O cabeça de lista do PSD às eleições europeias, Paulo Rangel, acusa o governo de “falhar” na preparação para o ‘Brexit’ e estar “francamente mal” quanto à proteção de cidadãos e empresas e à salvaguarda dos interesses geopolíticos.

“O ‘Brexit’ em Portugal tem sido muito maltratado. Não podemos falar no ‘Brexit’ sem olharmos para o que o governo português tem feito e há duas dimensões em que acho que estamos francamente mal”, afirmou em entrevista à Lusa o eurodeputado, candidato a um terceiro mandato no Parlamento Europeu (PE) nas eleições de 26 de maio.

Para Rangel, a dimensão “mais importante” do impacto da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) envolve os cerca de 400.000 portugueses residentes no Reino Unido e as muitas empresas que exportam para ou importam do país.

“O referendo foi a 23 de junho de 2016, já lá vão quase três anos. Será que os portugueses têm noção de que não há um estudo do governo português, oficial, sobre o impacto do ‘Brexit’ nos cidadãos portugueses no Reino Unido, nas empresas que estão no Reino Unido, nas empresas que exportam ou importam do Reino Unido, no estatuto dos cidadãos britânicos?”, questionou.

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“Não há um estudo oficial sobre isto. E o plano de contingência ainda não foi aprovado”, apontou, desvalorizando o alcance do plano de contingência, “sobretudo centrado nos cidadãos britânicos” e na expectativa “de reciprocidade” por parte de Londres.

Paulo Rangel deu como exemplo a assistência consular, em que o governo anunciou um aumento das permanências consulares, que envolvem a deslocação de funcionários a localidades distantes dos consulados, de 31 para 35 no Reino Unido, mas o resultado foi “tempos de espera maiores”.

“Num momento de ansiedade, de incerteza, de instabilidade, Portugal está a falhar no apoio aos cidadãos”, lamentou, defendendo que devia haver “um plano de emergência”, ativo desde “dezembro ou janeiro”, “com uma deslocação de funcionários extra” para tranquilizar as pessoas.

Também em relação às empresas, o eurodeputado assegurou que “o resultado é zero”.

“[O primeiro-ministro] António Costa anunciou a estratégia do PortugalIn, para trazer para Portugal oportunidades, especialmente empresariais, com interesses no Reino Unido. Onde é que estão os resultados?”, questionou.

“A única coisa que conhecemos foi o desastre da questão da Agência Europeia do Medicamento e o folhetim do Infarmed que veio a seguir”, apontou.

Em matéria de defesa dos interesses geopolíticos de Portugal, Paulo Rangel acusou o governo de ter ignorado a necessidade de fazer uma aliança com os outros países atlânticos da UE, o que, a médio-longo prazo, “vai ter grandes consequências”.

“O governo português não fez uma aliança com os pequenos e médios Estados atlânticos – Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Irlanda – para uma estratégia comum. Se o Reino Unido sair da UE, como provavelmente sairá, vamos perder o grande parceiro atlântico, com uma visão extrovertida da Europa, e vamos ficar muito mais centrados no eixo franco-alemão”, explicou.

E, enquanto Portugal falava noutros fóruns, “a Dinamarca, Noruega e Finlândia fizeram cimeiras várias sobre a questão do ‘Brexit’ para acertarem posições.

Quanto ao processo de saída do Reino Unido da União, Paulo Rangel considerou que a decisão tomada no Conselho Europeu desta semana foi a correta no atual contexto, porque ela “é objetiva”, ao apontar duas datas — 12 de abril e 22 de maio — que “têm uma lógica” definida pelo processo das eleições europeias, e “não é formalista”, ao aceitar o adiamento da saída, marcado há dois anos para 29 de março, de acordo com os prazos previsto nos tratados.

“Sou favorável a que fôssemos um bocadinho mais abertos ao Reino Unido (…), mas concordo que com este tipo de decisão introduzimos objetividade, quer dizer, não se pode dizer que há um ressentimento ou uma má vontade ou vontade de dificultar”, explicou.