A Noite Imóvel, Luís Quintais, é o livro vencedor do Prémio Casino da Póvoa, atribuído anualmente durante o Correntes d’Escritas. O anúncio foi feito esta terça-feira na cerimónia de abertura do mais antigo festival literário do país. A decisão, tomada “por maioria” pelo júri nesta segunda-feira, teve por base a “qualidade da escrita, a coerência das propostas e a exemplaridade dos conceitos” da obra publicada pela Assírio & Alvim em fevereiro de 2017.

Luís Quintais nasceu em 1968, em Angola. É antropólogo, poeta, ensaísta e professor no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra. Venceu os prémios Pen Clube de Poesia, Luís Miguel Nava (categoria de Poesia) e Teixeira de Pascoaes APE/C.M. de Amarante. Com a obra vencedora do Prémio Correntes d’Escritas foi também nomeado para o Prémio Oceanos, tendo ficado em terceiro lugar. O seu último livro de poesia, Agon, saiu em outubro do ano passado, também pela Assírio & Alvim.

Em comunicado, a editora congratulou-se “com a atribuição do Prémio Literário Casino da Póvoa a Luís Quintais, expressando também o orgulho em ver, entre os finalistas deste prémio”, obras de autores publicados na Assírio & Alvim. Luís Quintais era um dos 12 finalistas do prémio. Além dele, estavam nomeados os escritores Adília Lopes, José Alberto Oliveira, Gastão Cruz, Golgona Anghel, João Rios, Daniel Jonas, José Luís Tavares, Inês Fonseca Santos, Rosa Oliveira, José Tolentino Mendonça e Luís Carmelo.

Em A Noite Imóvel, Luís Quintais “convida”, segundo a sinopse disponibilizada pela Assírio & Alvim, os leitores a percorrerem “cenários de vazio e de destruição, de ecos e de sombras, luzes ténues e memórias turvas, questionando a possibilidade de encontrar uma inaudita beleza nos escombros deste nosso tempo”. O autor vai estar na Póvoa de Varzim, no sábado, para receber o prémio, que será entregue durante a cerimónia de encerramento.

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O júri do Prémio Casino da Póvoa deste ano foi constituído por Ana Paula Tavares, Almeida Faria, José António Gomes, Maria Quintans e Marta Bernardes. O galardão destina-se a premiar anualmente a uma obra em língua portuguesa, editada em Portugal, e escrita por um autor de língua portuguesa ou castelhana/hispânica. É atribuído nos anos pares a uma novela ou romance e nos anos ímpares a poesia. No ano passado, o vencedor foi o romance A forma das ruínas, do columbiano Juan Gabriel Vásquez.

Escola básica de Armamar premiada com Prémio Correntes d’Escritas Porto Editora

Além do Correntes d’Escritas, foram anunciados os vencedores dos outros três galardões do festival literário da Póvoa de Varzim. O Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora, que como o próprio nome indica se destina a um conto infantil ilustrado inédito escrito por uma turma ou aluno que frequente o 4.º ano de escolaridade, galardoou as seguintes instituições de ensino:

  • 1.º lugar: “A Caixa”, do 4.º A da Escola Básica José Manuel Durão Barroso, de Armamar;
  • 2.º lugar: “Bingo e Mingo”, do 4.º D da EB Padre Manuel de Castro, de S. Mamede Infesta;
  • 3.º lugar: “A Odisseia da Gotinha de Água”, da Escola Básica de Âncora;

As menções honrosas foram atribuídas a:

  • Na categoria de Texto: “O Poema que quer nascer”, do 4.º B da Escola Básica José Manuel Durão Barroso, de Armamar; “O Palhinhas nos caminhos de Santiago”, da turma 3.º/4.º anos da Escola Báscia de Gamil, em Barcelinhos; e “Snowman”, do 4.º B da Escola Básica/Jardim de Infância Bela Vista, de Fânzeres.
  • Na categoria de Ilustração: “O Grande Salvamento”, do 4.º T da Escola Básica de Touria, em Leiria; “Alerta Vermelho no Oceano” do 4.º ano da Escola Básica de Rates da Póvoa de Varzim; e “A Viagem das Disciplinas” do 4.º A do Colégio Nossa Senhora da Esperança do Porto.

Já o Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus, atribuído todos os anos a um conto ou poema inéditos de um jovem entre os 15 e os 18 anos, galardoou “por unanimidade” ao poema “Renascer”, de Cláudia Alexandra Salgado Fernandes, que concorreu com o pseudónimo de Ema Norberto.

O vencedor do prémio literário Fundação Dr. Luís Rainha, que  tem como objetivo premiar uma obra (romance, conto ou poesia) nunca antes publicada sobre a Póvoa de Varzim, foi para Toda a Água que Nos Une, de Ana Paula Morais Mateus, que concorreu com o pseudónimo de Clara Monjardim. No âmbito deste galardão, foram ainda atribuídas duas menções honrosas a Ode a Póvoa de Varzim, de Maria Isabel Pereira (com o pseudónimo J. Rosa), e O ‘Mártele’ São Sebastião e o Moço Poveiro, de António Rui e Silva (com o pseudónimo Cidadão).

Todos estes prémios serão entregues na cerimónia de encerramento do festival literário, no domingo.

Nélida Piñon: “Amar a literatura é amar a dignidade humana”

A escritora brasileira Nélida Piñon é a homenageada da última edição da Revista Correntes d’Escritas, que vai já no número 18. Consagrada “em capa de revista”, foi “consagrada sem capa de revista há muito tempo”, segundo as palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Nélida Piñon subiu ao palco do Casino da Póvoa, onde decorreu esta terça-feira a cerimónia de abertura do festival literário, para “abraçar” a Póvoa de Varzim, localidade que se transformou numa “entidade mítica”, símbolo de Portugal. “Chegamos como filhos da cultura, escritores e leitores, trazendo as benesses, interpretando a discórdia, porque a cultura semeia discórdia”, que também “faz parte da democracia”, começou por dizer a autora.

“Aqui chegamos trazendo a nossa historia, livros e sobretudo sintetizando a paixão pela literatura. Amar a literatura é amar a dignidade humana. Encarnamos o humanismo, que lutamos para preservar”, afirmou Piñon. “Quando trazemos a nossa biografia, os nossos livros, a nossas palavras e, quem fala a língua portuguesa, a paixão por essa língua, que tem uma majestade”, disse ainda a escritora, acrescentando que o português tem “uma categoria moral e estética que atravessa todos os tempos”.

Referindo que nesta edição se celebram os 20 anos do Correntes d’Escritas, Piñon apontou que a Póvoa de Varzim “tem uma biografia maravilhosa porque abarca a história literária”. “Muitos poucos festivais conseguiam sobreviver tantos anos. Isso significa o empenho da comunidade e mostra que Portugal está preparado para acolher todos os pensamentos, todas as correntes estéticas. Aqui todos nos temos representatividade, todos somos simbólicos.”

Descrevendo-se como “essa brasileira que ama Portugal profundamente”, Nélida Piñon terminou lembrando que “escrever é muito difícil” e que é um “ofício que requer paixão, amor, nobre”. “Nóss, os escritores, somos a nobreza de cada pais.”

Marcelo Rebelo de Sousa admite condecorar Manuela Ribeiro, uma das responsáveis pela organização do festival

O Presidente da República admitiu condecorar, no futuro, Manuela Ribeiro, diretora da revista Correntes d’Escritas e uma das responsáveis pela organização do festival literário. No discurso que fez na cerimónia de abertura do Correntes d’Escritas, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o trabalho incansável de Manuela Ribeiro, “uma força da natureza que, como a canção, deixa em cada esquina um amigo”. Mas, como “há certas convenções que se devem representar, a homenagem será feita no Palácio de Belém”, em Lisboa, brincou.

Marcelo, que encerrou a cerimónia de abertura, lembrou todas a vezes que passou pelo festival literário, que convoca no seu “espírito três ideias essenciais: memória, gratidão e recriação no futuro”. “Memoria das três outras vezes que partilhei convosco este inesquecível de encontro fraternal e caloroso. A primeira, no inicio do século, em 2004, discretamente, numa ocasião em que estas Correntes arrancavam, se faziam, se institucionalizavam. Era uma realidade ainda em afirmação. A segunda memória é de estar com Maria Flor Pedroso, falando sobre os livros das nossas vidas, coincidindo já com a vossa patente projeção interna e internacional”, recordou o Presidente, lembrando que era também nessa altura que costumava apresentar, semanalmente na TVI, o que de melhor se publicava em Portugal, “preferencialmente de autores portugueses”.

A terceira “vinda” aconteceu quando Marcelo Rebelo de Sousa “não tinha ainda terminado um ano de mandato, quando se começava a equacionar” o futuro do Correntes “num tempo muitíssimo diferente em que tinha testemunhado” o arranque do festival. “Nesse inicio de 2017, visava confirmar que ninguém muda no essencial do que é e confirmar a mesma aposta no livro que tem presidido a minha vida como cidadão e agora como Presidente da República.” É nesse sentido que Marcelo admite continuar a organizar, no Palácio de Belém, a Feira do Livro, e continuar o “combate pela edição e pelas editoras, pela biblioteca e as livrarias”, e também “pelos livros, pela sua difusão pelos territórios desiguais por que se fazem diversos Portugais”.

Já perto do final do seu discurso, Marcelo lembrou que “escrever é viver várias vezes, tantas quanto a saga de quem escreve e de quem lê, de quem vê”.

Ministra da Cultura aponta sucesso do Correntes d’Escritas. Presidente de Cabo Verde diz que os escritores salvam vidas

A ministra da Cultura lembrou que o Correntes d’Escritas tem contribuído para a comunicação entre as diferentes expressões ibéricas, ao mesmo tempo que tem realçado “o que é próprio de cada uma das nossas culturas”. “Cultura é identidade mas é também permitir o silêncio para que seja possível ouvir o outro. É dar lugar a diferença”, afirmou Graça Fonseca, salientando que o festival literário da Póvoa de Varzim tem precisamente dado “diversidade à cultura, ultrapassando as fronteiras da geografia, dos idiomas, [as fronteiras] socio-económicas e do género”. “Aqui celebra se a palavra contra o analfabetismo agressivo, abre-se um espaço para se ouvir os outros”, disse.

Graça Fonseca considerou ainda que o sucesso de um evento como o Correntes d’Escritas não se mede apenas pelos números, “mas pelo impacto que estes dias e estes participantes podem e devem ter na nossa vida pessoal”. Numa altura em que se assinalam os 20 anos do festival literário, a ministra desejou que os efeitos do evento “se sintam bem para lá dele” e que o futuro “signifique mais e melhores leitores” e “maior expressão geográfica”

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde, atualmente à frente da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP), deixou quase todas as palavras para a tarde, quando fará a conferência de abertura,  sobre “As Letras da Língua e a Mobilidade dos Criadores na CPLP”. Mas aproveitou o espaço que lhe foi dado no palco do Casino da Póvoa para lembrar o papel fundamental dos escritores, que salvam vidas. “[Devemos estar] gratos aos escritores, à gente das letras porque com eles sabemos que há uma corrente enorme que nos faz ter a convicção, a certeza, de que o nosso mundo está salvo”, declarou.

Autarca da Póvoa de Varzim lembra que Brexit pode ser uma oportunidade para a língua portuguesa

Aires Henrique do Couto Pereira, num discurso virado para a importância da palavra e da língua portuguesa no mundo, um tema que será abordado durante a tarde desta terça-feira pelo presidente da CPLP, Jorge Carlos Fonseca, apontou que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) pode representar “uma rara oportunidade de promoção internacional” do português, uma vez que o inglês deixará de ser, segundo o presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, a língua de comunicação no âmbito da UE.

O Observador viajou até à Póvoa de Varzim a convite do Correntes d’Escritas