O presidente do Conselho Europeu criticou esta quarta-feira as vozes do Parlamento Europeu (PE) que se opuseram a uma extensão longa do ‘Brexit’, instando a assembleia europeia a não trair os britânicos, também eles cidadãos europeus.
Antes do Conselho Europeu disse que devíamos estar abertos a uma longa extensão se o Reino Unido estivesse disposto a repensar a sua estratégia para o ‘Brexit’, o que obviamente implicaria que o Reino Unido participasse nas eleições europeias. Então, houve vozes que se ergueram dizendo que tal cenário seria prejudicial ou inconveniente para alguns de vocês. Deixem-me ser claro: tal pensamento é inaceitável”, recordou Donald Tusk, na sua intervenção diante do PE, em Estrasburgo.
Num tom crítico, o presidente do Conselho Europeu instou a assembleia europeia a não trair “as seis milhões de pessoas que assinaram a petição para revogar o artigo 50.º, o milhão de pessoas que marchou a favor de um voto popular ou a crescente maioria de pessoas que quer permanecer na UE”.
Eles podem sentir que não são suficientemente representados pelo parlamento britânico, mas têm de sentir que são representados por vocês nesta câmara, porque são europeus”, vincou.
Mais de um milhão de pessoas desfilaram no sábado em Londres, exigindo ao Governo, liderado pela primeira-ministra, Theresa May, que convoque um novo referendo sobre a saída daquele país do bloco comunitário, e seis milhões “assinaram” até ao momento uma petição eletrónica a favor da revogação do Artigo 50.º, o ato que formalmente desencadeou o ‘Brexit’, que os britânicos votaram há três anos.
Tusk referia-se ainda a sondagem divulgada na semana passada que indicava que o apoio a um novo referendo relativo ao ‘Brexit’ aumentou após a rejeição no parlamento britânico pela segunda vez, em 12 de março, do Acordo de Saída negociado com Bruxelas pelo Governo de Theresa May.
Segundo o Instituto YouGov, 56% dos eleitores são favoráveis a um novo referendo e 44% opõem-se.
O político polaco tinha iniciado a sua menção ao ‘Brexit’, num debate mais alargado sobre as conclusões da cimeira europeia da passada semana, replicando ‘ipsis verbis’ o que havia dito na noite de quinta-feira, quando a UE a 27 concordou com uma extensão do Artigo 50.º até 22 de maio, desde que o Acordo de Saída seja aprovado pela Câmara dos Comuns até sexta-feira, ou até 12 de abril, se for chumbado.
“Como disse após o Conselho Europeu, 12 de abril é a nova data chave para o Reino Unido decidir se quer organizar eleições para o Parlamento Europeu. 12 de abril é a nova data do salto para o abismo. Antes desse dia, o Reino Unido ainda tem a possibilidade de escolher o Acordo, um não acordo, uma extensão longa ou a revogação do Artigo 50.º”, frisou.
Barnier: Ninguém em Bruxelas quer roubar o resultado do referendo
Ainda esta quarta-feira e perante o Parlamento Europeu, o negociador-chefe da União Europeia para a saída do Reino Unido do bloco europeu, Michel Barnier, garantiu que “ninguém em Bruxelas quer roubar o ‘Brexit’ e destronar o voto do povo britânico”.
Barnier, que se dirigia em particular ao eurodeputado britânico Nigel Farage, um dos principais rostos da campanha pela saída do Reino Unido, assegurou que a UE sempre respeitou “a decisão soberana de uma maioria dos cidadãos britânicos” no referendo de junho de 2016 que ditou o ‘Brexit’, “embora a lamente”.
Há dois anos que trabalho com o mesmo respeito pelo Reino Unido. Tenho admiração pelo vosso país, pela sua história, pela sua cultura, por uma série de homens e mulheres que dirigiram o país ao longo da história, sem nunca esquecer a vossa a solidariedade connosco nas horas mais sombrias do século XX. E, nessa lógica de respeito, respeitamos a decisão soberana de uma maioria dos cidadãos britânicos, mesmo que a lamentemos. Senhor Farage, ninguém em Bruxelas quer roubar o ‘Brexit’ e destronar o voto do povo britânico”, declarou Barnier.
Intervindo num debate sobre o Conselho Europeu da semana passada — no qual a União Europeia discutiu o pedido de extensão do Artigo 50 apresentado por Londres -, Barnier, em resposta à intervenção de um deputado do grupo eurocético dos Conservadores e Reformistas, rejeitou também que alguma vez a UE tenha pretendido castigar ou humilhar o Reino Unido ao longo das negociações.
“Em nenhum momento ao longo destes dois últimos anos, em nenhum segundo, houve na nossa atitude e na minha atitude o mínimo traço de vontade de humilhação ou de vingança sobre o Reino Unido, pelo contrário”, assegurou.
Relativamente à “dupla decisão” tomada pelo Conselho Europeu na passada quinta-feira — de oferecer a Londres uma extensão do Artigo 50 até 22 de maio -, o negociador-chefe da UE apontou que o objetivo foi “precisamente dar a possibilidade ao Reino Unido de assumir as suas responsabilidades, escolher o seu futuro, e assumir finalmente as consequências das decisões que toma”.
O negociador-chefe da UE concluiu que, “de uma forma ou outra”, é importante terminar este processo “o mais rapidamente possível”, até porque, disse – e citou a eurodeputada socialista portuguesa Maria João Rodrigues, que interviera pouco antes -, “há tanto a fazer além do ‘Brexit’”.
O debate de hoje na assembleia europeia teve lugar algumas horas antes de os deputados britânicos debaterem e votarem possíveis caminhos alternativos ao Acordo de Saída negociado com a UE pelo governo da primeira-ministra conservadora, Theresa May, e chumbado duas vezes pela Câmara dos Comuns.
Brexit. Parlamento britânico debate e vota esta quarta-feira caminhos alternativos ao acordo de May