13 vítimas: 11 mulheres, uma bebé de dois anos e um homem. O número de pessoas assassinadas em contexto de violência doméstica em pouco mais de dois meses, desde o início deste ano, tem disparado. O último caso aconteceu esta quarta-feira em Vieira do Minho.

No dia em que se assinala pela primeira vez luto nacional pelas vítimas de violência doméstica, os números registados até agora mostram um início de um ano trágico. E apontam para valores que podem chegar ou ultrapassar os dos anos anteriores. Segundo o Observatório de Mulheres Assassinadas, o ano de 2018 registou 28 assassinatos de mulheres, vítimas de violência em contexto doméstico. Em 2017, foram 20. Este ano já são 11 (sem contar com a bebé de dois anos), quase metade do número de mulheres assassinadas no ano passado e mais de metade em relação ao ano todo de 2017.

Estes são, no entanto, apenas os casos que foram noticiados ou divulgados. E vários não apresentaram queixa às autoridades. Entre os que fizeram, os dados continuam a ser preocupantes: em 2018, a PSP e a GNR receberam mais de 26 mil queixas de violência doméstica. 79% eram mulheres e 83,5% dos alegados agressores eram homens. Ao todo, foram detidos 803 suspeitos no ano passado, mais 14% em relação a 2017.

PSP e GNR receberam mais de 26 mil queixas de violência doméstica em 2018

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Dos casos de assassinato deste ano, grande parte das vítimas foram mortas por maridos, namorados ou ex-companheiros. Há também casos em que os agressores foram familiares próximos, como pais, cunhados e genros. Num dos casos, em Santarém, ainda não há qualquer informação sobre o suspeito. Conheça as vítimas e as suas histórias.

Lúcia Rodrigues, 48 anos, Lagoa

5 janeiro

Lúcia Rodrigues, de 48 anos, trabalhava nas limpezas e estava numa relação com Nuno Guerreiro, de 42 anos. Segundo o Correio da Manhã, nenhum dos amigos ou pessoas da família sabia que o casal tinha problemas. No dia 5 de janeiro deste ano, os corpos de ambos foram encontrados junto à porta da sua casa em Lagoa, no Algarve, onde viviam há cerca de um ano. Lúcia foi morta com um tiro de caçadeira pelo companheiro que, de seguida, se suicidou. Deixou duas filhas, fruto de um relacionamento anterior. Os ciúmes doentios estarão na origem do crime.

Mulher não identificada, 46 anos, ilha Terceira

7 janeiro

Tudo aconteceu por causa da disputa de uma casa na ilha Terceira, nos Açores, que pertencia a uma idosa. Quando essa idosa morreu, foi o filho e a companheira que ficaram com a habitação, mas o homem foi preso algum tempo depois e havia um novo interessado na casa: o seu irmão. A cunhada quis continuar a viver na habitação e, na madrugada do dia 7 de janeiro, o homem, juntamente com um amigo, arrombou o portão exterior da casa, entrando de seguida por uma janela. Depois, surpreendeu a mulher de 46 anos e espancou-a. A vítima sofreu um traumatismo craniano e uma hemorragia e morreu no hospital, não resistindo aos ferimentos. Os dois homens, com 24 e 52 anos, ambos desempregados, já estavam referenciados pela polícia.

Vera Silva, 30 anos, Almada

11 janeiro

A 11 de janeiro de 2019, Vera Silva, de 30 anos, foi brutalmente espancada ao soco e pontapé na sua residência, no Bairro Cor de Rosa, em Almada. Vera, que era proprietária de uma loja, ainda conseguiu arrastar-se até às escadas do seu prédio para pedir ajuda, tendo sido uma vizinha que ouviu os seus berros a dar o alerta às autoridades. Os ferimentos eram tão graves que Vera estava quase irreconhecível.

A vítima ainda foi transportada para o Hospital Garcia de Orta, mas acabou por morrer algum tempo depois. A autópsia concluiu que a causa da morte foi a falência do baço, provocada pela extrema violência de que foi alvoO agressor ou agressores ainda não foram detidos. A Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal suspeita ter-se tratado de um crime passional.

Maria Rosado 83 anos e Luzia Rosado, 80 anos, Alandroal

11 janeiro

Maria Eufrázia Rosado, de 83 anos, e a irmã Luzia Rosado, de 80, foram mortas a tiro por Joaquim Risso, o marido de Maria, durante uma discussão entre os três sobre a matança do porco no Alandroal, distrito de Évora. O homem matou as duas irmãs a 11 de janeiro com quatro tiros tendo, de seguida, ligado para a GNR a pedir ajuda. Quando as autoridades chegaram à residência, encontraram os corpos das duas mulheres, bem como Joaquim inconsciente, depois de se ter tentado suicidar. Ainda foi transportado com vida para o hospital, mas acabou por morrer horas depois.

O casal tinha um filho e costumava passar muito tempo com a cunhada, tendo até viajado em conjunto.

Fernanda, 71 anos, Oeiras

17 janeiro

Fernanda, de 71 anos, e Rogério, de 72 anos, foram encontrados mortos em casa pela sua filha no dia 17 de janeiro no Dafundo, em Oeiras. A mulher estava sem vida no sofá, enquanto o marido estava morto junto a uma caçadeira. Por volta das 16h do mesmo dia, a filha do casal deu o alerta às autoridades, que suspeitam ter-se tratado de homicídio, seguido de suicídio, levado a cabo pelo marido de Fernanda. 

O casal, que residia em Oeiras há cerca de 40 anos, discutia com frequência e tinha três filhos. Durante alguns anos, conta o Correio da Manhã, foram proprietários de uma mercearia que fechou recentemente. Fernanda estava reformada.

Casal de idosos encontrado morto em casa no Dafundo em Oeiras

Lúcia Oliveira, 48 anos, Santarém

27 janeiro

Foi por volta das 23h30 do dia 27 de janeiro que o corpo de Lúcia Oliveira, de 48 anos, foi encontrado numa residência na travessa das Frigideiras, em Santarém, num cenário de violência extrema: foi espancada e degolada. A mulher de nacionalidade brasileira foi violentamente agredida depois de alguém ter arrombado a portas. A vítima residia naquele local com os dois filhos há cerca de dez anos e usaria a casa para a prática de prostituição. Era casada há cinco anos com um português que estava a trabalhar no estrangeiro. A Polícia de Segurança Pública (PSP) ainda não identificou o suspeito.

Marina Mendes, 25 anos, Moimenta da Beira

31 janeiro

Foi a irmã de Marina Fernandes, de 25 anos, que a encontrou morta na sua residência em Moimenta da Beira, no distrito de Viseu, por volta das 8h10 do dia 31 de janeiro. O corpo da vítima estava à entrada da casa e apresentava ferimentos profundos nas zonas do pescoço e do peito, junto a uma faca. Marina foi assassinada pelo amante, Carlos Loureiro, que mais tarde acabou por confessar o crime à PJ de Vila Real. Tudo terá acontecido por causa de uma discussão sobre uma suposta gravidez de Marina.

A vítima tinha dois filhos, que estariam a dormir na altura em que o homicídio aconteceu.

Detido suspeito de homicídio de jovem em Moimenta da Beira

Helena Cabrita, 60 anos, e Lara, 2 anos, Seixal

4 fevereiro

Foi um dos casos mais falados este ano. Helena Cabrita, de 60 anos, foi degolada pelo ex-genro, Pedro Henriques, no interior da sua residência em Cruz de Pau, no concelho do Seixal, a 4 de fevereiro de 2019.

O homicídia foi a casa da sogra, onde deveria deixar a sua filha de dois anos, Lara, que vivia com a mãe e com os avós maternos. No entanto, acabou por não entregar a criança e, mal a sogra abriu a porta, matou-a à facada, atingindo-a na zona do peito e do pescoço. Foram os moradores do prédio, que, depois de ouvirem barulho, alertaram as autoridades.

Da cumplicidade com a filha às fotos com o marido e com o genro que a terá assassinado: o perfil da sogra, a 1ª vítima de Pedro Henriques

Um dia depois de matar a sogra, Pedro Henriques matou Lara. A criança foi encontrada dentro do porta-bagagens do seu carro, em Corroios, a apenas quatro quilómetros de distância do primeiro crime. A informação sobre a localização de Lara terá sido dada pelo próprio pai, que ligou para os serviços de emergência por volta das 8h25. Lara morreu asfixiada.

O histórico de violência doméstica tinha começado com a ex-mulher. Sandra Cabrita, chegou a apresentar queixa por coação e ameaça contra o pai da criança, mas acabou por desistir do processo. Segundo o Ministério Público (MP), “foi localizado um inquérito em que se investigou um crime de coação e ameaça” no Tribunal do Seixal”, mas “o mesmo foi arquivado por desistência de queixa da ofendida” e não estava classificado como violência doméstica.

Depois de estar em fuga durante cerca de 24 horas, Pedro Henriques foi encontrado morto a mais de 200 quilómetros do local onde começou toda a história. O corpo foi encontrado na zona de Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, num cenário de aparente suicídio com arma de fogo.

Desde o vizinho que abriu a porta ao assassino até ao taxista que o transportou. Quatro testemunhos que ajudam a perceber o crime do Seixal

Fernando Cruz, 67 anos, Porto

11 fevereiro

Fernando Cruz, de 67 anos, foi encontrado morto na sua residência na Rua de Santos Pousada, no Porto, no dia 11 de fevereiro. Era descrito como uma pessoa “calada e apressada”, que costumava frequentar o café do bairro e a mercearia das redondezas. A vítima foi agredida até à morte por Juan Costela, de 20 anos, após uma discussão. O agressor estava a ser procurado internacionalmente e suspeita-se que o crime terá tido origem em motivos passionais.

De acordo com a PJ, o corpo da vítima exibia sinais de grande violência, marcas de “murros e pontapés” que o deixaram quase “desfigurado”.

Crime passional? Como Fernando, de 67 anos, terá sido morto pelo amigo de 20 anos

Ana Maria Silva, 53 anos, Golegã

17 fevereiro

Ana Maria Silva, de 53 anos, estava a sair de uma discoteca na Golegã, distrito de Santarém, juntamente com um homem, quando foi alvejada pelo ex-companheiro, de 62 anos, no dia 17 de fevereiro. A vítima foi alvejada duas vezes com uma caçadeira, tendo sido atingida nas costas e morrido de imediato. O homem com quem estava sofreu ferimentos ligeiros.

O homicida tinha tido uma relação de oito anos com Ana Maria Silva e já tinha avisado da intenção em matar a ex-namorada, levando mesmo a que esta tivesse de abandonar a sua casa na Chamusca, onde vivia com os três filhos, e a mudar-se para Torres Vedras, noticiou o Diário de Notícias. O agressor ainda esteve em fuga, mas foi detido em casa de uma irmã, tendo confessado o crime logo de seguida.

Detido suspeito de assassinar uma mulher na Golegã. Homem será ex-companheiro da vítima

Ana Maria Silva tinha feito queixa à polícia e o Ministério Público já teria um plano de segurança elaborado para proteger a vítima. No entanto, as autoridades dizem nunca terem sido notificadas dessa medida.

Ana Paula, 39 anos, Vieira do Minho

6 março

É o caso mais recente, na véspera do dia de luto nacional pelas vítimas de violência doméstica. Ana Paula Fidalgo, de 39 anos, terá sido estrangulada pelo marido, de 40 anos, esta quarta-feira, dia 6 de março, em Vieira do Minho, Braga. O casal já tinha um historial de desentendimentos e o agressor confessou o crime no posto da GNR de Braga, segundo o Correio da Manhã.

Mulher morta na véspera do Dia de Luto Nacional pelas vítimas de violência doméstica. Marido é o principal suspeito

Ana Paula deixou uma filha, que à hora do crime não se encontrava em casa. A PJ está agora a investigar o caso.