A atriz norte-americana Alyssa Milano apelou na rede social Twitter a uma “greve de sexo” das mulheres na sequência da lei anti-aborto assinada pelo governador da Geórgia, o republicano Brian Kemp, que proíbe a interrupção voluntária da gravidez a partir do momento em que um médico detetar o batimento cardíaco de um feto humano.

O apelo surgiu através de uma publicação que já foi partilhada por mais de 13 mil pessoas só no Twitter. Nesta, a atriz escreveu: “Os nossos direitos reprodutivos estão a ser apagados. Até que nós, mulheres, tenhamos controlo legal sobre os nossos próprios corpos, não podemos simplesmente arriscar a gravidez. Juntem-se a mim em não fazer sexo até que voltemos a ganhar a autonomia do nosso corpo. Estou a apelar a uma #SexStrike [Greve de Sexo]. Passem a mensagem”.

A lei contra a qual Alyssa Milano, 46 anos, se insurgiu diz que “nenhum aborto é autorizado ou deve ser feito se for determinado que a criança por nascer já tem batimento cardíaco humano”. Como grande parte das leis anti-aborto, esta inclui algumas exceções, que o permitem quando “a gravidez colocar em risco a vida” da mulher ou quando tiver potencial para implicar dano físico irreversível à grávida, refere a estação norte-americana CNN.

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A atriz opõe-se veementemente à lei, que entrará em vigor a 1 de janeiro do próximo ano, se esta não for vetada por motivos jurídicos e constitucionais. Esse risco existe, na verdade: um juiz federal já vetou uma lei semelhante no estado de Kentucky — mas que foi escrita com o intuito de entrar em vigor de imediato — por risco de inconstitucionalidade, enquanto um outro diploma parecido foi aprovado no estado do Mississippi e poderá entrar em vigor em julho deste ano, mas também enfrenta riscos de ser travado até lá, lembra a BBC.

A atriz foi uma das opositores mais firmes da nomeação do juiz Brett Kavanaugh (acusado por várias mulheres de alegado assédio e abuso sexual) para o Supremo Tribunal dos EUA, por Donald Trump (@ Alex Wong/Getty Images)

Uma das críticas mais incisivas ao conteúdo do projeto-lei, por parte dos defensores da legalização do aborto, passa pela dificuldade que uma mulher pode ter em aperceber-se de que está grávida antes de ser detetado o batimento cardíaco de um feto. Normalmente, este é detetado por volta das seis semanas (um mês e meio).

A CNN elencou um conjunto de razões que levam a que possa ser difícil detetar a gravidez nesse período, nomeadamente o facto de quase metade das gravidezes nos EUA não serem planeadas (o que faz com que a monitorização do corpo não seja detalhada), o facto de muitas mulheres terem menstruação irregular (o que as pode levar a não desconfiar da gravidez nesse período) e a deficiente educação sexual, que faz com que muitas jovens mulheres “não compreendam verdadeiramente como os seus corpos funcionam e como a menstruação e os seus ciclos funcionam” .

Não só Alyssa Milano, mas Hollywood em bloco está a insurgir-se contra o diploma legal. Numa carta assinada por 50 atores, entre os quais Amy Schumer, Christina Applegate, Alec Baldwin e Sean Penn, algumas das figuras da indústria de cinema e televisão do país afirmaram ter a vontade de “ficar na Geórgia” (isto é, continuar a trabalhar no estado) mas não “silenciosamente”, prometendo ainda “fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para mover a nossa indústria profissional para um estado mais seguro para as mulheres se [a lei] entrar em vigor”.

A atriz norte-americana numa sessão de promoção da série “Insaciável”, cujo elenco integra, a 9 de agosto em Hollywood (@ Alberto E. Rodriguez/Getty Images)

As ameaças de boicote à produção e gravação de filmes e séries de televisão no estado, caso o diploma se torne lei, originaram reações concordantes e discordantes, como aconteceu com o apelo a uma greve de sexo de Alyssa Milano.