É preciso recuar 14 anos para encontrar a última vez que o círculo eleitoral de Lisboa elegeu 48 deputados para o hemiciclo. No Porto, nem antes da redução de 250 para 230 deputados (altura em que Lisboa manteve 56 mandatos durante vários governos) o círculo conseguia mandatar 40 deputados, o que vai acontecer com a eleição de outubro. Estreia é também o baixo número de deputados pelos círculos da Guarda e Viseu. Guarda, que antes da redução para 230 deputados chegou a ter cinco deputados, passa em 2019 para três e Viseu desce, pela primeira vez, aos oito. Perdem um deputado cada.
Segundo dados de recenseamento a que o Observador teve acesso, a 6 de outubro serão chamados a votar em Portugal 9.318.580 eleitores a que se somam 848.145 na Europa e 583.680 do círculo Fora da Europa. São mais de 10 milhões e 750 mil portugueses para eleger 230 deputados em 22 círculos.
Com a publicação do decreto de Marcelo Rebelo de Sousa — na quinta-feira — que convoca eleições legislativas para o dia 6 de outubro, o recenseamento eleitoral válido é o de dia 31 de julho, dia anterior ao da convocatória. O mapa com o número de deputados a eleger para a Assembleia da República e a sua distribuição pelos círculos eleitorais será publicado em Diário da República, pela Comissão Nacional de Eleições, entre 7 e 12 de agosto, respeitando a obrigatoriedade de o fazer entre os 60 e 55 dias anteriores à eleição.
Mas já é possível tirar conclusões: em território nacional há menos quase 122 mil eleitores do que nas últimas legislativas de 4 de outubro de 2015 (quando eram 9.440.297), mas o recenseamento automático dos emigrantes portugueses (na Europa e resto do mundo) faz disparar o número de eleitores para os 10.750.405, já que o recenseamento automático fez com que os eleitores fora de Portugal passassem de menos de 300 mil para mais de 1 milhão e 400 mil.
Uma distribuição de mandatos que não é indiferente às lógicas partidárias, na medida em que há distritos que são tradicionalmente mais afetos a um partido ou a outro. E o PSD pode mesmo ser o mais prejudicado. Viseu, por exemplo, conhecido por ser o “cavaquistão”, era, por norma, um reduto laranja nos tempos de Cavaco Silva, mas o PSD tem vindo a perder força no distrito. Prova disso foram as últimas europeias, onde o PSD, com 30,66%, foi ultrapassado pelo PS em Viseu, com 32,5%. Antes, nas legislativas de 2015, o PSD, em coligação com o CDS, tinha tido 52%, com o PSD a eleger 5 deputados, e em 2011, concorrendo sozinho, teve 48,3% dos votos, elegendo igualmente 5 deputados. Agora, no processo de elaboração das listas, o PSD já só contava realisticamente com a eleição de três, no máximo, quatro deputados.
Na Guarda o cenário é semelhante: tradicionalmente com números perto da maioria absoluta, o PSD foi ultrapassado pelo PS nestas europeias, e, em 2015, coligado com o CDS, elegeu 2 deputados, quando antes, em 2011 tinha conseguido eleger 3 (de um total de 4 atribuídos).