Foi o último discurso de Pedro Mota Soares na Assembleia da República, já que o ex-ministro ficou fora das listas do CDS para as próximas legislativas.
Aos 45 anos, Pedro Mota Soares, ou Luís Pedro — como lhe chamou José Matos Correia, recordando os anos 80 —, foi secretário-geral do CDS entre 2002 e 2005 e recebeu no final do discurso um aplauso de pé nas bancadas do PSD e CDS. Também o PS, pela voz do deputado Ascenso Simões, “enviou um abraço sentido” a Pedro Mota Soares, pelo que deu à “democracia portuguesa” nos últimos anos.
O antigo líder da bancada parlamentar do partido deixou recados ao alheamento de Portugal e da Europa em algumas matérias em detrimento de outras — não tão prioritárias, considerou —, mas prometeu “não desistir”. “Desistir é o segundo maior erro que se pode fazer em política” (o primeiro é não fazer).
A private joke com macieiras
Mais uma vez inspirado numa frase do histórico do CDS Adriano Moreira, Pedro Mota Soares disse que irá plantar macieiras e que qualquer democrata-cristão saberá o que isso significa. Foi, disse, o que fez no dia seguinte ao anúncio dos resultados do CDS nas europeias, que o deixaram fora dos lugares do parlamento europeu: foi “à sua maneira” plantar macieiras, na escola que frequentou em Cascais.
No discurso, Mota Soares recordou os “períodos de euforia e de crise” pelos quais o país passou e pelo qual “pagou um alto preço” para recuperar a “soberania empenhada”.
Manifestou as ambições do CDS de um crescimento da economia de “em média de 3% ao ano”, a garantia —nos próximos 10 anos— de que a “balança comercial é globalmente equilibrada”, a manutenção de um nível de desemprego “estável e duradouramente baixo” e a quebra “dos círculos de pobreza” transmitidos de geração em geração.
A melhoria das condições para a família também não ficaram de fora do último discurso do deputado, tal como o ambiente e a extinção de postos de trabalho como consequência da “substituição por robôs”.
Mota Soares diz-se “preocupado” com um mundo que gira “cada vez mais fora desta sala e que gira cada vez mais num eixo que não passa pela Europa”. Criticou a agenda mediática criada, que dá prioridade à discussão no parlamento de matérias não prioritárias. O deputado assume que “se possa passar de um mal que não seja só português”, que seja “um vento soporífero que atravessa toda a Europa”.
Depois de viajar no tempo até 2005, onde não havia “iPhone, Instagram, Uber, trotinetas elétricas, WhatsApp e GPS nos telemóveis”, Mota Soares deixou “uma palavra especial aqueles a quem pode ter falhado” e agradeceu aos deputados e partidos no hemiciclo.
Findo o discurso, Assunção Cristas respondeu com humor, ao requerer um ‘pedido de esclarecimento’ da bancada do CDS ao discurso de Mota Soares. O pedido serviu apenas para garantir que o partido irá “continuar a contar com Pedro Mota Soares na primeira linha da política” e agradecer “antecipadamente por aquilo que fará”.
Depois de não ter sido eleito eurodeputado pela lista do CDS nas eleições europeias de maio, o ex-líder do partido fica fora das listas de candidatos a deputados nas legislativas de outubro devido a uma regra interna da atual liderança do partido.
Líderes parlamentares ausentes
Paulo Portas, José Pedro Aguiar Branco, António José Seguro, Bernardino Soares e Luís Fazenda eram os líderes parlamentares quando Mota Soares entrou no Parlamento. “Curiosamente nenhum deles está cá hoje”, disse, indagando o “significado que isso tem”, mas respondendo no momento seguinte: “o mais provável é não ter significado algum”.
Faltou a menção à atual líder do CDS, amiga de Mota Soares mas, no regresso à bancada, Assunção Cristas tinha um expressivo abraço para dar a Pedro Mota Soares que deixará o Parlamento no final da legislatura. Ficou por esclarecer em que terrenos irá Mota Soares “plantar macieiras” a partir de outubro.