As sondagens para as eleições gerais espanholas deste domingo, 28 de abril, preveem algumas mudanças de grande importância, mas apontam um cenário que pouco destoa daquilo que se verifica desde junho de 2018: o PSOE do Pedro Sánchez pode vir a governar, mas apenas se conseguir o apoio do Unidas Podemos e de várias formações regionalistas e independentistas, inclusive da Catalunha.

As sondagens não deixam margem para dúvidas: o PSOE de Pedro Sánchez deverá sair destas eleições como vencedor destacado, mas ainda assim aquém da maioria absoluta.

O PSOE é dado como vencedor destas eleições, mas nem por isso tem um caminho garantido para formar governo (EMILIO NARANJO/AFP/Getty Images)

De acordo com com as quatro sondagens publicadas este domingo, a uma semana das eleições, o PSOE deverá ter 22,7% (40dB/El País), 30,3% (Sigma Dos/El Mundo), 29,5% (SocioMétrica/El Español) ou 29,8% (IMOP Insights/El Confidencial). Entre todas estas sondagens, o partido de Pedro Sánchez conquista entre 122 e 133 deputados. Esta é uma subida meteórica para o PSOE, que em junho de 2016 teve 22,7% e 85 deputados — o seu pior resultado após a Transição.

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A partir daqui, o líder socialista terá de pegar na calculadora e começar a estender a mão aos demais. No Congresso dos Deputados, composto por 350 assentos parlamentares, é preciso chegar aos 176 para conseguir viabilizar um governo.

No atual momento da política espanhola, Pedro Sánchez poderá buscar estes votos em três paragens, por esta ordem.

Pablo Iglesias já assinalou que, para dar a mão ao PSOE, quer o controlo do Ministério da Administração Interna (Pablo Blazquez Dominguez/Getty Images)

A primeira é o Unidas Podemos, coligação que junta o Podemos e a Esquerda Unida — uma repetição do que já tinha acontecido nas eleições de 2016, com a diferença de o nome da aliança ter sido alterado para o feminino. Nas quatro sondagens acima elencadas, a formação liderada por Pablo Iglesias surge entre os 13,2% e os 14,1%, o que representaria algo entre 30 a 41 deputados. A estes devem ainda juntar-se os deputados conquistados pelo Compromís, que concorre no lugar do Podemos em Valencia, e que deverá ter entre 1 a 3 deputados.

Porém, para tudo isto ir para a frente, Pedro Sánchez teria provavelmente de cumprir algo que até agora nunca foi feito: permitir a entrada do Podemos no governo. Numa entrevista à RAC1 no início de abril, reagindo a uma suposta conspiração montada no seio da polícia espanhola para prejudicar o Podemos, Pablo Iglesias adiantou que gostaria de assumir o Ministério da Administração Interna.

A segunda paragem por onde o PSOE deve parar em busca de uma aliança é o Partido Nacionalista Basco (PNV). O partido liderado por Aitor Esteban no Congresso dos Deputados deverá conquistar entre 5 a 6 deputados. Dificilmente estes fogem ao PSOE caso venham a ser necessários, já que o PNV tem mantido boas relações com o PSOE em diferentes ocasiões e coordenadas: além de os dois partidos estarem coligados no governo regional do País Basco, o PNV foi essencial para a aprovação da moção de confiança que em junho de 2018 levou Pedro Sánchez ao poder. Além disso, os deputados liderados por Aitor Esteban não se somaram àqueles que, em fevereiro de 2019, precipitaram o fim do atual governo socialista, ao chumbar o orçamento.

O independentista preso, a bandeira de Espanha, o retrato do Rei Filipe VI — e um cheiro a indulto no ar

A terceira paragem será efetuada por Pedro Sánchez apenas em caso de extrema necessidade — mas, ao que tudo indica, assim terá de ser. Falamos dos partidos independentistas catalães que concorrem ao Congresso dos Deputados: a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), ao qual as sondagens dão entre 11 a 15 deputados; e o Juntos Pela Catalunha (JPC), que deverá ficar entre os 4 e os 5 deputados.

De acordo com aquilo que as sondagens indicam, muito dificilmente o PSOE conseguirá formar uma maioria (ou seja, atingir a marca dos 176 deputados) apenas com a soma dos seus deputados com o Unidos Podemos, o Compromís e o PNV. Portanto, esgotando-se as opções fora da direita (já lá vamos), os independentistas poderão ser a derradeira hipótese de Pedro Sánchez.

Mas não será fácil. Isto porque, com algumas nuances, os independentistas catalães têm exigido como moeda de troca por apoio parlamentar a discussão de um referendo à independência da Catalunha. A estas exigências Pedro Sánchez tem dito que “não é não” — mas, depois de 28 de abril, é possível que tenha ceder em alguma matéria referente à Catalunha.

Direita perde dianteira com hecatombe do PP

Em fevereiro, altura em que o governo de Pedro Sánchez viu todas as suas vias bloqueadas e foi obrigado a convocar eleições antecipadas, o bloco da direita — PP, Ciudadanos e Vox — todo somado conseguia chegar a uma maioria para lá dos 176 deputados. Porém, à medida que o 28 de abril se foi aproximando, essa tendência foi ultrapassada.

As sondagens apontam todas que o PP terá o pior resultado da sua história em eleições gerais (GABRIEL BOUYS/AFP/Getty Images)

De acordo com as sondagens, o PP continuará a ser maior partido da direita espanhola — mas terá, seja como for, o pior resultado da sua história. Segundo as sondagens, o partido de Pablo Casado deverá ter 17,8% (40dB/El País), 20,1% (Sigma Dos/ El Mundo), 18,2% (SocioMétrica/El Español) ou 19,8% (IMOP Insights/El Confidencial). Tudo isto coloca o PP entre os 74 e os 86 deputados — uma queda para quase metade dos 137 conquistados nas últimas eleições.

A queda do PP é drástica ao ponto de os conservadores estarem na calha para perder em regiões que eram até hoje verdadeiros bastiões, como a Galiza (onde nunca perdeu) ou como Baleares, Cantabria, Castela e Leão, Comunidade Valenciana, Murcia, onde chega a perder mais de 20% dos votos.

Depois, segue-se o Ciudadanos. De acordo com as sondagens, o partido de Albert Rivera conseguirá desta vez passar ao terceiro lugar, ficando entre os 14,1% e os 16%, o que o colocaria entre 49 a 58 deputados.

O Vox é dado como presença certa no próxiom Congresso dos Deputados, conquistando entre 25 a 46 deputados (MIGUEL RIOPA/AFP/Getty Images)

Há depois o Vox, o partido mais à direita da política espanhola, que é também a grande novidade desta ida às urnas. Em 2016, nas suas primeiras eleições gerais, então um partido embrionário, conquistou apenas 0,20%. Praticamente três anos depois (e muito por causa da hecatombe de corrupção que se abateu sobre o PP e pela crise da Catalunha), o Vox surge agora como garantido no Congresso dos Deputados, podendo ser a quarta ou quinta maior força política. É quando toca aos resultados do Vox que as sondagens são mais dispersas: desde os 10% e 25 deputados previstos pelo IMOP Insights/El Confidencial até aos 13,3% e 44 a 46 deputados que aponta o Sigma Dos/El Mundo.

Aliança preferida dos espanhóis é o PSOE com o Unidas Podemos

Está bom de ver que, na política espanhola, governar sem coligação é virtualmente impossível. E, por isso, nas sondagens já se pergunta qual é a solução preferida dos espanhóis para um governo resultante das eleições de 28 de abril.

De acordo com o IMOP Insights/El Confidencial, é a coligação entre o PSOE e Unidas Podemos que recolhe mais aprovação: 46,9%. Porém, esta coligação, como já vimos que as sondagens apontam, não deverá ser suficiente para formar governo — e, nesse caso, o s socialistas deverão ter de recorrer aos independentistas catalães. Só que, nesse caso, uma coligação que junte o PSOE, Unidas Podemos, ERC e JPC recolhe as preferências de apenas 33,3% de espanhóis — ou seja, a quarta preferida.

A segunda solução que os espanhóis mais querem é uma coligação entre o PP e o Ciudadanos (39%) — algo para o qual há entendimento entre os respetivos líderes partidários, mas que as sondagens apontam como muito improvável. Logo a seguir, em terceiro, com 38,6%, de preferências está a solução PSOE e Ciudadanos. Esta possibilidade é negada não só pelas sondagens como pela liderança de Albert Rivera, que tem negado qualquer tipo de compromisso com o PSOE.

A coligação entre o PP, Ciudadanos e Vox é a que os espanhóis menos querem — mas é também a mais provável à direita (OSCAR DEL POZO/AFP/Getty Images)

Em quinto e último lugar, e por isso a combinação que os espanhóis menos parecem querer, está uma coligação entre o PP, o Ciudadanos e o Vox. A coligação mais à direita, que todos os líderes reconhecem como uma possibilidade, até porque já a põem em prática na Andaluzia desde o final de dezembro de 2018, recolhe apenas 22,4% de preferências.