As tatuagens duram a vida toda, já se sabe. Mas, agora, e graças a uma empresa criada por pai e filho, podem durar para sempre. Literalmente. Michael e Kyle Sherwood desenvolveram uma técnica que permite remover o tecido corporal depois da morte e expor as tatuagens como quadros tradicionais, com a pele esticada atrás de vitrines, noticia a BBC.

Aos nove anos, a tia de Chris Wenzel pediu-lhe para fazer um desenho. A mulher acabou por tatuar o desenho do sobrinho e assim começou a paixão de Wenzel pela arte das tatuagens. Em adolescente, o rapaz já tinha os braços cobertos de arte. Tornou-se depois um conceituado e famoso tatuador no Canadá, no estúdio Electric Underground Tattoos, em Saskatoon.

Em outubro, e com 41 anos, Chris morreu vítima de uma paragem cardíaca. Deixou um desejo: ver as suas tatuagens preservadas. “Depois de tantas horas a ser tatuado, porque haveria de querer ver todo este trabalho ser enterrado comigo?”, disse à sua esposa, Cheryl.

Chris Wenzel começou a tatuar em adolescente e tornou-se um conceituado artista no Canadá

E foi assim que, antes de morrer, Chris tomou conhecimento da Save My Ink Forever, um negócio familiar de Cleveland, no estado norte-americano de Ohio. Michael Sherwood e o seu filho, Kyle, preservam tatuagens de pessoas que morreram, como forma de as homenagear e deixar um memorial aos familiares e amigos. Embalsamadores, os dois criaram o negócio há dois anos e juntos trabalham com casas funerárias dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

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As tatuagens têm, hoje, uma enorme popularidade em todo o mundo. Nos Estados Unidos há mais de 45 milhões de pessoas com tatuagens e, por outro lado, há cada vez mais pedidos de funerais e memorias personalizados. Assim, os Sherwood tiveram a ideia de criar uma técnica que permitisse preservar para sempre a pele do corpo tatuada. 

“Enquanto embalsamadores, estamos habituados ao processo de preservador tecido”, disse Kyle. “Mas o embalsamento não permite uma preservação total”, continuou. “Por isso, começámos a fazer alguma pesquisa e, juntos, misturámos diferentes técnicas. Foi um processo de tentativa e erro”.

Dois anos foi o tempo necessário para o pai e filho apurarem a técnica. “Não cortamos o tecido. Queríamos assegurar que fazíamos tudo corretamente e de forma consistente”, disse Kyle. O processo passa por remover cirurgicamente a tatuagem, algo simples, garantem os Sherwood. A pele é depois enviada para laboratório onde passa por um sistema de preservação. Três meses depois, a “tatuagem” está pronta para ser exibida como uma peça de arte.

Quando Chris faleceu, a sua esposa contactou a família Sherwood para preservar as tatuagens do seu marido. “Quando o meu marido faleceu, parte de mim partiu com ele. Não sabia o que fazer. Apenas sabia que tinha de fazer esta preservação”, disse Cheryl.

As tatuagens das costas e braços de Chris preservadas e expostas pela empresa

Habituados a fazer pequenas preservações, os Sherwood tiveram desta vez um enorme desafio. Chris tinha o corpo coberto em tatuagens e Cheryl pediu a preservação das duas “mangas” do marido, as mãos, a garganta, o peito, as costas, as coxas e parte do gémeo. Foi o maior trabalho que Kyle e Michael já fizeram.

“Há três tipos de reações”, diz Michael: “Há as pessoas que não gostam, a grande maioria sem tatuagens. Depois, há as pessoas tatuadas que até gostam. Por fim, há as pessoas que adoram totalmente.” O dono da empresa explicou ainda que algumas funerárias tradicionais se opuseram ao processo, alegando que não era algo natural.

Cheryl tem exposto a arte corporal de Chris em convenções de tatuagens em Saskatoon e Vancouver, no Canadá, e pretende continuar. A mulher, que agora gere o estúdio de Chris, diz que o marido queria ver a sua arte preservada como forma de lembrar que a vida continua depois da morte.

“Eu vejo isto como uma arte linda. Para mim, foi como ter o meu marido de volta. Agora, posso vê-lo todos os dias”, disse Cheryl.