Veneza já apresenta sinais de normalidade depois das piores cheias dos últimos 50 anos. Os turistas já passeiam de gôndola pelos canais e a Praça de São Marcos reabriu ao público, mas os danos rondam cerca de mil milhões de euros, informou o presidente da câmara Luigi Brugnaro.

A água danificou — e destruiu em alguns casos — património histórico: o Palazzo Ferro Fini, sede do Conselho Regional do Veneto, ficou alagado minutos depois de uma maioria ter votado contra uma proposta de combate às alterações climáticas.

Nas ruas alguns negócios permanecem fechados, mas os que decidiram abrir portas muniram-se com proteções de metal e de madeira para impedir que a água voltasse a entrar. O governo italiano decretou na quinta-feira estado de emergência em Veneza após as inundações e desbloqueou 20 milhões de euros para assistência imediata, incluindo indemnizações até 20.000 euros para os comerciantes.

Veneza debaixo de água. As imagens de umas cheias com níveis recorde

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Durante a manhã desta segunda-feira, as autoridades estiveram a colocar passadeiras nas ruas ainda inundadas, para permitir a passagem das pessoas. Imagens publicadas nas redes sociais mostram muitos turistas a visitar a cidade apesar das cheias.

Estará Veneza a afundar-se lentamente devido às alterações climáticas?

Segundo a Reuters, o nível do mar em redor de Veneza tem vindo a aumentar constantemente durante décadas. Estima-se que este seja agora 20 centímetros mais elevado do que era há um século. Já o nível do solo da cidade tem vindo a afundar-se gradualmente um milímetro por ano.

No entanto, nenhum fenómeno isolado, como as inundações que atingiram Veneza esta semana, pode ser atribuído exclusivamente às alterações climáticas, advertiu Benoit Meyssignac, um cientista da missão Sentinel-6, que monitoriza desde o espaço a subida do nível do mar. Contudo, este problema faz com que este tipo de fenómenos com esta gravidade sejam cada vez mais prováveis e frequentes.

O especialista argumenta que o nível médio dos mares subiu cerca de 25 centímetros desde meados do século XIX, um terço deste aumento — 8,3 centímetros — ocorreu nos últimos 25 anos, o que indica uma aceleração do problema.

Ora se a aceleração da subida do nível do mar continuar a verificar-se, aquilo que no passado eram considerados eventos isolados extremos, passarão a entrar na normalidade, alerta o investigador.