Eram seis os atletas perfilados para representar Portugal nos Jogos Olímpicos de 1912. Entre eles, a promessa do Benfica Francisco Lázaro. Maratonista, havia nascido 24 anos antes no bairro lisboeta com o mesmo nome do clube. Cedo se fez à vida a correr. Dizem os poucos registos que existem sobre ele que corria para todo o lado. Quando era “a sério”, em competição, fazia tempos que o poderiam levar a uma boa posição para Portugal na estreia da participação na maior competição multi-desportos do mundo.

O destino foi Estocolmo, na Suécia. Mais de um século depois, viajou também para lá Eduardo Breda com a missão de ser um novo Francisco Lázaro na série japonesa Idaten: Tokyo Olympics Story. “Dedicaram muito tempo à personagem, quiseram recriar muitos momentos do treino do Lázaro e quiseram, durante a maratona, demarcar uma relação de competitividade entre o japonês e o português mas sempre com um sorriso no rosto”, lembra o ator. “O japonês” é o protagonista: Shizo Kanakuri, primeira presença do Japão nos mesmos Jogos Olímpicos, a competir na maratona lado a lado com Lázaro.

“Estavam 32 graus à sombra, a prova foi sendo sucessivamente adiada por causa do calor”, recorda Eduardo. Foi a alta temperatura uma das razões mais fortes apontadas para que, ao quilómetro trinta, Lázaro tivesse caído inanimado na pista. Viera a morrer na manhã no dia seguinte, já no hospital, depois de uma injeção e do diagnóstico de meningite. Ficou por saber por que razão morreu Lázaro, mas muito se palpitou. Era a “emborcação”, uma mistura para estimular os músculos normalmente aplicada sob a pele; ou a estricnina, uma substância para evitar a fadiga tomada por alguns atletas da altura. Armando Cortesão, outro dos seis atletas estreantes nos Jogos Olímpicos, veio mais tarde acusar a causa da morte à utilização de sebo na pele por parte de Lázaro. Na autópsia, nada disto ficou provado.

Francisco Lázaro. A morte ao sol do carpinteiro que se fez mito na maratona

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Com mais cinco anos do que teria Lázaro quando morreu, Eduardo acusa a dificuldade de representar, pela primeira vez, uma pessoa que viveu mesmo e, ainda para mais, da qual quase não há registos. Se por um lado, “estava sempre a tropeçar nas mesmas imagens” do atleta, por outro lado faltava o “espaço para criar características que podiam não corresponder à realidade”. O foco esteve na ambição do atleta e na melancolia da história que perpetuou.

Lázaro deixou Sofia, sua namorada, grávida de cinco meses em Portugal. Foi na despedida antes de partir rumo à Suécia, num cais de Lisboa, que haveria dito “Ou ganho, ou morro”. E morreu.

Para simular o desmaio em prova, Eduardo teve de “dar muitas voltas de corrida à pista”, em Estocolmo. Confessa que, “quando vi os guiões, percebi que ia haver muita corrida” e teve receio de não ter traquejo necessário para o papel, por falta de preparação física. Saiu das rodagens com a sensação de ter tido uma das melhores experiências da carreira até agora.

Natural do Porto, o ator de 29 anos tem feito carreira principalmente no teatro.

Com 29 anos, o ator natural do Porto já fez televisão e cinema mas é no teatro que tem deixado mais suor, logo desde o segundo ano do curso da Escola Superior de Teatro e Cinema. Nos últimos tempos, tem “trabalhado muito” com o Teatro Experimental do Porto, colaborou recentemente com o Teatro da Comuna e em 2020 vai apresentar um espetáculo com texto original resultante de uma co-criação com a atriz Joana de Verona. Ao Observador confessa que a experiência internacional com a série japonesa ajudou a que se sinta “completamente inspirado para continuar a criar”.

Num mundo que cada vez mais reclama por fronteiras, eu pude gravar uma série internacional e partilhar um discurso artístico com pessoas de outros países” Eduardo Breda

“Toda a gente estava muito entusiasmada por, de repente, eu estar lá porque toda a gente conhecia a história do Francisco Lázaro”, recorda. Enquanto as cenas exteriores foram gravadas em Estocolmo, as interiores foram gravadas na capital japonesa em estúdios “tecnologicamente já noutra zona”, descreve Eduardo.

A série da emissora japonesa NHK estreou-se este ano e tem como objetivo promover os jogos olímpicos de 2020, em Tóquio.

Estando o Japão já a ser preparado para os Jogos do ano que vem, Eduardo presenciou fora de estúdio uma evolução de mais de cem anos face ao que se passava dentro de estúdio. “Estava a gravar em Tóquio, nos estúdios, a série referente a 1912  e, quando saía cá para fora, via a cidade a ser reconstruída para os Jogos Olímpicos de 2020. Parecia que a cidade estava a rimar com a experiência que eu estava a ter”.