Quase duas dezenas de mulheres encheram uma sala do tribunal de Nova Iorque na terça-feira. De origens diferentes, de idades diferentes, com passados diferentes, uma a uma abordaram o trauma dos alegados abusos sexuais cometidos pelo milionário Jeffrey Epstein. Para muitas, foi a primeira vez que falaram sobre o caso em público.

A audiência foi convocada depois de os procuradores revelarem que estão a pensar em deixar cair as acusações de tráfico sexual contra Epstein, depois de o magnata se suicidar este mês na cela onde estava preso, em Nova Iorque, aos 66 anos, enquanto aguardava julgamento. Esta decisão requer a aprovação do juiz, Richard M. Berman, que incentivou então as mulheres a falarem dos traumas.

“A morte do sr. Epstein significa, obviamente, que um julgamento onde ele é o acusado não pode acontecer. Penso que é responsabilidade do tribunal garantir que as vítimas neste caso são tratadas de forma justa e com dignidade”, disse o juiz, citado pelo New York Times.

“Ele é um cobarde”, acusou uma das alegadas vítimas. “O facto de nunca poder vir a enfrentar o meu predador em tribunal destrói-me por dentro”, disse outra.

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Em fila, de pé, algumas com as mãos dadas e entre sussurros de encorajamento, as mulheres falaram do que terão sofrido. Várias alegaram que foram violadas por Epstein quando tinham apenas 14 e 15 anos e os abusos, dizem, aconteceram em várias das propriedades do milionário norte-americano.

Eu sou todas as raparigas a quem ele fez isto, e todas elas são eu também. E, hoje, estamos aqui juntas, por quem está presente e por quem não está também”, disse Anouska De Georgiou, uma das alegadas vítimas.

Uma das mulheres, que não se identificou, contou que Epstein a levou para uma das suas casas no Novo México em 2004, quando tinha apenas 15 anos e era virgem. O magnata, afirma, violou-a e ter-lhe-á dito que a estava a “ajudar a crescer”. “Quando ele acabou, pediu-me para descrever quão boa tinha sido a minha primeira experiência sexual”, disse em tribunal.

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Jennifer Araoz também alega ter sido violada quando tinha apenas 15 anos. “Ele roubou-me os meus sonhos, a minha oportunidade de seguir uma carreira que adorava”, referiu. Outra mulher, Chauntae Davies, descreveu o momento em que terá sido violada por Epstein depois de ser contratada como massagista, na ilha privada do milionário. Quando a então rapariga implorou ao empresário para parar, ele terá dito que “isso só o excitava ainda mais”. “Não o vou deixar ganhar com a morte”, garantiu.

Depois da audiência, Virginia Giuffre revelou aos jornalistas que, para além de ter sido violada e mantida como “escrava sexual” de Jeffrey Esptein, também foi obrigada a ter relações sexuais com o príncipe André, duque de York, em três ocasiões, quando tinha 17 anos. Giuffre diz, citada pela BBC, que o príncipe “sabe o que fez ” e pede à realeza do Reino Unido para “esclarecer” tudo.

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Para todas estas mulheres, Jeffrey Epstein fugiu à justiça com a morte. Morte essa, defendem os advogados do empresário, que não foi bem investigada. Reid Weingarte pediu ao juiz Berman, durante a audiência, para fazer uma investigação independente ao suicídio do cliente. “O tribunal tem um papel a desempenhar”, destacou o advogado. O juiz admitiu, também durante a audiência, que a morte do homem de 66 anos veio revelar-se “uma viragem surpreendente” no caso.

Deixaram este homem matar-se, matando também a oportunidade de se fazer justiça para muitas outras (mulheres) envolvidas no caso, levando consigo a nossa hipótese de falar”, disse ainda Jennifer Araoz.

As quase vinte mulheres que contaram os alegados abusos na terça-feira em tribunal apelaram aos procuradores para continuarem a investigar os empregados e sócios de Jeffrey Epstein, dizendo que muitos deles faziam parte do esquema de abuso e tráfico sexual. “Por favor, acabem o que começaram”, apelou Sarah Ransome, que também acusa o norte-americano de violação.

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