O primeiro debate televisivo das legislativas de 6 de outubro foi transmitido esta segunda-feira à noite, na SIC, com António Costa e Jerónimo de Sousa a confrontarem-se durante trinta minutos. O debate arrancou com o balanço, de parte a parte, dos quatro anos de acordo das esquerdas, embora em sentidos diferentes. Mas a divergência mais vincada entre os dois candidatos — parceiros até agora — foi relativa à legislação laboral. Só aqui a “geringonça” descarrilou, para se voltar a aproximar aos 25 minutos de debate.

Depois dos cumprimentos iniciais sobre a prestação da “geringonça”, Costa acabou por ouvir de Jerónimo de Sousa que o combate à precariedade não foi suficiente, apontando para as alterações ao código laboral que foram viabilizadas pela direita. Costa deu exemplos de mudanças que considera deverem ser valorizadas pela esquerda , como o período experimental aplicado aos trabalhadores, para o qual os estágios, por exemplo, passaram a contar. A legislação laboral foi mesmo o tema que mais debate suscitou entre os dois candidatos às legislativas, com o comunista a considerar que as questões salariais e da proteção dos contratos não tiveram resposta à altura.

António Costa garantiu, por seu lado, a reforma que foi feita é “a primeira, desde 1976, que em vez de comprimir direitos, os alarga”. E argumentou que PSD e CDS não votaram a favor da reforma, mas sim que ela “resultou de um acordo feito em concertação social. Na verdade, os partidos da direita abstiveram-se na votação, permitindo a viabilização das alterações propostas pelo Governo. Mas Costa ainda acabou a garantir ao seu parceiro dos últimos anos que na contratação de jovens licenciados “é inaceitável que sejam praticados os níveis salariais que existem”. “Temos de trabalhar com os parceiros sociais e ter outras medidas, como manuais gratuitos. e novos passes sociais”, para apoiarem essas famílias.

Jerónimo de Sousa aproveitou a deixa para registar o compromisso do socialista: “Aparentemente há uma convergência”. Referia-se às medidas ali prometidas por Costa para a “revisão dos salários”. A cinco minutos do fim do debate, PCP e PS voltavam a alinhavar um ponto em que há matéria para estabelecer pontes na próxima legislatura. Ainda assim, Jerónimo de Sousa quis deixar o aviso que só decidirá apoiar o próximo Governo “perante conteúdos concretos. Se alguém pensa que vamos voltar para trás com descongelamentos ou desvalorização de salários… se isso estiver refletido nas proposta de lei e no Orçamento do Estado, não terão acompanhamento do PCP”.

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“Geringonça” de cá, “geringonça” de lá

Os dois líderes partidários passaram os primeiros minutos do debate a analisar os quatro anos de convívio e apoio político. Costa diz que há motivos para os quatro partidos (PCP, BE e PEV) se sentirem “honrados” com  a legislatura que agora se encerra, já Jerónimo de Sousa prefere separar a boa “relação pessoal” com Costa do que aconteceu na governação: “Isso pode estabelecer confusão entre o que não é confundível”. O líder comunista prefere focar no contributo do seu partido para o que foi conseguido. Costa acabou por responder que o PS foi “o único a assumir por inteiro esta governação”.

Cada um puxa os louros ao seu lado, a pouco mais de um mês das legislativas, depois de quatro anos em que o PS contou com o PCP para governar com estabilidade. O socialista acredita que os partidos “conseguiram provar que os caminhos não eram incompatíveis”. E o comunista também assume que o acordo não foi mau para o PCP e que na rua ouve “uma nota geral, que á a valorização da proposta” do PCP. E sobre a geringonça, o elogio saiu quase a ferros: “Valorizamos o que é de valorizar. Nós, enfim… consideramos que foi importantíssimo repor direitos que alguns achavam perdidos“. Mas não se atravessa sobre a continuidade da solução das esquerdas: “A conjuntura será diferente, não será igual”.

O debate terminou com os dois a serem confrontados com temas relativos a decisões individuais. Costa sobre se vai manter Mário Centeno no Governo. O socialista deixou claro que conta com o ministro das Finanças, como já tem dito, referindo que “quem tem de formar uma equipa não deixa no banco os melhores jogadores que podem jogar”.

Já Jerónimo de Sousa foi confrontado sobre a sua continuidade na liderança do partido, depois das legislativas. “A questão do secretário-geral não está posta”, disse aconselhando calma “aos apressados”.  Promete fazer “esta  campanha com toda a disponibilidade e determinação” e garante ter “a confiança” do partido.

O líder comunista só aceitou estar neste debate com o líder do PS e naquele em que vai confrontar-se com o líder social-democrata Rui Rio, já que o PCP discorda do modelo de debates que foi acordado entre as televisões e os partidos.

Rui Rio e António Costa vão enfrentar-se duas vezes: a primeira, a 16 de setembro, será transmitida pela RTP, SIC e TVI; e a segunda será difundida na Rádio Renascença, Antena 1 e TSF a 23 de setembro. No dia 23 de setembro, os candidatos do PS e PSD, têm, além do debate a dois durante a manhã, o último debate com os seis partidos com assento no Parlamento. Este último debate será transmitido na RTP1.