Depois de uma semana em que ficou a saber que foi formalmente acusado pela Football Association, a entidade que regula o futebol inglês, de “conduta imprópria”, graças a uma brincadeira com um colega de equipa nas redes sociais, Bernardo Silva voltava este domingo a ser suplente. O jogador português, que foi titular a meio da semana na Liga dos Campeões mas já no passado fim de semana tinha começado a partida da Premier League sentado no banco, parece estar a ser protegido pelo próprio clube, pelo menos a nível interno, numa altura em que está no centro da polémica em Inglaterra.

Sem Bernardo, Pep Guardiola também não tinha este domingo, contra o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo, Kevin De Bruyne, que se lesionou numa fase da temporada em que estava num pico de forma assinalável. Para enfrentar no Etihad a equipa mais portuguesa de Inglaterra, o treinador espanhol lançava João Cancelo no onze titular, na esquerda da defesa. Do outro lado, Espírito Santo dava a titularidade a João Moutinho, Rúben Neves e Rúben Vinagre no meio-campo e formava a dupla atacante com o reforço Cutrone e Raúl Jiménez, já que Diogo Jota está ainda nas mãos do departamento médico.

O apoio dos adeptos do Manchester City a Bernardo Silva

Este domingo, o Manchester City tinha obrigatoriamente de ganhar para voltar a ter cinco pontos de diferença para o líder Liverpool, já que entrava em campo a saber desde logo que os reds não escorregaram e venceram este sábado um complexo Leicester. Mas se a equipa de Guardiola vinha de uma importante vitória para a Liga dos Campeões, com o Dínamo Zagreb, o Wolves aparecia acabado de sair daquela que terá sido a melhor semana da época até este momento: depois de conquistar o primeiro resultado positivo na Premier League no fim de semana passada, frente ao Watford, o conjunto de Nuno Espírito Santo foi à Turquia bater o Besiktas para a Liga Europa e somar os primeiros pontos nas competições europeias. Isto, contas feitas, significava contudo que o Wolverhampton teve menos dois dias de descanso do que o Manchester City na antecâmara desta visita ao Etihad.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os jogadores dos citizens, porém, não entraram em campo com o melhor augúrio. Se já estavam pressionados e obrigados a ganhar, mais ansiosos terão ficado quando ouviram, de forma audível e em todo o estádio, a música “Hey Jude” enquanto entravam no relvado. A canção, da autoria dos The Beatles, é normalmente associada ao Liverpool e àquela cidade devido à naturalidade dos quatro elementos da banda; mas este domingo, soou em Manchester. Restava saber se, ao fim de 90 minutos, tinha sido uma provocação bem medida ou uma escolha infeliz.

Durante a primeira parte, e apesar de o Manchester City ter conseguido manter a posse de bola durante os 20 minutos iniciais, o Wolves esteve perto de inaugurar o marcador por intermédio de Cutrone, que rematou muito ao lado quando estava isolado na cara de Ederson (5′), e beneficiou de um período de dez minutos em que a equipa de Guardiola ficou muito instável na partida. Durante esse momento, o City cometeu erros pouco habituais na primeira fase de construção e permitiu transições rápidas por parte do Wolves — a forma de ataque em que o conjunto de Nuno Espírito Santo se sente mais confortável. O Wolverhampton não conseguiu adiantar-se no marcador mas causou vários calafrios à defesa do Manchester, que se mostrava pouco tranquila e com dificuldade em reorganizar-se.

Na segunda parte, Guardiola tirou Kyle Walker e lançou Zinchenko, colocando João Cancelo a jogar na direita na defesa, aquela que é a sua posição de origem e o local onde se torna mais perigoso a nível ofensivo. Ainda assim, o jogo pouco ou nada se alterou, com o Wolves a controlar as incidências enquanto o Manchester City rendilhava a partida e procurava espaços por onde entrar nas costas da defesa adversária. Na chegada aos 60 minutos, Guardiola olhou para o banco de suplentes e lançou o óbvio Bernardo Silva no lugar de Mahrez, numa tentativa de resolver em meia-hora aquilo que estava a adiar desde o apito inicial: no momento em que pôs um pé no relvado do Etihad, as bancadas do estádio do City uniram-se num aplauso audível e longo ao internacional português, que soube naquele momento que tem os adeptos do seu lado no que toca à polémica com a FA.

Bernardo Silva entrou na partida já na segunda parte, para o lugar de Mahrez

A entrada de Bernardo Silva levou Nuno Espírito Santo a encurtar os espaços entre as linhas, principalmente entre o setor defensivo e o intermédio, de forma a impedir que o Manchester City entrasse nessas zonas interiores. O Wolves passou a jogar estritamente no contra-ataque e Doherty entrou para o lugar de Cutrone para fortalecer e oferecer músculo à defesa e deixar as transições rápidas entregues a Jiménez e Traoré. Foi nesta altura que os citizens acabaram por beneficiar da melhor oportunidade de golo desde o início da partida, com um livre direto cobrado por David Silva que esbarrou na trave de Rui Patrício (67′), mas a verdade é que a equipa de Guardiola não conseguia chegar perto da baliza defendida pelo guarda-redes português em lances de bola corrida, esbarrando sempre na organização defensiva adversária.

Até ao final, Guardiola colocou todas as fichas em campo e trocou David Silva por Gabriel Jesus, passando a atuar com dois avançados destacados. A aposta de Nuno Espírito Santo, porém, tornou-se a mais proveitosa: numa transição muito rápida, conforme ensinam os livros, Raúl Jiménez conduziu e assistiu Adama Traoré, que à saída de Ederson colocou o Wolves a ganhar a dez minutos do apito final (80′). A partir daí, a equipa de Nuno Espírito trancou a baliza, Traoré ainda bisou no quarto minuto de descontos e conquistou três pontos importantíssimos na casa do bicampeão inglês — que ficou assim a oito pontos do líder Liverpool e saiu de um jogo, pela primeira vez esta época, sem golos marcados. Bernardo Silva, apesar da derrota, sai este domingo do Etihad com a certeza de tem a massa associativa do seu lado, como mostraram os cartazes por todo o estádio e a enorme ovação que recebeu ao entrar em campo. Por outro lado, o speaker do recinto do Manchester City terá ficado este domingo a perceber que nunca será bom augúrio começar um jogo com uma música dos The Beatles.