domingo para o arranque da investigação.

A festa de aniversário começou às duas da tarde de sábado e terminou uma hora e meia mais tarde. Esse é o período de visitas na cadeia de Paços de Ferreira e, apesar de este ser um estabelecimento prisional de alta segurança destinado a reclusos perigosos, a essa hora só há dois guardas de serviço na ala A, onde estão cerca de 400 reclusos. Foi assim que os reclusos conseguiram aproveitar a abertura das celas para montar mesas no corredor da prisão. Ainda assim, conseguiram escapar ao olhar dos guardas prisionais.

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“Naquela ala, a ala A de Paços de Ferreira, estavam quatro guardas, sendo que àquela hora, um dos guardas estava no parlatório a acompanhar as visitas, o outro guarda estava a revistar os reclusos na saída para a visita, e, depois, no regresso ao pavilhão, e o terceiro guarda, ao que parece, estava com a brigada de reclusos a fazer a recolha do lixo. Portanto, isto fez com que só estivesse um guarda na ala para 374 reclusos”, disse Jorge Alves, do sindicato nacional do corpo da guarda prisional, em declarações à SIC.

Sindicato dos guardas prisionais queixa-se de falta de pessoal

Em declarações aquela estação de televisão, Jorge Alves queixa-se de falta de pessoal, que motiva a falta de controlo de bens nas prisões, assim como se queixa de medo dos reclusos. “Há guardas que são alvo de ameaças por parte dos reclusos, através de publicações nas redes sociais, por terem sido repreendidos ou por lhes ter sido apreendida droga ou telemóveis”, conta.

“É lamentável, mas isto efetivamente acontece. Por um lado, porque retiram os guardas da zona prisional onde efetivamente deviam estar, por outro lado, os reclusos estão tão à vontade que fazem o que querem na zona prisional, porque, além de não ter guardas, sentem que não são sancionados por estas questões”, acrescentou ainda.

O aniversariante era um traficante de droga que celebrava 41 anos e que mantém um perfil no Facebook, onde publica regularmente. O homem foi entretanto transferido para a cadeia de Vale de Judeus, avança o Correio da Manhã. Apesar de a utilização de telemóveis ser proibida dentro das cadeias, o vídeo mostra vários reclusos a utilizarem um. Todos aparecem a comer, a beber, a fumar e a jogar cartas. Nenhum guarda prisional surge na filmagem que está a ser investigada.

Em junho de 2016, vários vídeos publicados no Facebook mostravam também dezenas de reclusos do Estabelecimento Prisional de Sintra numa festa com pizza, música, charros e o que aparentavam ser notas de 500 euros. Também essa festa foi filmada com telemóveis e aconteceu numa das salas de convívio da prisão. O aniversariante era “um recluso famoso por aqueles lados”, disse um guarda prisional ao Jornal de Notícias. Todas as imagens foram publicadas em perfis de Facebook de pessoas que estão presas na cadeia.

Também nessa altura, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais disse que o caso estava a ser investigado: “Está a decorrer processo de inquérito a esta situação, bem como à da utilização de telemóveis por reclusos, o que não é permitido”. E acrescenta que as notas de 500 euros que aparecem nas imagens “correspondem a fotocópias que se encontram apreendidas, estando os reclusos envolvidos a ser objeto de processo disciplinar”.

Em resposta a essa festa na prisão de Sintra, Francisca Van Dunem garantiu que tudo não passava de um “epifenómeno” e que aquele não era “o ambiente natural” dentro do estabelecimento prisional. A ministra da Justiça desvalorizou o caso: “Não haverá catástrofe. As pessoas serão colocadas”. Mas dois anos depois, o caso repetiu-se, desta vez no distrito do Porto.

*artigo atualizado segunda-feira, dia 11 de fevereiro, pelas 12h50, com imagens da festa dos reclusos de Paços de Ferreira e com declarações do sindicato nacional do corpo da guarda prisional.