Alaa Salah tornou-se o símbolo dos protestos no Sudão. Vestida de branco e de dedo erguido no ar, a imagem desta “rainha núbia” tornou-se viral nas redes sociais. Nos tempos livres, quando não está a protestar contra o governo, a jovem sudanesa de 22 anos estuda engenharia e arquitetura.

[Como uma mulher se tornou símbolo da luta sudanesa]

“Ela estava a tentar dar esperança e energia positiva a todos e conseguiu”, disse Lana Haroun, autora da fotografia viral, à CNN. “Ela representava todas as mulheres e meninas sudanesas e ela inspirou todas as mulheres e meninas no local. Ela contou a história das mulheres sudanesas. Foi perfeita.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A jovem sudanesa, em cima de um carro, incitava os protestantes à revolução (“Thawra”) enquanto batia palmas. A roupa branca e os brincos em forma de Lua serão uma homenagem às mulheres trabalhadoras e uma lembrança das mulheres de gerações anteriores que lutaram pelo fim da ditadura, disse a blogger Hind Makki, no Twitter. Hind Makki refere ainda que nas ruas Alaa Salah é chamada de Kandaka, o nome dado às rainhas núbias do antigo Sudão.

A Núbia era uma região localizada entre o Egipto e o Sudão. Chegou a estar sob o domínio egípcio, mas depois os núbios criaram o seu próprio império e têm até as suas próprias pirâmides. Terá sido na Núbia que surgiram os primeiros reinos africanos. O presente das rainhas núbias do antigo Sudão, para os seus descendentes, terá sido o legado de mulheres com força para lutar pelo seu país e pelos seus direitos, escreveu Hind Makki no Twitter.

A imagem, que depressa se espalhou pelas redes sociais, mostra Alaa Salah durante a manifestação de segunda-feira ao fim do dia na capital do Sudão, Cartum. O alvo era o presidente Omar al-Bashir, no poder desde 1989, e a exigência é que se demita. Os protestos contra o presidente começaram em dezembro quando o pão triplicou o preço e as caixas automáticas deixaram de ter dinheiro.

Alaa Salah é um rosto que se tornou viral, mas os protestos têm sido largamente assumidos pelas mulheres, refere o BuzzFeedNews: 70% das pessoas nas manifestações são mulheres. Desde o final do ano passado, muitas ativistas conhecidas já foram presas, refere o jornal The Guardian. E muitas outras têm sofrido represálias, por exemplo, por usarem calças. “As mulheres têm sofrido muito. Olham para como nos vestimos e podem chicotear-nos”, disse Nemat Malik, uma enfermeira e professora universitária de 80 anos, citada pelo The Guardian.

As mulheres nos protestos têm sido vítimas de assédio sexual e ameaças de violação mas os homens também têm sido alvo de agressões durante as manifestações anti-governamentais. Entre 6 e 8 de abril, terão morrido oito pessoas e centenas foram espancadas, presas ou ficaram feridas devido ao lançamento de gás lacrimogéneo.