8h51 – De manhã começa o dia — e também os tweets de Trump
Eram 8h51, hora de Londres e também de Lisboa, quando Donald Trump disparou o primeiro tweet do dia. O alvo foi um dos seus maiores ódios de estimação de todo o Reino Unido: o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan.
“Sadiq Khan, que dê por onde der está a fazer um trabalho terrível como presidente da Câmara de Londres, tem sido parvo e atrevido com o Presidente dos EUA, que é, de longe, o aliado mais importante do Reino Unido. Ele é um falhado que devia era prestar mais atenção crime em Londres e não a mim”, escreveu num tweet. E a seguir ainda comparou Sadiq Kahn ao presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, por quem Donald Trump também não morre de amores. “Lembra-me o nosso mayor de Nova Iorque, o burro e incompetente de Blasio — que tem feito um trabalho terrível —, só que tem metade da altura.”
….Kahn reminds me very much of our very dumb and incompetent Mayor of NYC, de Blasio, who has also done a terrible job – only half his height. In any event, I look forward to being a great friend to the United Kingdom, and am looking very much forward to my visit. Landing now!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 3, 2019
Tudo isto surgiu depois de, na véspera, Sadiq Khan ter publicado um artigo de opinião no Observer onde dizia que o Presidente dos EUA “é visto como o cabecilha do movimento de extrema-direita global” e que, por isso, “não é nada britânico estender a passadeira vermelha” na ocasião da sua visita ao Reino Unido. Por isso, pedia a Theresa May que fizesse uma “forte rejeição” de Donald Trump e “da agenda de extrema-direita que ele representa”.
Esta não foi a primeira vez que os dois políticos trocaram galhardetes. Tudo começou em janeiro de 2017, quando Donald Trump assinou uma ordem executiva que bania a entrada nos EUA a cidadãos de sete países de maioria muçulmana. Desde então, os dois têm estado num pingue-pongue de insultos com apenas alguns meses de intervalo.
“A aterrar, mesmo agora!”, termina o tweet de Donald Trump.
Não é certo se, antes de tocar em solo britânico, o Presidente dos EUA viu os “desenhos” gigantes que um estudante do secundário com 18 anos, Ollie Nancarrow, fez no terreno da casa onde vive, com a mãe e o padastro, perto do aeroporto de Stansted, onde Donald Trump aterrou. E que desenhos, feitos com o cortador de relva em terrenos do tamanho de um campo de futebol, é que estavam lá para recebê-lo? Um deles é de um urso polar. Não muito longe, outro dizia, em inglês, que “as alterações climáticas são verdadeiras”. Por fim, o jovem desenhou um pénis, com um “Oi Trump” escrito por baixo.
https://twitter.com/louweeziz/status/1135537782997291008
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Pouco depois, Donald Trump viria a sair do Air Force One e, chegado ao fundo da escada, ali tinha a tal passadeira vermelha que Sadiq Kahn queria que tivesse ficado guardada. E para receber o Presidente dos EUA estava, em primeiro lugar, Theresa May, a primeira-ministra do Reino Unido demissionária. Dia 7 de junho é o seu último dia no número 10 de Downing Street. A partir daí, será substituída por quem vencer as eleições internas no Partido Conservador. Donald Trump, antes de descolar dos EUA, disse ao The Sun que via com bons olhos um governo de Boris Johnson. “Tenho estudado este assunto a fundo. Conheço os diferentes intervenientes (…). Mas penso que Boris faria um bom trabalho. Acho que seria excelente”, disse.
Ao lado da primeira-ministra do Reino Unido estava o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, que também trocou umas palavras com Trump. Em entrevista à BBC, o chefe da diplomacia recusou divulgar na totalidade o conteúdo da conversa que teve com o Presidente dos EUA — mas, ainda assim, referiu que o chefe de Estado falou das suas “ideias muito fortes sobre o presidente da câmara de Londres”.
Ainda na pista do aeroporto de Stansted, Donald Trump entrou num helicóptero e nele seguiu para a residência do embaixador dos EUA em Londres. Ali chegado, faria novamente uso do seu telemóvel e iria ainda aproveitar para ver um pouco de televisão.
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11:07 – O tweet sobre a China
Se há assunto urgente na política externa dos EUA neste momento não são as suas relações com o Reino Unido — embora o Brexit faça deste um tema premente, mais para Londres do que para Washington D.C.. O assunto urgente é mesmo a guerra comercial entre os EUA e a China, que conheceu um novo capítulo este sábado, com Pequim a impor uma taxa de 25% a um total de 53,5 mil milhões de euros em importações norte-americanas, como forma de retaliação às tarifas aplicadas por Donald Trump.
Já aterrado em Londres, o objetivo do Presidente dos EUA com aquela mensagem seria o de garantir aos norte-americanos (e ao mundo) que quem verdadeiramente sofre com esta guerra comercial é a China.
China is subsidizing its product in order that it can continue to be sold in the USA. Many firms are leaving China for other countries, including the United States, in order to avoid paying the Tariffs. No visible increase in costs or inflation, but U.S. is taking Billions!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 3, 2019
“A China está a subsidiar os seus produtos para garantir que eles continuam a ser vendidos nos EUA. Muitas empresas estão a sair da China para outros países, incluindo para os EUA, para não terem de pagar tarifas. Não há sinais de subida nos preços ou inflação, mas os EUA estão a ganhar milhares de milhões”, escreveu Donald Trump, no segundo tweet da manhã.
11h37 – O problema que é só haver CNN na televisão
Donald Trump vê muita televisão e isso não é segredo para ninguém. De acordo com o que o Washington Post escrevia pouco depois de o Presidente dos EUA ter tomado posse, em janeiro de 2017, o hábito rondava as cinco horas. Já em dezembro de 2017, o The New York Times recorria a fontes na Casa Branca para estimar esse tempo entre quatro a oito horas por dia. Trump acabaria por desmentir tudo isto, dizendo que não tinha tempo para ver tanta televisão quanto isso. “Na verdade, eu leio muito mais, muito mais do que vejo televisão”, disse.
Seja como for, uma das primeiras coisas que Donald Trump fez quando aterrou em Londres foi ligar a televisão. E, quando viu o leque de canais disponíveis, não ficou nada contente, como explicou no seu terceiro tweet do dia.
“Acabei de chegar ao Reino Unido. O único problema é que a CNN é a principal fonte de notícias disponível dos EUA. Depois de ver um pouco, desliguei a televisão. É tudo negativo e tem tantas notícias falsas, é mau para os EUA”, disse. E, depois, referindo que a CNN está com “uma grande queda nas audiências” — uma afirmação questionável, já que ainda na semana de 20 de maio a CNN crescia a dois dígitos em relação ao período homólogo de 2018 —, fez um tag para a empresa-mãe da CNN e perguntou: “Porque é que a AT&T não faz nada?”.
Just arrived in the United Kingdom. The only problem is that @CNN is the primary source of news available from the U.S. After watching it for a short while, I turned it off. All negative & so much Fake News, very bad for U.S. Big ratings drop. Why doesn’t owner @ATT do something?
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 3, 2019
Minutos depois, voltou à carga, ainda no mesmo tema: “Acho que se as pessoas deixassem de usar ou de assinar a AT&T eles seriam obrigados a fazer grandes alterações na CNN, que, de qualquer das maneiras, está a morrer nas audiência. São tão injustos com notícias tão más e tão falsas. Porque é que não fazem nada? Quando o mundo vê a CNN, fica uma imagem falsa dos EUA. Que tristeza!”.
I believe that if people stoped using or subscribing to @ATT, they would be forced to make big changes at @CNN, which is dying in the ratings anyway. It is so unfair with such bad, Fake News! Why wouldn’t they act. When the World watches @CNN, it gets a false picture of USA. Sad!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 3, 2019
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Depois de dois tweets a atirar na CNN, Donald Trump seguiu caminho, novamente de helicóptero. Pelo caminho, Donald Trump tinha mais mensagens à sua espera — mais propriamente na ponte Vauxhall, onde a Amnistia Internacional pendurou tarjas a dizer “Resiste a Trump” e “Resiste ao racismo”.
Seguiu-se um longo período em que Donald Trump não pegou no telemóvel — ou, pelo menos, não escreveu nenhum tweet. É normal, já que estava presumivelmente ocupado.
Às 12h11, aterrou de helicóptero no relvado interior do Palácio de Buckingham. Do outro lado, na praça mesmo em frente à residência oficial da rainha Isabel II, estavam vários manifestantes pró e anti-Trump. Do lado daqueles que estavam ali para defender o Presidente dos EUA, havia quem erguesse cartazes a atacar Sadiq Kahn, dizendo que ele “não é apto para o alto cargo de mayor de Londres”. Entre aqueles que protestavam contra o Presidente dos EUA, havia cartazes contra o Donald Trump, contra o racismo e também contra o governo do Partido Conservador. Apesar de ali se terem juntado várias pessoas, não se pode falar de uma multidão de perder de vista. O The Independent chegou a escrever que a maior parte das pessoas naquela praça eram mesmo turistas, alguns dos quais nem faziam ideia de que Donald Trump estava em Londres.
Enquanto isso, Donald e Melania Trump eram recebidos pelo príncipe Carlos e a duquesa da Cornualha, Camilla Parker Bowles nas traseiras do Palácio de Buckingham. Depois de uma troca de de cumprimentos, seguiram em direção à entrada.
À porta do palácio, à espera do Presidente dos EUA, estava a rainha Isabel II — que tem em Donald Trump o 12º líder dos EUA do seu reinado. Entraram os dois para o palácio, lado a lado, às 12h19. Pouco depois, voltam à escadaria da entrada, para assistir a uma parada militar. Das janelas acima, assistiam algumas caras conhecidas da Casa Branca: a filha mais velha do Presidente, Ivanka Trump, e o seu marido, Jared Kushner, tal como o conselheiro para a Segurança Nacional, John Bolton.
Seguiu-se uma visita guiada à coleção privada de retratos da rainha Isabel II, onde foram mostrados a Donald Trump e à primeira-dama dos EUA, Melania Trump, artigos de relevo para a História dos EUA — como um retrato do primeiro Presidente daquele país, George Washington. Depois, fez uma breve visita à Abadia de Westminster, em cujo livro de visitas escreveu: “Muito obrigado. Foi uma grande honra. Sítio especial”. A seguir, foi recebido na Clarence House pelo príncipe Carlos e a duquesa Camilla, para um chá.
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18:41 – “Ainda não vi nenhuns protestos”
7 horas e 4 minutos depois do tweet anterior, Donald Trump voltou a pegar no telemóvel e usou a rede social preferida para atualizar os seus seguidores. A mensagem: está tudo bem, apesar de os media quererem passar a ideia de que está tudo mal.
“A parte da viagem em Londres está a ir muito bem. A Rainha e a família real toda têm sido fantásticos. A relação com o Reino Unido está muito forte. Há multidões tremendas de apoiantes e de pessoas que adoram o nosso país. Ainda não vi nenhuns protestos, mas de certeza que as fake news estão a fazer de tudo para encontrá-los. Muito amor por todo o lado”, escreveu. Logo depois, uma mensagem mais política, com alusões a um possível acordo comercial como Reino Unido pós-Brexit: “Além disso, também é possível um grande acordo comercial com o Reino Unido assim que eles se livrarem das correntes. Já estamos em conversações!”.
….Fake News will be working hard to find them. Great love all around. Also, big Trade Deal is possible once U.K. gets rid of the shackles. Already starting to talk!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 3, 2019
18:44 – Os russos saíram da Venezuela?
Depois da China, Donald Trump voltou a pegar noutro tema premente da política externa dos EUA: a Venezuela. No Twitter, adiantou uma informação dada por Moscovo que pode ser um sinal de que a situação naquele país pode piorar ainda mais em breve: “A Rússia informou-nos de que retiraram a maior parte da gente deles da Venezuela”. Não é claro a quem é que Donald Trump se refere, mas é possível que esta seja uma alusão aos especialistas militares russos que foram destacados para aquele país da América Latina. Este domingo, o Wall Street Journal já tinha dado conta de que a Rússia tinha retirado alguns conselheiros militares de topo da Venezuela — algo que a Rússia ainda não confirmou, mas que, a ser verdadeiro, pode prejudicar Nicolás Maduro. De acordo com a agência de notícias Sputnik, financiada pelo Kremlin, esta notícia ainda não tinha sido confirmada pelo Governo russo até à altura do tweet de Donald Trump.
Russia has informed us that they have removed most of their people from Venezuela.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 3, 2019
7:11 – Depois das tarifas da China, as do México
China, Venezuela e, logo a seguir, México. Na sexta-feira, Donald Trump anunciou que, a 10 de junho, os EUA vão impor uma tarifa de 5% em todos os bens importados do México. Até quando? “Até todos os imigrantes ilegais que vêm para o nosso país vindos do México pararem de chegar”, escreveu o Presidente dos EUA à altura, também no Twitter.
Três dias depois, esta segunda-feira, Trump manteve a sua posição inicial: “Como sinal de boa fé, o México deve parar imediatamente o fluxo de pessoas e drogas que vai do país deles até à nossa fronteira a Sul. Se quiserem, eles conseguem!”. “Nessa altura, as tarifas serão retiradas. A Casa Branca dará mais detalhes em breve”, acrescentou.
As a sign of good faith, Mexico should immediately stop the flow of people and drugs through their country and to our Southern Border. They can do it if they want!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 3, 2019
Na noite desta segunda-feira, o Presidente norte-americano estará ocupado num banquete real, com a Rainha Isabel II, no qual é esperado que faça o primeiro discurso da visita. É possível, por isso, que a este tweet se siga algum silêncio, por parte de Trump, nas próximas horas. Pelo menos, até voltar para o quarto.