Assunção Cristas esteve em direto no programa “Sob Escuta” da Rádio Observador para uma entrevista de uma hora com os jornalistas Miguel Pinheiro, Pedro Benevides e Rita Tavares. A entrevista acontece no dia em que o CDS apresenta o seu programa para as legislativas de 6 de outubro.

Questionada sobre a polémica medida de pôr os alunos sem vaga nas universidades públicas a poder pagar para entrar, a líder do CDS afirma que o país precisa de “mais gente formada nas áreas onde o tecido empresarial precisa” e que as universidades dizem ser possível receber mais alunos, o que só não acontece porque “o Estado não deixa as universidades formar mais pessoas”. Daí que proponha que os alunos possam pagar para entrar, aliado a um sistema de empréstimos e de bolsas, admitindo que isso representa um acréscimo de despesa para o Estado: “O ganho é superior ao custo”.

“Se temos nas nossas universidades públicas a possibilidade de ter 20% de alunos vindos de fora a pagar uma propina mais elevada do que aqueles que entram nos numerus clausus também devemos ter condições semelhantes para alunos portugueses”, disse.

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Assumindo que a “prioridade número um” do CDS é baixar impostos, porque é “essencial para termos uma economia mais competitiva e preparada para eventuais embates”, Assunção Cristas diz que um partido político tem duas opções: ou cruza os braços e não faz nada, correndo o risco de uma crise bater à porta, ou faz tudo o que está ao seu alcance para se preparar para eventuais embates. O CDS, diz, prefere a segunda opção, embora não acredite que uma crise económica esteja prestes a bater à porta. “Não posso projetar coisas com base em fantasmas e diabos, a crise aparecerá, não se sabe é quando”, disse.

“O nosso dever é apresentar propostas para nos preparar melhor para uma situação menos boa se ela aparecer: ou não fazemos nada e esperamos que apareça o problema, e não estaremos preparados para o enfrentar, ou fazemos e quando ele chegar estamos mais preparados”, afirmou ainda, criticando António Costa por ter ironizado contra quem dizia que vinha aí o diabo mas agora já admitir que uma crise possa estar a caminho. “Se toda a gente acha que vem aí uma crise é melhor despachar já o governo do PS, porque se há coisa que nós sabemos é que eles não sabem tratar de uma crise. Sabem pôr o país numa crise e afundar o país, isso sim”, disse.

“Não é para baixar impostos porque vem aí uma crise? Então quando é altura para baixar impostos? Nós achamos que é agora. E a redução de impostos que propomos é realista”, disse, defendendo essa como prioridade e admitindo que se algo se alterar, então o corte é na despesa, e não no aumento de impostos. “Se as coisas se alterarem, vamos cortar na despesa”, disse.

Sobre a Administração Pública, Assunção Cristas admitiu que  “não estaria a contratar funcionários públicos como este governo está a contratar”, mas rejeitou despedimentos na Função Pública ou reduções salariais — até porque “o Tribunal Constitucional não deixa”. Em relação à ADSE, a líder do CDS defende que o princípio não é de extinção mas de sustentabilidade para “não haver dois países diferentes”. “É preciso fazer um estudo para garantir que a ADSE é sustentável e para abrir a todas as pessoas que o queiram, permitindo que outros possam aderir a um sistema que é positivo”, disse, defendendo o princípio da “liberdade de escolha”.

“É desigual e injusto que quem não tenha a possibilidade, fique à espera anos para ir a uma consulta”, disse ainda, defendendo a complementaridade entre setor público, privado e social.

“Passámos mal uma mensagem, isso parece-me evidente”

Quanto à estratégia política, Assunção Cristas rejeita que tenha havida uma mudança de estratégia ou uma inversão depois do desaire das Europeias, mas admite que houve erros. “Passámos mal uma mensagem, isso parece-me evidente”, disse, deixando claro que o problema “não foi dos eleitores, nunca é”.

“Não mudei a minha estratégia, a estratégia do CDS continua a ser construir uma alternativa de centro direita em Portugal: queremos contribuir o mais possível para esse número”, disse, admitindo que a ambição continua a ser de “virmos a ser a primeira escolha um dia”, sendo que esse dia pode ser “agora, ou no futuro”. “Sempre dissemos que, depois do que aconteceu em 2015, acabou o voto útil. A estratégia do CDS
continua a ser a de contribuir para uma maioria de 115 deputados mais um”, disse ainda.

Questionada sobre eventuais parecenças entre o CDS e o Basta, de André Ventura, Assunção Cristas rejeitou por completo quaisquer comparações, apesar de haver matérias, como as migrações ou as questões securitárias onde se encontram frases idênticas ditas por André Ventura e por Nuno Melo (eurodeputado centrista). “Não tenho dificuldade em identificar aí uma frase de Nuno Melo“, disse a dada altura sobre a seguinte frase, dita por André Ventura: “Não queremos fechar a porta a quem procura a Europa como ponto de acolhimento, não podemos é deixar que cheguem e entrem de qualquer maneira”.

“Nós não temos nada a ver com o Basta, por isso com o Basta não vamos ter qualquer coligação”, afirmou por fim, admitindo que “incomoda quererem colar o CDS a um partido que não revejo no sistema partidário”.

Questionada sobre se pode garantir que se vai recandidatar a líder no próximo congresso, Assunção Cristas rejeitou responder à questão. “Estou focada nas eleições de outubro, onde acredito que o CDS pode ser uma surpresa, e estou focada em explicar porque é que faz sentido votar no CDS, porque valorizamos o mérito, porque queremos reformas no país, porque olhamos para o território como um todo”, disse, afirmando que essa, e apenas essa, é a sua preocupação.

“Felizmente sou muito livre. Eu nem sequer estou a pensar nisso (na recandidatura), essa é a minha última preocupação. Porque estou na política por serviço. A minha energia está virada para aí”, disse, acrescentando que se sair da política, tem outras paixões, como o Direito. “Tenho uma grande capacidade de me apaixonar pelas coisas”.

Esta foi uma edição especial do Sob Escuta, o programa de grandes entrevistas da Rádio Observador. A entrevista, conduzida pelo diretor-executivo Miguel Pinheiro, pelo editor de Política, Pedro Benevides, e pela jornalista Rita Tavares, pode também ser ouvida aqui.