Nasceu uma terceira criança cuja informação genética foi editada com a ferramenta CRISPR pelo médico chinês He Jiankui, que na segunda-feira tinha sido condenado por um tribunal chinês a três anos de prisão por ter modificado o ADN de outras duas meninas com esse método. O nascimento do terceiro bebé geneticamente modificado foi discretamente confirmado pela agência noticiosa chinesa no mesmo dia em que a sentença do médico foi tornada pública, sendo que Jiankui encontra-se já em prisão domiciliária.

Cientista chinês que modificou bebés geneticamente condenado a três anos de prisão

Em novembro de 2018, quando anunciou que tinha modificado geneticamente duas bebés gémeas — Nana e Lulu — para as tornar imunes ao vírus da sida, He Jiankui também avançou que havia outra mulher grávida de uma terceira criança, editada com o mesmo procedimento. Segundo William Hurlbut, um especialista em bioética da Universidade de Stanford, He Jiankui tinha-lhe confidenciado em janeiro do ano passado que, nessa altura, a mulher já estava grávida de entre 12 e 14 semanas. Ou seja, o bebé deve ter nascido em julho de 2018.

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A confirmação do nascimento do terceiro bebé só foi feita porque a agência noticiosa referiu-se ao médico como o autor de uma operação “a partir do qual nasceram três bebés geneticamente modificados”. Até agora, e tanto quanto se sabia, só duas bebés no mundo eram mutantes. Não se sabe, no entanto, o sexo da criança, o estado de saúde dela, nem qualquer informação sobre a sua família.

Quanto aos dois primeiros casos conhecidos de bebés geneticamente modificados por He Jiankui, os últimos estudos dão conta que Lulu e Nana, nascidas em outubro de 2018, podem estar em risco de vida. As modificações feitas pelo médico chinês podem não ter sido eficazes em tornar as crianças imunes à infeção pelo vírus da sida, mas pode também ter causado alterações genéticas que as tornaram mais vulneráveis a agentes tão simples como o vírus da gripe.

Por exemplo, um estudo publicado por cientistas espanhóis diz que uma deficiência no gene CCR5 — que foi o alvo do CRISPR-Cas9 desenvolvido para este caso específico por He Jiankui — pode quadruplicar as probabilidades de alguém morrer com uma gripe. Outra investigação diz que as pessoas que têm naturalmente as características genéticas criadas pelo médico têm 21% mais probabilidade de morrer antes dos 76 anos.

No entanto, os cientistas alertam que os efeitos criados por esta mutação são “imprevisíveis”, disseram os investigadores da Universidade da Califórnia ao MIT Technology Review: “A resposta é sim, isto afetou o cérebro delas. A interpretação simples é que essas mutações vão provavelmente ter um impacto nas funções cognitivas das gémeas”, disse o neurobiólogo Alcino J. Silva.

Cérebro das gémeas geneticamente modificadas por cientista chinês pode ter sido alterado