Os três bancos que avançaram com um processo de execução de Joe Berardo por dívidas de cerca de mil milhões de euros conseguiram que o tribunal decretasse o arresto daquele que é apontado como o património mais valioso do empresário madeirense.

O arresto dos quadros da coleção de arte moderna foi confirmado pelo Observador, depois de o Público ter avançado a notícia. De acordo com informação recolhida pelo Observador, este arresto envolve todos os quadros, incluindo os que não estão abrangidos pelo acordo com o Estado para exposição no Centro Cultural de Belém.

A decisão do tribunal judicial da comarca de Lisboa foi tomada na sequência da ação de execução sumária colocada pela Caixa Geral de Depósitos, BCP e Novo Banco para tentar executar o penhor reclamado sobre a coleção de arte moderna. Nesta ação foi pedido o arresto das obras de arte, que os bancos consideravam ter sido dadas como garantia destes empréstimos, mas que estavam a ter dificuldades em executar pela circunstância de o penhor ter sido constituído não sobre as obras de arte, mas sobre os títulos da Associação Coleção Berardo que é a proprietária da coleção. A decisão judicial é uma vitória importante para os banco porque reconhece que a penhora sobre a dona da coleção apanha também as obras de arte, o que Berardo sempre recusou.

A ação de execução sumária para recuperar 926 milhões de dívidas não pagas deu entrada em abril. A decisão judicial de arresto destes bens é passível de recurso por parte do empresário madeirense.

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Contactada pelo Observador, fonte oficial da Fundação Berardo diz que nenhuma entidade ligada ao grupo foi notificada pelos tribunais. “Três arrestos anunciados pela comunicação social. Nenhum notificado pelos tribunais”, indicou a mesma fonte ao Observador.

Nas últimas semanas surgiram várias notícias que davam conta do arresto de património de Berardo, como o hotel Monte Palace, no Funchal, bem como dois apartamentos em Lisboa. No entanto, estes arrestos correspondem a ações de execução colocadas apenas pela Caixa Geral de Depósitos no Funchal,  onde o empresário madeirense tem a sua sede fiscal. O arresto do Monte Palace, um imóvel doado por Joe Berardo à Fundação Berardo, está avaliado a preços de mercado em mais de 7,1 milhões de euros e a sua apreensão judicial para pagamento da dívida reclamada pela Caixa no montante de 357 milhões de euros. Uma parte da dívida da Caixa tinha como garantia adicional o aval pessoal do empresário madeirense.

Tribunal arresta Monte Palace, o hotel de Joe Berardo no Funchal

Com este último arresto, bancos ficam agora depositários das obras de arte moderna e o Jornal Público avança que este património ficará depositado à guarda do Estado.

De acordo com o Público, na escolha da opção agora anunciada estiveram quatro ministros: o ministro das Finanças, Mário Centeno, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, o ministro-adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, e a ministra da Justiça, Francisca Van Dúnem.

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BCP diz que “não deixa nada por fazer”, mas não comenta dívida de Joe Berardo

“Apanhado” pelos jornalistas em plena apresentação de resultados semestrais do banco, o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, disse na tarde desta segunda-feira que “não há nada que fique por fazer” para cobrar dívidas, mas “dentro dos limites da lei e da ética”, escusando-se a comentar as notícias sobre o arresto da coleção Berardo.

“Tudo faremos e fazemos para recuperar as dívidas ao BCP. Ponto final, parágrafo. E quando digo tudo, é tudo, dentro dos limites da lei e da ética. Não há nada que fique por fazer”, disse Miguel Maya. “Acompanhamos todos os processos de uma forma muito intensa, não esperamos que as coisas aconteçam. Estamos a acompanhar tudo. Não comentamos é coisa nenhuma”.

“Não faço nenhum comentário sobre nada relativamente a conversas com o Governo, nem se tenho, nem se não tenho, nem das diligências (…) A única coisa que vou dizer é reiterar aquilo que já dissemos: não deixamos nada por fazer para recuperarmos os créditos que temos que recuperar. E não estou a falar da coleção Berardo, estou a falar da postura de recuperação do Banco Comercial Português”, assegurou Miguel Maya.