Ágatha Felix, de apenas 8 anos, seguia para casa numa carrinha com a avó quando foi atingida nas costas por uma bala perdida, na noite de sexta-feira. O caso aconteceu na localidade de Alvorada, Complexo do Alemão, um dos bairros mais pobres do Rio de Janeiro, no Brasil. A menina ainda foi levada para o hospital, mas acabou por morrer durante a noite de sábado.
A família acusa a polícia da autoria do disparo, que tinha como objetivo acertar num motociclista. A versão das autoridades é a de que respondiam a desacatos no Complexo do Alemão. Durante a intervenção, os agentes foram atacadas por um grupo de traficantes e iniciou-se uma troca de tiros.
A família já veio refutar esta versão, negando a existência de um tiroteio. “Veio um maluco de moto e a polícia mandou parar. O maluco não parou, foi embora, sem arma nem nada, e a polícia atirou. Não teve tiroteio, o único tiro que teve foi o deles, fatal, foi o que tirou a vida da nossa sobrinha”, disse Elias Cesar, tio de Ágatha Félix.
O caso está a ser investigado pela polícia, mas essa garantia não foi suficiente para afastar os manifestantes das ruas. Este sábado, centenas de moradores do Complexo do Alemão manifestaram-se contra a violência policial, defendendo o fim das operações policiais na zona do Complexo do Alemão, que este ano já mataram seis pessoas no bairro.
Os manifestantes ergueram cartazes com os nomes de algumas das vítimas da violência policial, assim como mensagens como “Parem de nos matar”, “Chega de morte “ e “Não quero enterrar meu filho”. Para este domingo estão marcados novos protestos.
Moradores do Complexo do Alemão estão neste momento realizando uma manifestação na entrada da Grota pela violência na favela e pela morte da Ágatha Félix, de 8 anos. pic.twitter.com/tCzzDNoLxb
— Voz das Comunidades (@vozdacomunidade) September 21, 2019
O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, lamentou na rede social Twitter a morte de Ágatha Félix, sublinhando que a menina “é a quinta criança morta em tiroteios no Rio de Janeiro” este ano. No mesmo período e ao todo, 16 foram baleadas. O responsável apelou à polícia para que tenha “respeito à dignidade e à vida humana”.
Os casos de mortes resultantes de ações policiais nas favelas são alarmantes. Ágatha é a quinta criança morta em tiroteios no RJ neste ano. Ao total, 16 foram baleadas no período. Uma política de segurança pública eficiente deve se pautar pelo respeito à dignidade e à vida humana
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) September 22, 2019
1.249 pessoas foram mortas este ano pela polícia no Rio de Janeiro
Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Brasil, entre janeiro e agosto deste ano, já foram mortas 1.249 pessoas pela polícia no Estado do Rio de Janeiro, uma média de cinco mortes por dia. A Ordem dos Advogados do Brasil diz que se trata de “um recorde macabro que este governo do Estado aparenta ostentar com orgulho”.
Muitos manifestantes culpam o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, pelo aumento da violência. O governante tem defendido abertamente o recurso a disparos em operações policiais, assim como o uso de atiradores de elite e de snipers. Numa entrevista chegou a dizer: “A polícia vai mirar na cabecinha e… Fogo!”
Em comunicado, Witzel lamentou a morte de Ágatha, mas frisou que “a política de segurança do Governo do Estado do Rio de Janeiro é baseada em inteligência, investigação e reaparelhamento das polícias. Desde o início de 2019, as polícias Civil e Militar têm trabalhado para reduzir os índices criminais e retomar território ocupados pro-frações criminosas ao longo dos últimos anos”.
Segundo dados da ONG Rio de Paz, Ágatha Félix é a 57ª criança a morrer baleada no Rio de Janeiro desde 2007.
ACABEI DE RECEBER A CONFIRMAÇÃO QUE A MENINA AGATHA VITÓRIA FELIX NÃO RESISTIU AOS FERIMENTOS E MORREU! NÃO PODEMOS ADMITIR QUE ISSO SEJA NORMAL, GENTE! CHEGAAAAAAAA!!! #VidasNegrasImportam #ACulpaEDoWitzel pic.twitter.com/ve0cpIjfWH
— Rene (@eurenesilva) September 21, 2019
Na cidade de São Paulo, vários movimentos civis marcaram para a próxima sexta-feira, dia 27 de setembro, um protesto em homenagem à menina.