O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse esta sexta-feira que caberá ao povo dizer quem está certo ou não no escândalo que colocou em causa a imparcialidade do ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e dos procuradores da operação Lava Jato.
Questionado pelos jornalistas sobre o caso, depois de o conteúdo de novas conversas entre o ex-juiz e os procuradores terem sido divulgados pela revista Veja, o Presidente brasileiro disse que irá assistir à final da Copa América de futebol, no domingo, no Rio de Janeiro, ao lado do ministro da Justiça em sinal de apoio.
“Pretendo domingo não só assistir à final do Brasil com o Peru, bem como, se for possível e a segurança me permitir, iremos ao gramado. O povo vai dizer se nós estamos certos ou não”, afirmou Bolsonaro.
A revista Veja noticiou esta sexta-feira que Moro terá atuado ilegalmente na operação Lava Jato porque pediu a inclusão de provas, criticou uma negociação de colaboração entre um réus e o Ministério Público Federal (MPF) e opinou nas investigações, quando ainda era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância.
Moro novamente acusado de liderar ilegalmente investigação contra corrupção no Brasil
Numa extensa reportagem, a revista diz ter verificado mais de 600 mil mensagens trocadas por elementos da força-tarefa da Lava Jato durante três anos em parceira com jornalistas do portal de investigação The Intercept.
Desde o dia 9 de junho que o The Intercept tem vindo a publicar – agora também em conjunto com outros orgãos de imprensa brasileiros – o conteúdo de mensagens que obteve de uma fonte anónima e que colocaram em causa a imparcialidade da operação Lava Jato, a maior investigação contra a corrupção do Brasil.
A Veja publica diálogos inéditos em que o chefe dos procuradores da Lava Jato, Deltan Dallagnol, terá dito à procuradora Laura Tesser que o então juiz Moro pediu a inclusão de provas sobre uma transação bancária realizada pelo ‘lobista’ Zwi Skornicki a favor de Eduardo Musa, ex-funcionário da Petrobras.
A conversa ocorreu através da aplicação Telegram e, segunda a Veja, indica uma provável violação cometida pelo ex-juiz Moro, já que ao pedir inclusão de informações num processo que ele iria posteriormente julgar fere as leis nacionais e o Código de Conduta da Magistratura.
Em defesa de Moro, o Ministério da Justiça do Brasil emitiu uma nota afirmando que a revista Veja não deu ao ministro acesso ao conteúdo das mensagens reportadas e, portanto, o governante não tem “como confirmar ou responder pelo conteúdo de suposta mensagem entre terceiros”.
Segundo a Veja, Moro também terá enviado mensagens a Dallagnol, no ano de 2017, perguntando sobre a negociação de um acordo de delação premiada [confissão de crimes em troca de redução da pena] entre o MPF e o ex-deputado Eduardo Cunha.
No diálogo exposto, Moro também terá manifestando claramente ser contrário ao acordo com Cunha e pediu para ser informado sobre o andamentos das conversas com advogados do réu.
Neste contexto, se for comprovada a tentativa de Moro de questionar e contrariar um procurador sobre uma negociação de acordo de colaboração premiada com Cunha também violaria a lei.
Cunha, ex-presidente da câmara baixa do Congresso brasileiro, foi o responsável pelo início do processo de destituição da ex-Presidente Dilma Rousseff.
Acusado de corrupção, Eduardo Cunha acabou também destituído do mandato parlamentar, condenado e preso por envolvimento nos crimes investigados pela Lava Jato.
Desde que as trocas de mensagens entre o ex-juiz e membros do MPF que atuam na Lava Jato foram tornadas públicas, os envolvidos têm repetido que sempre agiram conforme a lei e que não podem garantir a veracidade dos diálogos divulgados na imprensa brasileira.
Já o Intercept Brasil, o jornal Folha de S.Paulo, a revista Veja e o jornalista Reinaldo Azevedo, que trabalham em parceria para publicar o material, alegam que as mensagens são autênticas e devem ser publicadas porque descrevem factos relevantes.