“Vê o que estou a experimentar.” Pegamos no smartphone e deslizamos o ecrã para baixo. Com este gesto, surge a dupla câmara frontal e a aplicação de fotografias abre-se automaticamente. “Não! Desliza outra vez.” Foi quase sempre esta a reação que obtivemos enquanto mostrávamos o Xiaomi Mi MIX 3.
O smartphone é um dos topos de gama da marca chinesa Xiaomi e até vem numa caixa que faz qualquer um sentir-se especial (com carregador sem fios incluído). O ecrã de canto a canto sem entalhes ou notches, como no iPhone X e tantos outros que se seguiram, faz pensar no futuro. Contudo, há defeitos: a Xiaomi ainda tem de trabalhar muito o software e não é certo se o facto de ter um ecrã deslizante compensa não podermos levar o smartphone para a praia ou fazer com que este deixe de ser à prova de água.
Xiaomi Mi MIX 3
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A favor
- O ecrã desliza e nunca falhou a abrir a câmara
- Vem com capa e carregador sem fios
- O ecrã inteiro AMOLED
- As câmaras traseiras e frontais têm muito boa qualidade
Contra
- Ecrã fica facilmente com riscos
- Não tem entrada para auriculares tradicionais
- Resistência
- MIUI 10 da Xiaomi piora o Android
O smartphone tem o sistema operativo Android com alterações da Xiaomi (chamado de MIUI 10) e está disponível em Portugal numa versão com 6gb de RAM e 128GB de memória interna. A grande característica deste telemóvel é o facto de a dupla câmara frontal de 24 e 2 megapíxeis (e um flash) surgirem quando deslizamos fisicamente o ecrã tátil para baixo. Esta funcionalidade permite que o Mi MIX 3 tenha um ecrã AMOLED completo de 6,39 polegadas. O smartphone tem ainda uma dupla câmara traseira com uma lente grande angular de 12MP. Além disso, como aqui não há sensores de impressão digital embutidos no ecrã como no Galaxy S10+ ou o Mate 20 Pro, esta funcionalidade está na traseira do ecrã. Quanto a extras, o smartphone é Dual-SIM, mas não dá para expandir a memória por micro-SD. E se quer uma entrada de auriculares tradicionais, este não é o modelo a procurar.
[Para utilizar a câmara frontal basta deslizar o ecrã para baixo. Há um barulho configurável e abre automaticamente a aplicação de fotografias, mas é possível alterar para ser a forma de atender chamadas]
Quando o ecrã desliza, fascina. Mas e a bateria e o resto?
O Mi MIX 3 tem um processador Snapdragon 845 (é dos mais avançados). Seria de esperar que, aliado à memória RAM, não tivéssemos grandes percalços a utilizá-lo. Contudo, não foi o caso. O MIUI 10, a alteração de sistema operativo que a Xiaomi faz ao Android (como a Samsung faz com o One UI ou a Huawei com o EMUI), precisa de ser afinado.
É confuso perceber como podemos mudar algumas definições em português. Logo no momento em que tentámos transferir dados de um antigo telemóvel para este, foi preciso recorrer ao backup da Google porque não há aplicação própria da Xiaomi para facilitar o processo (o resultado foi termos de fazer backup dos SMS àparte). Até ao momento desta análise, mesmo com ajuda, não foi possível perceber como podemos tirar facilmente a luminosidade automática do ecrã e deixá-lo ligado ou como não ter de abrir um motor de pesquisa do Google para pesquisar apps instaladas sem navegar pelo menu. Apesar de o sistema operativo precisar de melhorias, há coisas boas. Ao contrário do S10+, a opção de mexer no smartphone apenas com gestos como no iPhone X é a melhor que o Android tem para mostrar. A opção de ver todas as aplicações abertas é bastante simples, mostrando ao mesmo tempo em várias janelas, no visor, o que está a funcionar.
Quanto à bateria de 3200 miliampéres, é difícil apontar críticas. Com utilização quotidiana, foi o suficiente para um dia e uma manhã de utilização. Sim, é preciso carregar o smartphone de noite, mas como vem com uma base de carregamento sem fios incluída, em que basta pousar o telemóvel para este receber energia (mesmo com capa), não houve problemas. Esta funcionalidade já é comum em bastante telemóveis, mas é preciso comprar este acessório à parte (um bom, costuma ficar acima dos 25 euros). Neste caso, já está incluído, é um bom pormenor e sim, também dá para carregar com cabo USB-C normalmente.
Quanto à resistência, encontrámos outro ponto fraco. Com utilização normal e protegido pela capa que vem incluída notámos, durante a análise, pequenos riscos no ecrã — a capa também ficou rapidamente com falhas no revestimento. Devido ao mecanismo de deslize, a capa tem de ser aberta no fundo, para o ecrã deslizar para baixo. Numa queda, o smartphone nunca fica completamente protegido. Também por causa deste mecanismo, o Mi MIX 3 é dos poucos topo de gama que não é oficialmente resistente nem a poeiras nem à agua, com um certificado IP. Ou seja, se estiver a chover e é preciso ver alguma coisa no telemóvel ou se estiver na praia e deixar cair o smartphone na areia, os resultados podem ser maus a curto prazo. Além disso, o deslize faz deste telefone pesado e volumoso: pesa 218 gramas e tem 8,46 mm de espessura.
Por fim, e também elogiando o Mi MIX 3, da mesma maneira que se afirmava, nos anos 2000, que os telefones com capa dobrável tinham maior desgaste, não era isso que fazia com que deixassem de ter o melhor design. Com o visor deslizante, este smartphone ganha um ecrã que comparamos diretamente ao do S10+ e não há um furinho no ecrã para nos chatear. Além disso, com mais espaço para a câmara frontal, é das melhores câmaras para tirar selfies. Aqui, tanto um Huawei Mate 20 como um S10+ conseguiram bater o Mi MIX 3, mas isto é porque tivemos de o comparar com os melhores atualmente (que são mais caros). Mais: a dupla câmara traseira vai preencher as medidas para a maior parte das fotografias e compara-se também ao que de melhor temos visto no mercado.
Veredito final: a câmara deslizante e o ecrã são incríveis, mas isso não é tudo
Este é o primeiro Xiaomi que analisamos aqui no Observador, depois de em dezembro termos já afirmado que é preciso estar com atenção à marca. Apesar de muitos dizerem que pode ser “a próxima Huawei”, ainda há bastante para melhorar. A Xiaomi também é uma empresa chinesa de smartphones, que tem equipamento com preços bastante competitivos, mas o principal problema que vimos nesta análise esteve relacionado com o software em língua portuguesa. Da falta de opções e facilidade de navegação nas definições à dificuldade sentida para ajustar a luminosidade do ecrã — provavelmente, porque os sensores tiveram de ser todos escondidos para o ecrã inteiro –, a Xiaomi ainda tem por onde afinar. Há uma boa notícia: a Huawei também era assim e foi quando começou a crescer o número de utilizadores que o EMUI começou a melhorar em atualizações de sistema.
No fim, o que fica deste smartphone — e até é por isso que tem um GIF neste artigo, como costumamos fazer em topos de gama — é o mecanismo de deslize. Tem defeitos, mas pelo preço recomendado e tendo em conta tudo o que vem incluído na caixa, é difícil encontrar concorrentes diretos. Sempre que abrimos a câmara frontal, lembrámo-nos da altura em que os telemóveis abriam para atendermos chamadas e do quão isso era irreverente. Principalmente pela resistência, não parece ser um telemóvel que vá durar mais do que dois anos. Para quem já é fã da Xiaomi, é um smartphone a escolher. Para os outros, se forem cuidadosos com telemóveis, é do mais irreverente que está no mercado e cumpre o principal de um smartphone.
*O equipamento foi disponibilizado ao Observador pela jp.di para efeitos de análise