O comentador político e antigo presidente do PSD, Luís Marques Mendes, disse este domingo que o Governo recuou na decisão de negociar com os enfermeiros, professores e juízes porque se “assustou” com o impacto que os conflitos com estes setores estava a ter nas sondagens. No seu espaço semanal na SIC, Marques Mendes afirmou que só as conversações com os enfermeiros podem ter algum sucesso, mas antecipou que as cedências do Governo vão ser poucas. Isto porque Mário Centeno quer “fazer um brilharete” para apresentar como trunfo eleitoral: apresentar “défice zero ou mesmo superávite no fim de junho“.

Mendes enumera as razões que levaram o Governo a mudar de estratégia: “Porquê esta mudança? O Governo se assustou. Estava a ficar assustado. Assustado com a greve de fome de um enfermeiro. É um ato de desespero que, a prazo, se podia virar contra o Governo. Assustado, no caso da ADSE, com os funcionários públicos, que são a sua base de apoio eleitoral. E assustou-se sobretudo com as sondagens. As greves não matam, mas moem, criam desgaste e isso vê-se nas sondagens“.

O comentador tem, no entanto, dúvidas se as negociações são para chegar a bom porto ou para inglês ver, já que Mário Centeno já veio, em declarações ao Expresso, dizer que não havia margem para aumentar a despesa. A única negociação que Mendes está a ver que “dê alguma coisa” é com os enfermeiros “porque ambas as partes têm interesse“, já que “os próprios enfermeiros já estão a ver que podem ter ido um pouco longe de mais”. Por isso antecipa uma “saída airosa” para ambos os lados da barricada. De resto, as expectativas não são boas.

Centeno faz pré-aviso a enfermeiros e professores: “Não há margem para mais despesa”

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Mendes lembra que o executivo de Costa é um “Governo bicéfalo”: composto por Centeno e Costa. “Um veio fazer de polícia bom, outro de polícia mau. E isso mostra que não vai haver grandes cedências”, afirma o comentador. E acrescenta porquê: “Primeiro: porque a economia está a cair, logo haverá menos receita (…) Depois: porque o Ministro das Finanças quer fazer um brilharete para efeitos eleitorais. Ele quer fazer brilharete, quer chegar ao fim do primeiro semestre deste ano, no fim de Junho, com o défice a zero ou até com um superávite. Assim sendo, não há dinheiro para tudo. Para enfermeiros, professores, magistrados e outros grupos profissionais. [Centeno] precisa de cortar, poupar e não abrir cordões à bolsa.”

Sobre a moção de censura, Marques Mendes viu um “debate cheio de contradições”, no qual destacou que o “PSD que votou a favor, mas disse que a moção era inoportuna e um tiro de pólvora seca”. A moção, segundo Mendes foi “boa para Assunção Cristas, que teve palco, teve uma semana como líder da oposição e mobilizou o seu núcleo duro eleitoral para as europeias”. Para o comentador o desfecho também “foi bom para António Costa“, já que “mostrou que a coligação está sólida” e “permitiu-lhe criticar o passado, unindo e mobilizando as suas tropas”.

Sobre o PSD, Mendes disse ainda que o partido teve “uma prestação pobrezinha no debate”, que considerou ser “irrelevante para PCP e BE, que “fizeram de governo e oposição ao mesmo tempo”. Mendes viu ainda sinais de “hipocrisia política”, já que o CDS disse que “pretendia antecipar as eleições” e o Governo, por outro lado, disse que as queria realizar “no prazo normal”. Ora, para Mendes, não há “nada de mais hipócrita: o CDS e o PSD, se pudessem, adiavam as eleições para 2020 porque o ciclo está a correr mal ao governo e, portanto, convinha adiar”. Mendes diz que “todos os meses o PS está a perder votos” e que por isso, se pudesse Costa ia já para eleições.

Sobre as eleições Europeias, Mendes fez uma análise daquilo que deve ser o objetivo de cada partido. Para o comentador, “o PS precisa de ganhar as eleições e ganhar com folga” porque estas vão ser “uma espécie de primárias das legislativas”. Para Mendes o PS precisa de ganhar porque o escrutínio vai ser uma “espécie de referendo ao Governo” e precisa de ganhar por muito porque o próprio Costa disse há cinco anos que a vitória foi por “poucochinho”.

Já o PSD, no entender de Mendes, “precisa de ganhar ou perder por pouco“. Isto porque, “se não ganha ou se perde por uma diferença grande, parte completamente derrotado para as legislativas”. Mendes acredita, ainda assim, que as eleições são mais fáceis para o PSD do que as legislativas.

Quanto ao CDS, Mendes diz que “precisa de crescer” e de eleger, pelo menos, “mais um deputado”. Já o PCP tem uma tarefa difícil para repetir o resultado de há cinco anos (em que conseguiu três eurodeputados), mas “tem duas coisas a seu favor: uma grande abstenção e os recentes ataques a Jerónimo”. Estes são dois fatores que, segundo Mendes, favorecem a mobilização do eleitorado do PCP.

Mendes disse ainda que o Bloco “precisa de subir” e que tem “uma boa cabeça de lista”, mas lembra que “para o Bloco as legislativas são mais fáceis que as europeias”. O antigo líder do PSD disse ainda que “o Aliança precisa de eleger um deputado”, uma vez que “se não elege ninguém, é visto como um flop“.

O antigo líder falou ainda do desafio de Santana Lopes para uma coligação pré-eleitoral de centro-direita entre PSD, CDS e Aliança, já recusada por Rio e Cristas. “Percebe-se a iniciativa de Santana Lopes, mas também se compreende a posição de Cristas e Rio de não terem essa estratégia”, comentou.