O que é que imagina quando pensa num serviço de excelência e o melhor peixe fresco que alguma vez vai comer? Provavelmente o oposto daquilo que é a essência do Monte Mar, um dos restaurantes mais antigos do Guincho: é bom porque se come muito bem, mas informal e bastante simples, desde a carta ao espaço. Um restaurante para estar com calma e confortável, como se estivesse em casa. E é aqui que a história começa. Estávamos na década de 80 quando a família que detém o grupo hoteleiro Onyria comprou o Monte Mar, em Cascais, após anos de relação entre as duas famílias. Este tornou-se um sonho transversal a várias gerações com um objetivo único: oferecer o melhor peixe fresco. Mas com as novas gerações surgem novas ideias. Em 2014, o Monte Mar fez as malas e rumou à capital portuguesa para se instalar no Mercado Time Out e, em 2016, atracou no Cais do Sodré. Este ano deu um pulinho até Troia, mas já lá vamos. Primeiro as entradas, não é?

Uma relação familiar dentro e fora da cozinha

Sabe qual é o segredo de Cascais? Esta familiaridade que apenas se consegue por o Monte Mar ter uma equipa que trabalha junta há décadas, e clientes fiéis que vão quase religiosamente como se fizessem parte da mobília. Já existe esta relação tão especial com os clientes e um serviço quase “tu cá, tu lá” que, numa cidade tão acelerada e sempre em mudança como Lisboa, é difícil replicar. “Em Cascais, cada empregado de mesa já tem os seus clientes, que, quando chegam, são logo recebidos pela pessoa a que já estão habituados, com quem já têm uma relação. E é como se chegassem a casa de um amigo”, explica Luís Pinto Coelho, administrador do Grupo. E são os próprios clientes que continuam a exigir que assim seja. Chegam a ligar para o “seu” empregado para dizer que vão jantar e o que querem comer.

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Este serviço altamente personalizado é uma das características tradicionais que o Monte Mar teima em manter. E é aposta ganha. São estas relações que fazem as casas. E Luís Pinto Coelho não tem dúvidas de que este ambiente familiar é uma das chaves do sucesso. “E a Família Rocha!”, diz. Falamos de Laura e Carlos Rocha, responsáveis pelo restaurante em Cascais.  “A Laura e o Carlos montaram connosco o restaurante de Cascais. A Laura é a responsável por tudo o que se come e é o Carlos que vai todos os dias buscar o peixe, o marisco e ainda alguns elementos da equipa à estação de comboios! Junta-se uma família que gosta de empreendedorismo a uma família que faz maravilhas com a cozinha tradicional, e temos um bom casamento.”

O mar de Cascais na sua versão lisboeta

Foi este espírito que o Monte Mar trouxe na bagagem quando assentou arraiais no Cais do Sodré, em cima do Tejo, em 2016. “Depois do sucesso no Mercado Time Out, quisemos replicar o Monte Mar de Cascais na capital: conceito simples, tradicional e informal, com muita qualidade.” E porque na carta da chef Laura não se mexe, mantiveram-se os mesmos pratos – dos já célebres filetes com arroz de berbigão às espetadas de lulas com gambas. Mas não foi um exercício fácil. “Quando abrimos em Lisboa, começámos a ter clientes de Cascais que diziam que os filetes não estavam iguais ou que as iscas sabiam de forma diferente. E tivemos de andar um pouco para trás. Colocámos a chef Laura a ensinar e a trabalhar com os chefs de Lisboa. Demorámos um ano a ter a cozinha de Lisboa no ponto”, diz Luís Pinto Coelho. Hoje, a capital tem uma larga equipa de cozinha e um espaço que se estende por dois andares e se adapta bem a qualquer ocasião.

Os segredos de quatro décadas de sucesso

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  1. A qualidade do produto: “O Quim da Lota é um dos segredos do Monte Mar. É o fornecedor com quem temos a máxima confiança. Todos os restaurantes têm de ter o seu Quim da Lota. Se, num dia, o Quim achar que a garoupa não está boa, não nos vai vender, porque sabe que queremos o melhor peixe. E esta relação de confiança é um dos pilares de um restaurante.”
  2. A frescura do peixe e do marisco: “Todos os dias confirmamos que está tudo bom e somos muito críticos na nossa cozinha. Se vemos que os filetes não estão bons, optamos por não os servir nesse dia. Somos sempre honestos com os clientes.”
  3. Tudo se aproveita: “Um peixe que não está fresco para grelhar, dá uma excelente sopa de peixe. Se temos uma lagosta no aquário que ninguém pediu, usamo-la para um arroz de marisco como prato do dia. Tentamos reaproveitar tudo.
  4. Serviço alegre e descontraído: “Ter uma equipa que gosta de aqui estar, de servir os seus clientes com um sorriso e adaptado ao que o cliente quer. Uns querem mais conversa, outros um serviço mais formal.”

Se googlar Monte Mar é capaz de se deparar com fotografias de um espaço escuro. E muitas reviews dizem que mais parece uma discoteca. Mas isso é porque ainda nem toda a gente conheceu o Monte Mar Lisboa que esteve em obras este ano. E porque era efetivamente uma discoteca – a mítica discoteca lisboeta Armazém F. Inicialmente, tentaram seguir a mesma decoração de Cascais, mantendo o espírito industrial do próprio edifício. “Nunca quisemos pegar numa discoteca, mas a localização apaixonou-nos. E começámos a olhar para tudo o que podíamos fazer com este espaço. Mas apercebemo-nos que era como se tivéssemos dois restaurantes. Se estivesse frio e as pessoas ficassem cá dentro, iriam perder toda a experiência do rio, porque as salas eram escuras. E há mais restaurantes ótimos em Lisboa. Compreendemos, então, que tínhamos de mudar a forma como os clientes iriam viver o Monte Mar em Lisboa.”

“Ingenuamente, desvalorizámos a concorrência de Lisboa”

Quem se senta hoje no interior não perde a experiência de estar na esplanada. Há paredes de vidro, muita luz e toda a decoração segue a modernidade de Lisboa, mas com equilíbrio para manter a tradição da casa. “Depois do marco que já é no Guincho e depois do mercado Time Out, achámos que colocar o nome Monte Mar significava sucesso imediato”, partilha Luís Pinto Coelho. “Mas estávamos enganados. Desvalorizámos a concorrência lisboeta que tem restaurantes e chefs muito bons. E tivemos muito que aprender. Ainda estamos a aprender todos os dias”, adianta.

Luís ressalva que há uma barreira psicológica em vir para o Cais do Sodré. “Isto não é como a Baixa ou a Avenida da Liberdade. E o facto de não haver caminho direto faz com que as pessoas interiorizem que já é um sítio demasiado longe para se almoçar durante a semana.” Mas é aqui que o espírito empreendedor da família ganha vida. Quem marcar mesa no Monte Mar Lisboa ao almoço, tem Uber gratuito para quebrar a barreira de que almoçar no Cais do Sodré, durante a semana, é longe.

E o desafio também está na própria mentalidade e forma de viver de Lisboa que é diferente de Cascais, onde a equipa trabalha junta há 20 anos. Em Lisboa, as pessoas saltam de emprego em emprego. “Tivemos que nos adaptar. Queremos, tal como em Cascais, que os clientes voltem e sejam recebidos pela mesma equipa, mas aqui os próprios clientes também são outros.” Enquanto Cascais tem um ambiente muito familiar e clientes locais, Lisboa tem muitos turistas e clientes diversificados, quer colegas de trabalho que vêm almoçar, empresários que vêm com os seus clientes e, claro, as famílias ao fim de semana.

Há muitas razões para ir ao Monte Mar. E não só gastronómicas

Juntar famílias, turistas e jovens no mesmo restaurante é obra? Não no Monte Mar Lisboa que tem espaço de sobra – uma sala de vidro privada; zona para eventos, festas ou reuniões no primeiro andar, com cozinha e casas de banho próprias; esplanada; festas sunset; serviço de Uber; e, porque nem os mais novos foram esquecidos, uma zona infantil em parceria com a empresa de animação FUNToche. “Queremos atrair mais clientes, e pensámos em razões para as pessoas quererem vir até cá e formas úteis de usar todo o nosso espaço em prol dos vários tipos de clientes que podemos ter”, diz Luís Pinto Coelho. Assim, para as famílias que vão ao fim de semana, há sempre animadoras da FUNToche para entreter as crianças. E o ADN familiar mantém-se: “As animadoras são sempre as mesmas, porque queremos que os miúdos as conheçam e criem ligações com elas. Já temos famílias que vêm regularmente porque os filhos pedem aos pais para vir. E isto também é bom para as relações familiares. Os pais estão descansados, porque, enquanto a família almoça e convive, os miúdos estão entretidos num espaço seguro”.

“Esta é a melhor esplanada de Lisboa?”, perguntamos a Luís Pinto Coelho que acena com a cabeça. Mas não é uma piada. “Começámos a comunicar-nos como a melhor esplanada de Lisboa. Porque não? Também não existe a loja do melhor bolo de chocolate do mundo? Seguimos a mesma lógica porque acreditamos na nossa esplanada.”  E bem pode acreditar que a experiência vale a descida até ao Cais do Sodré. Bem acomodada em cima do Tejo e com vista para a Ponte 25 de Abril e para o Cristo Rei, o verão traz agora o convite para vir até cá beber um copo até ao pôr-do-sol: tem DJ, espreguiçadeiras e um serviço de beba dois copos e pague um. “Tudo para dar a conhecer o Monte Mar aos lisboetas”, conclui Luís Pinto Coelho. Mas nem os clientes mais preguiçosos ficam de fora. Para quem não quer sair de casa, já pode pedir alguns pratos do Monte Mar através do serviço do Uber Eats.

Mas, afinal, o que é que se come aqui?

Os filetes com molho tártaro e arroz de berbigão já dispensam apresentações. É um dos pratos que mais fama deu ao Monte Mar, em Cascais, e que a chef Laura ensinou a equipa de Lisboa a fazer com toda a minúcia, uma vez que são temperados e secos um a um. Mas estamos em Lisboa. E Lisboa tem turistas. E o que é que filetes são para os turistas? Fish and chips! “Enquanto os portugueses adoram os nossos clássicos filetes, os turistas olham e torcem logo o nariz. Aqui, em Lisboa, o prato que mais sai é o peixe ao sal que vem ainda a arder da cozinha e a travessa é despinhada em frente ao cliente. Os turistas gostam destes pequenos espetáculos”, partilha Luís Pinto Coelho.

Mas o Monte Mar também tem noção que tem de saber adaptar-se. É quase como um irmão mais novo que está a crescer e começa a dar os seus primeiros passos sozinho. Se em Cascais os pratos tradicionais são as estrelas, aqui, pelo contrário, pode explorar a carta ao seu gosto. “Tudo o que seja misturar peixe e marisco parece ser o que mais funciona, pelo que abrimos a nossa carta à-vontade do cliente. Têm saído muito os petiscos para partilhar e misturar pratos com entradas. Aqui em Lisboa, sabemos que temos de ser rápidos a acompanhar as mudanças e a modernidade. Temos de saber reagir e antecipar aquilo que os clientes vão querer.” É vegetariano? Sem problemas. “Um hotel enviou-nos, um dia destes, um grupo de clientes vegetarianos, e tivemos de improvisar. Mas correu bem. Agora estamos a explorar formas de expandir a nossa carta para ter pratos vegetarianos. Queremos estar abertos a todo o tipo de clientes”, resume Luís Pinto Coelho.

Mencionamos apenas alguns pratos para lhe abrir o apetite: Pregado à Padeiro, Sapateira Recheada e, porque a carne não fica esquecida, Iscas à Portuguesa ou Posta à Mirandesa são só algumas sugestões. Favoritos? É difícil dizer. “Sempre achámos que a nossa especialidade eram os filetes. Mas começámos a perceber que há pessoas que só vêm para comer as iscas ou os crepes de lagosta. Já nos disseram que vinham cá porque tínhamos o melhor linguado de Lisboa. É uma surpresa perceber que há clientes que vêm para pratos mais específicos que nós nem diríamos que eram o nosso ponto forte.”

Depois do Guincho, do Mercado Time Out e do Cais do Sodré, o Monte Mar foi este ano de férias para Troia, como parte do projeto da Sonae em revitalizar esta zona. “Troia é um dos melhores destinos em Portugal e a única zona em que o areal está a crescer, mas está muito despojada de serviços de restauração”, explica Luís Pinto Coelho. E lá foi, uma vez mais, a chef Laura ajudar a montar e a formar a equipa que vai trabalhar nos espaços de verão: o Monte Mar na Marina de Troia, o restaurante na praia Troia-Mar e o bar na praia do Bico das Lulas. A carta vai ter alguns dos pratos mais conhecidos do Monte Mar, mas adaptados ao registo de praia, com coisas mais leves.

E para o futuro? O Monte Mar sabe que tem ainda muito que crescer para se consolidar. Traz quatro décadas de bagagem no Guincho, mas ainda é um bebé na capital. “Em Lisboa, abre-se e fecha-se muito”, diz Luís Pinto Coelho. “Há espaços sempre a reinventarem-se, mas nós queremos ficar e ir evoluindo como em Cascais.” E isso significa criar relações longas, quer com as equipas, quer com os clientes. Muitos dos membros da equipa de Cascais vieram para Lisboa para ensinar os colegas novos, para transmitir o ADN do Monte Mar. “Queremos trazer a tradição do nome Monte Mar para Lisboa, mas também sabemos que estamos numa cidade que é rápida a mudar de ideias. Há poucos restaurantes de peixe fresco em Lisboa, e queremos que os clientes nos conheçam por isso, mas o desafio é sabermos adaptar-nos ao cliente lisboeta, sempre em mudança. Mas primeiro temos de nos dar a conhecer, precisamos de mais passa a palavra, como aconteceu em Cascais.”

Jantares na esplanada, finais de dia entre amigos, almoços sem horas com a família… O Monte Mar está aberto de terça a domingo das 12h às 23h.

Saiba mais informações sobre no site do Monte Mar em www.mmlisboa.pt.