Há uma grande diferença entre os políticos britânicos e os CEO das grandes empresas que produzem no Reino Unido (RU). Se os primeiros não parecem muito preocupados com o futuro da economia britânica, os segundos estão obcecados com o que pode acontecer depois da saída da União Europeia (UE).
Com a compra da Opel aos americanos da GM, a PSA herdou a fábrica da Opel/Vauxhall em Ellesmere Port, no noroeste de Inglaterra. Sucede que a maioria dos veículos ali fabricados têm como destino a UE, de onde o RU quer sair. Isto implica que os bens ali fabricados vão ter de pagar no mínimo 10% para entrar no mercado europeu, mas quer igualmente dizer que todas as peças necessárias à produção desses mesmos modelos, a maioria das quais é produzida em países da UE e exportada para o RU, vai passar a pagar (provavelmente 10%) à entrada na região que prefere estar orgulhosamente só. O que representa não uma machadada na viabilidade financeira das unidades fabris ali instaladas, mas sim duas.
De acordo com o jornal alemão Handelsblatt, o Grupo PSA vai decidir nas próximas semanas que fábrica europeia vai receber a próxima geração do Opel Astra, que deverá chegar até 2021. Os sindicatos de Ellesmere Port, revelando um maior conhecimento de causa do que os políticos britânicos, temem que a PSA leve a fabricação das versões do futuro Astra com volante à esquerda – aqueles que, fabricados no RU, são destinados à exportação – seja deslocada para a Alemanha. De realçar que todos eles são Opel e não Vauxhall, uma vez que esta marca não exporta para o resto do continente europeu.
A reforçar este “temor” está o facto de a fábrica alemã estar a necessitar de mais produção, uma vez que o monovolume Zafira vai ser descontinuado este Verão, o que deixa a linha de produção de Russelsheim apenas a dedicada ao Insignia, francamente pouco para a capacidade instalada. Para o jornal germânico, a decisão está já tomada, embora esteja a ser comunicada aos britânicos em “pequenas doses”, para não beliscar a “alegria” com que quase 50% da população está a acolher o Brexit.