A fusão entre PSA e FCA não difere muito de todas as restantes. Visa dar corpo a um grupo maior, de forma a usufruir de um maior potencial de negociação com fornecedores, esmagando preços ao aumentar volumes, pretendendo ainda reduzir os custos de desenvolvimento de novos veículos, ao partilhá-los por mais marcas. Mas os anunciados 3,7 mil milhões de euros de poupanças, devidos às novas sinergias, dificilmente serão atingidos sem fecho de fábricas e despedimento de trabalhadores, medidas menos populares que têm o condão de assustar alguns accionistas, como o Governo francês, ou partes interessadas, como o Governo italiano.

Quando, em Maio de 2019, a FCA estava em negociações para se fundir com outro grupo gaulês, no caso a Renault, rapidamente a França e a Itália decidiram intervir. A primeira exigindo garantias que não haveria despedimentos nem fecho de fábricas no seu país, e os italianos a sublinhar que faziam questão de ser tratados com simetria em relação a Paris. O que os fabricantes só poderiam assegurar num determinado prazo. Curto, o que não agradou aos Estados envolvidos.

Enquanto se esperavam que as maiores objecções a este “casamento” entre FCA e PSA surgissem na Europa, mais uma vez entre França e Itália, aqui com vantagem em agir de forma concertada, eis que a surpresa surgiu do outro lado do Atlântico. Mais precisamente do Governo americano liderado por Donald Trump.

É conhecida a aversão que o Presidente tem a tudo o que é chinês, pelo que assim que se tornou público que a italo-americana FCA pretendia fundir-se com a PSA, que tem os chineses da Dongfeng como accionistas, com 12,2% do capital e 19,5% do poder de voto, dispararam os alarmes na Casa Branca.

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Numa entrevista à Bloomberg, o conselheiro da Casa Branca para assuntos económicos, Larry Kudlow começou por dizer que iriam “analisar a situação com muito cuidado”, ressalvando que “o Presidente não tinha ainda comentado o assunto” e que que os EUA “não têm receio de fazer negócios com empresas internacionais”. A questão complicou-se quando surgiu a referência concreta aos chineses da Dongfeng, o que levou Kudlow a reagir assim: “Com respeito à presença dos chineses, nós estamos obviamente alerta e à defesa.”

Segundo o conselheiro, os “EUA querem o melhor acordo possível, um que traga mais produção para o país, mais fábricas e mais empregos”. Ou seja, totalmente em linha com os seus pares europeus, o que deita por terra grandes hipóteses de alcançar as tão desejadas sinergias, fundamentais para tornar a fusão mais interessante.

No meio de tudo isto, a Dongfeng continua a colocar em cima da mesa a possibilidade de vender a sua participação na PSA, isto enquanto a Peugeot vai aperfeiçoando a estratégia de entrada no mercado norte-americano, o que será facilitado após a fusão com a FCA. A marca francesa já definiu mesmo quais os 15 estados mais receptivos à entrada da marca do leão.