São precisos 61 deputados para haver um governo com apoio maioritário no parlamento de Israel. O atual primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, com 97% dos votos apurados, já sabe que é impossível liderar sozinho — o seu partido, o Likud, só conseguiu eleger 35 deputados nas eleições desta quarta-feira. O maior partido da oposição, o Azul e Branco, liderado por Benny Gantz, elegeu exatamente o mesmo número de representantes. A diferença entre os dois grupos é de 0,3 pontos percentuais.

Agora cabe ao Presidente israelita, Reuven Rivlin, escolher quem tentará montar uma “geringonça” (de direita para Netanyahu, de esquerda para Gantz) nos 42 dias que restam até à tomada de posse. Benjamin Netanyahu está a ser apontado como favorito pela imprensa israelita, por defender a manutenção do status quo e ser do mesmo partido que o Presidente. É também Benjamin Netanyahu quem tem, teoricamente, a tarefa mais fácil. Os partidos de direita controlam 65 lugares no novo parlamento de Israel. A esquerda de Gantz fica-se pelos 55 lugares.

Netanyahu conquista quinto mandato no Governo

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Mas não está garantido o apoio de todos os partidos de direita a um governo de Netanyahu, até porque o líder do Yisrael Beytenu, Avigdor Liberman, tem uma disputa pública com o primeiro-ministro israelita desde que se demitiu de ministro da Defesa em novembro. O Yisrael Beytenu, nacionalista de direita, controla cerca de 4,2% dos votos, o equivalente a 5 lugares parlamentares, ou seja, o suficiente para sustentar ou fazer cair a “geringonça” de direita de Benjamin Netanyahu.

De quem precisa o Likud de Benjamin Netanyahu?

De toda a direita, sem exceção, e dos dois partidos judeus ortodoxos. E foi com esses “aliados naturais da direita” que o ainda primeiro-ministro de Israel prometeu, no Twitter, começar já a negociar, ainda antes de receber indicação presidencial, mas já depois de se anunciar como vencedor.

A “geringonça” de direita faz-se de sete partidos, que controlam 60 deputados. Três (The Jewish Home, Tkuma, e OtzmaYehudit) concorreram coligados como a União dos Partidos de Direita, e não devem dar dificuldades, já que todos apoiaram o último governo do Likud. Juntos elegeram cinco deputados.

Shas, Degel HaTorah e Agudat Israelo (os dois últimos coligados no United Torah Judaism) também fizeram parte do último executivo de Netanyahu. São partidos fundamentalmente religiosos, centrados na defesa dos valores do judaísmo ortodoxo, e controlam um total de 16 deputados.

Ao centro há quatro deputados essenciais, em representação do Meretz. O partido também apoiou a última composição do governo, focando-se essencialmente no desenvolvimento económico e na melhoria das condições financeiras dos israelitas.

De quem precisa o Azul e Branco de Benny Gantz?

De toda a esquerda, sem exceção, dos partidos árabes e de apoio da direita — o Yisrael Beytenu é o único partido que parece estar em disputa. Gantz também declarou que vencera as eleições, e acrescentou no Twitter que estava disposto a levar a cabo “uma jogada política de um tipo de ou de outro” para garantir que formava governo.

Para a lista Azul e Branco não há precedentes de apoio. Criada em fevereiro de 2019, é em si própria uma coligação de três partidos: Israel Resilience Party, Yesh Atid, e Telem. Mas conta com um bloco de esquerdas unidas (com 55 deputados) para tentar impedir Benjamin Netanyahu de entrar no quarto mandato consecutivo como primeiro-ministro de Israel (o quinto na sua carreira política).

O Partido Trabalhista (conhecido como HaAvoda) tem feito oposição ao Likud, e estará interessado em voltar ao poder. O último primeiro-ministro que elegeu, Ehud Barak, destronou precisamente Benjamin Netanyahu, no final do seu primeiro-mandato, em 1999. Os trabalhistas elegeram seis deputados.

Há dez votos praticamente certos para Gantz: Os representantes dos partidos árabes, em defesa da causa palestina. Numa série de alianças habituais, de eleição em eleição, a coligação do Hadash — que é uma lista conjunta da extrema-esquerda israelita — com o Ta’al conquistou seis lugares, enquanto a candidatura conjunta do Balad com a Lista Árabe Unida elegeu quatro deputados.

Os restantes quarto representantes vêm do Meretz, um partido ecologista de centro-esquerda, formado em 1992 fundindo o Ratz, o Mapam, e o Shinui.

Com quem está o Yisrael Beytenu?

Com a direita, isso é certo. Mas talvez não com Benjamin Netanyahu. O líder do partido, Avigdor Liberman, foi ministro da defesa no último governo do Likud até novembro de 2018. Demitiu-se após ser acordado um cessar fogo entre Israel e o Hamas. Mantém, de acordo com o Jeresulaem Post, “profundas discordâncias com as conceções constantes do governo a grupos terroristas”.

Ainda antes de abrirem as urnas, Liberman prometia trabalhar com a direita. Mas ao The Times of Israel recusava comprometer-se a apoiar um governo liderado por Benjamin Netanyahu e, em simultâneo, considerava impossível recomendar Benny Gantz como primeiro-ministro.

Nacionalista, de direita e progressivamente mais sionista, politicamente o Yisrael Beytenu tem pontos em comum com os dois lados. Se por um lado se alinha com a “geringonça” do Likud nas questões económicas, toma uma posição próxima do bloco Azul e Branco relativamente à integração de cidadãos israelo-árabes e à resolução do conflito israelo-palestiniano.

O Yisrael Beytenu concorreu em conjunto com o Likud em 2012, e juntou-se a uma coligação de apoio ao governo de Ehud Olmert (também do Likud) em 2006. Mas a animosidade de Avigdor Liberman para com Benjamin Netanyahu poderá pôr em causa uma nova aliança.

Caso os blocos de esquerda e de direita se alinhem como esperado, restam três cenários possíveis dependendo da ação do Yisrael Beytenu. Caso se coloque de fora da luta, Benjamin Netanyahu tem maioria, mas não maioria absoluta (60 deputados da direita para 55 da esquerda). Caso apoie Gantz, empata tudo também no parlamento (60 deputados para cada lado). Caso colabore com Netanyahu dá o governo e a maioria absoluta ao Likud (com 65 deputados). Com 4,2% do eleitorado, o Yisrael Beytenu tem o governo de Israel nas suas mãos.

Alianças podem mudar com votos de militares

O jogo de alianças já começou, mas ainda nem estão contados todos os votos. Só ao final desta quarta-feira é que serão revelados os resultados dos votos de militares e diplomatas: 3% dos eleitores que podem alterar o equilíbrio de poder nuns poucos lugares essenciais. E o voto dos militares israelitas é, tendencilamente, de direita.

Mesmo no limiar da eleição de um deputado (3,25% dos votos) está o Nova Direita (com 3,14%). E caso o partido consiga ter um deputado, uma aliança com a “geringonça” do Likud garante a maioria absoluta a Netanyahu, com ou sem o Yisrael Beytenu. O cenário repete-se caso os votos que faltam aumentem a representação eleitoral de qualquer um dos partidos da direita.

Só após a divulgação dos resultados oficiais, ao final desta quarta-feira, 10 de abril de 2019, o presidente israelita indicará o candidato a governo. E só aí se vai conhecer o real equilíbrio político e as engrenagens que vão tentar montar uma destas “geringonças”.