Há quem invista diretamente em criptomoedas. Depois, há quem invista na tecnologia que está por detrás desta inovação: o blockchain, um termo que pode parecer estranho, mas que é cada vez mais cativante para quem trabalha com tecnologia e banca. Exemplo disso é Mário Alves, fundador e presidente executivo da Taikai, que utilizou a invenção para criar uma plataforma de desafios para “aproximar grandes empresas e startups”. Formado em Economia, trabalhou na Caixa Geral de Depósitos, na PWC e no banco BiG. Agora, com 29 anos, dedica-se a 100% a trabalhar em blockchain porque acredita “que é o futuro”.

Na prática, estou a criar uma criptomoeda. É o nosso token, chama-se kai token, é uma parte da empresa. Na verdade, kai [palavra japonesa] quer dizer prestígio em português. Os tokens não vão funcionar só como votação, mas também como gamificação na plataforma. Queremos recompensar não só as pessoas que escolhem os melhores projetos, mas queremos também premiar quem vota na plataforma”, contou ao Observador Mário Alves no Pixels Camp, durante o lançamento da plataforma.

Até agora, a Taikai conseguiu 35o mil euros de investimento por parte da Bright Pixel, que está a incubar a startup e detém 25% da empresa. A ideia surgiu de um desafio proposto pelo presidente executivo e fundador da Bright Pixel, Celso Martinho, conta o responsável da Taikai — uma plataforma para votações através do blockchain, que teve por base o projeto GovTech, lançado pelo Governo em 2018. Agora, a Taikai conta com clientes como a NOS e os CTT.

Foi em março de 2018 que Mário Alves começou “a colaborar de perto com Celso”, conta. Inicialmente, continuou a desenvolver projetos profissionais na “fábrica de incubadoras” no Porto, na Lionesa. Mas a Bright Pixel, em conjunto com o Governo português, já estava a desenvolver a plataforma que serviria de base à Takai: o GovTech. À semelhança do que esta startup faz, a plataforma do Governo promoveu um concurso no qual os utilizadores se registavam para votar em projetos e recebiam um número de “unidades de votos”. Esta espécie de tokens podia ser trocada entre utilizadores.

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Com a Taikai, em vez de ser o Governo a promover estes desafios e projetos para startups, são empresas como a NOS e os CTT a promover os concursos. O objetivo é o de que quanto mais pessoas aderirem, mais empresas vão aderir também. Os tokens da plataforma podem aumentar, mas também podem surgir mais projetos. No final, quem tiver a melhor ideia pode utilizar esta ferramenta para obter rendimentos com a ajuda de empresas parceiras e da própria Taikai. Os utilizadores podem receber incentivos consoantes os votos que fazem.

A plataforma de concursos da Taikai ainda está no início. O primeiro projeto a ser financiado foi o Pixels Camp de 2019

Como Mário já estava ligado à tecnologia de blockchain como consultor foi desafiado a liderar a Taikai, que foi fundada em agosto de 2018 com uma promessa: na edição de 2019 do Pixels Camp, um evento nacional de programação, era a startup que ia gerir a votação de projetos.

Mais tarde, o nosso objetivo é criar uma espécie de marketplace dentro da plataforma”, refere Mário Alves.

O compromisso foi cumprido e Mário juntou os primeiros membro da equipa, o diretor de tecnologia Hélder Vasconcelos, de 36 anos, e o responsável pelo desenvolvimento da plataforma Luís Gonçalves, de 32 anos. Os dois também têm um passado ligado à Economia: trabalhavam na Euronext antes de aceitarem o desafio.

[O vídeo de apresentação da Taikai]

No futuro, Mário e a equipa olham para novas formas de financiamento. Sendo uma empresa de blockchain, Mário Alves diz que vê uma eventual oferta de moedas inicial (ICO), equivalente às ofertas públicas iniciais (IPO) que já existem nos mercados e permitem que as empresas sejam cotadas em bolsa, como uma possibilidade. Ou seja, vai permitir dispersar o capital social da startup não em bolsa, mas em criptomoedas.

Para já, é gratuito aderir ao projeto e começar a utilizar tokens nas iniciativas da Takai. Quem paga são as empresas, num modelo de subscrição mensal. “O objetivo vai ser atribuir um valor ao Kai Token”, diz. Mário explica que o processo das empresas é relativamente simples: quem quiser colocar um desafio na plataforma, paga a mensalidade, cria o desafio e coloca-o. Esta mensalidade vai começar por ser paga em euros, mas no futuro pode vir a ser paga também em tokens, explica o empreendedor.

O investimento em criptomoedas que levou a investir no blockchain

Por norma, o conceito de blockchain está ligado às criptomoedas, porque é a tecnologia que lhes serve de base: é um protocolo descentralizado que não precisa de governo ou supervisão e que promete garantir o anonimato das transações. Foi o interesse por detrás desta tecnologia que cativou Mário Alves a investir em criptomoedas em 2015.

“Comecei com um investimento de 200 euros só para testar”, assume. “Tinha visto um projeto de que tinha gostado. Na altura, não se falava em ICO”, refere. À época, Mário já tinha trabalhado na CGD e como consultor na PWC, ligado a tecnologia e a investimentos. Foi assim que descobriu as bitcoin e a ethereum (moedas digitais). “O portefólio começou a valorizar” e, mesmo no boom das criptomoedas, entre 2017 e 2018, continuou a acreditar nesta nova forma de transações financeiras: “Acredito que vai haver uma subida e descida mais acentuada”, afirma.

O que é blockchain?

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O blockchain é uma estrutura de dados que regista transações virtuais. Cada transferência tem um código associado que permite que não seja alterada. Por não funcionar num só sistema único e ser compartilhado em rede numa base de dados a que todos podem aceder, permite saber que transações são feitas. É devido a esta tecnologia que surgiram as criptomoedas, como as Bitcoins. Ao registar os movimentos feitos por ser de acesso público, dá aos utilizadores confiança de que os resultados não são adulterados.

O nome significa “cadeia de blocos”, referente aos blocos de informação criados, que se interliga com outros automaticamente, para tornar o sistema fiável. A tecnologia permite a dois utilizadores fazerem transações sem intermediação de terceiros.

Quando o boom das criptomoedas rebentou, o empreendedor trabalhava no banco BiG como comercial, altura em que também se começou a “interessar por empreendedorismo” e pela tecnologia por detrás das criptomoedas. “Ajudei a startup do Pedro Chaves, a Mindprober, do Porto, a encontrar investidores, ainda no BiG”, conta. Em 2017, largou por completo o emprego no banco.

A tecnologia ainda está a desenvolver-se. Acho que no futuro vai valer muito mais”, explica Mário Alves.

A proposta para trabalhar na Bright Pixel surgiu de uma conversa que estava a ter sobre criptomoedas com Celso Martinho. Até o nome da empresa, Taikai, surgiu da mente do presidente da fábrica de startups. “Taikai quer dizer competição e colaboração”, adianta.

O empreendedor também conta ao Observador que foi o pai que o entusiasmou a criar a própria empresa. “Esta decisão foi impulsionada pelo meu pai. Sempre esteve ligado à criação de negócios. Esteve envolvido na criação da indústria têxtil, na Rags”, conta ainda Mário. Apesar de compreender a tecnologia de blockchain, Mário assume que não faz programação, e diz sobre o que faz agora: “Não sou CEO (presidente executivo), sou bombeiro. Onde é preciso a minha ajuda, lá estou”, brinca.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.

*Artigo corrigido às 17h00. Na citação onde se lia “trabalhava na Rex”, lê-se agora “esteve envolvido na criação da indústria têxtil, na Rags”)