O Banco Montepio e o construtor José Guilherme, que deu a “liberalidade” de 14 milhões a Salgado, chegaram a acordo para um plano de regularização dos créditos que foram dados no tempo em que Tomás Correia estava na liderança executiva da Caixa Económica Montepio Geral (Banco Montepio). A notícia, avançada pelo Público, está relacionada com dívidas que ascendem a cerca de 45 milhões de euros, que há quase 10 anos estão em incumprimento. O plano de reestruturação, que inclui liquidação de juros, conta, também, com uma garantia bancária passada pelo Estado angolano.

O acordo surgiu há algumas semanas, depois de notícias que indicavam que o Banco Montepio estava a “partilhar” com o Banco de Portugal “o essencial da informação” sobre os créditos de José Guilherme, porque o supervisor queria saber exatamente qual é a exposição do banco a este cliente.

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A última estimativa que existe, sobre a exposição do banco a José Guilherme, é que o construtor tinha obtido junto do Banco Montepio (o novo nome da Caixa Económica Montepio Geral) créditos de 28 milhões de euros, entre os quais um crédito pessoal de 8,5 milhões de euros que corresponde, exatamente, ao valor que, como também revelou o Público, José Guilherme viria, logo de seguida, a oferecer a Ricardo Salgado numa primeira fase.

Essa “prenda”, a que Ricardo Salgado chamou de “liberalidade”, foi explicada pelo ex-banqueiro como um agradecimento pelo facto de o ex-presidente o Banco Espírito Santo ter aconselhado o construtor — um “amigo de longa data” — a investir em Angola (e não na Europa de Leste), onde Guilherme viria a fazer grande fortuna. No final de 2018, quando este processo começou, Guilherme terá colocado reticências, inicialmente, a que as suas informações — em Portugal e Angola — fossem partilhadas com o Banco de Portugal.

O acordo assinado no mês passado prevê que o Banco Económico (antigo BES Angola), que passou para as mãos do Estado angolano, entregue uma garantia bancária de 17 milhões para que sejam liquidados os créditos de José Guilherme. Ainda assim, as fontes ouvidas pelo Público dizem que “não há certezas” que este passo garanta que o Montepio irá rapidamente recuperar o financiamento concedido, um dos muitos “calotes” que estão no balanço do banco — que tem cerca de 700 milhões de euros em ativos não produtivos.