As obras no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, orçamentadas em 15 milhões de euros e com término previsto para maio de 2020, vão, afinal, demorar quase um ano a mais do que estava previsto. Com os consequentes gastos adicionais e constrangimentos para passageiros e companhias aéreas. Mas, para já, são os trabalhadores do aeroporto os que demonstram maior preocupação.

A ANA – Aeroportos de Portugal garante ao Observador que, depois da descoberta de uma linha de água não prevista no estudo geotécnico, “as implicações em termos de prazo e preços ainda estão a ser avaliadas, mas uma primeira análise aponta para uma conclusão no início de 2021”.

Linhas de águas não previstas no estudo inicial condicionam obras do Aeroporto Sá Carneiro

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O estudo geotécnico feito antes do início dos trabalhos não calculou a existência de uma linha de água na frente de obra, numa área de cerca de 500 metros, pelo que foi necessário pausar pontualmente a obra no final de julho para se recalcular e precaver futuras complicações. A 12 de agosto, menos de um mês depois, os trabalhos retomaram.

Já nessa altura era previsível que o orçamento de 15 milhões de euros fosse aumentado, assim como o prazo para a obra. Apesar de a ANA calcular que o valor gasto vá ser superior, não quis avançar ao Observador uma estimativa.

As obras iniciadas em 2019 servirão para ampliar um taxiway – uma via de circulação que faz a ligação entre a pista e a placa de estacionamento – e um túnel a norte da estrutura principal do aeroporto, permitindo reduzir o tempo que os aviões passam na pista e, por isso, aumentar os movimentos de aterragem e descolagem com aeronaves.

Com um prazo de execução previsto agora para o início de 2021, a obra coordenada pela concessionária Vinci (que detém a empresa ANA Aeroportos de Portugal) promete aumentar de 20 para 32 o número de movimentos por hora com aeronaves, o que corresponde a um acréscimo de 60%.

Trabalhos não causam constrangimentos significativos mas são necessárias obras “estruturais”

Os constrangimentos existentes pelas obras não têm sido muito sentidos, pelo menos no período diurno. Serão mais quanto maior for o número previsto de aterragens e descolagens, explica ao Observador Nuno Silva, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (Sintac).

“Nas horas de maior tráfego aéreo terá sempre alguma influência porque há menos aterragens e os aviões muitas vezes têm de fazer o chamado “holding“ no ar até ter autorização para aterrar, ou porque não têm espaço ou porque estão aviões a descolar”.

“Os principais constrangimentos têm-se verificado durante a noite”, conta ao Observador Paulo Geisler, máximo representante da companhia aérea Lufthansa em Portugal, quando “as limitações de tráfego provocam uma diminuição de movimentos por falta de disponibilidade de faixa horária”.

“Algumas companhias aéreas têm sido forçadas a cancelar os seus voos, por não ser possível efetuar a rotação da aeronave em tempo. Isto é particularmente evidente em dias de condições meteorológicas adversas, em que a aeronave chega ao Aeroporto do Porto com atraso e não consegue operar o voo seguinte. Se o fizesse, não conseguiria regressar, devido à limitação de horário provocada pelas obras”, explica Paulo Geisler.

Em abril de 2019, Thierry Ligonnnière, presidente executivo da ANA – Aeroportos de Portugal, acompanhado por Rui Moreira, Presidente da Câmara do Porto, e por Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas e da Habitação, visitaram as obras de ampliação do taxiway.

As obras, apelidadas de “remendo” pela Associação de Pilotos de Linha Aérea (APPLA) à Renascença, não trazem consigo melhoras na operacionalidade do aeroporto. Esta é, pelo menos, a opinião da APPLA. A operacionalidade de um aeroporto é medida pelo número de movimentos, ou seja, aterragens e descolagens, que os aviões fazem por hora.

Para Nuno Silva, do Sintac, faltam obras estruturais, entre as quais as mais prementes são a construção de uma segunda pista e de uma nova torre de controlo. “Duas situações gravíssimas para quem utiliza no dia a dia aquela infraestrutura – sejam os pilotos, sejamos nós”, defende.

Uma segunda pista permitiria ter mais movimentos de aeronaves por hora, já que “se houver uma aterragem de emergência, o aeroporto tem de fechar. Só tem uma pista de aterragem”, explica o dirigente do Sintac.

“A torre de controlo já há muito tempo que deveria estar noutro sítio do aeroporto que permitisse ter visibilidade sobre o aeroporto todo, tanto a nível de pista como do estacionamento dos aviões”, alerta Nuno Silva.

Segundo a ANA Aeroportos, obras vão aumentar a capacidade para fazer face ao aumento de passageiros

Os trabalhos de ampliação e transformação da configuração da pista tinham um orçamento inicial de 15 milhões de euros, dos quais cerca de 12 milhões seriam para obras de construção civil e outros 2,5 milhões para investir em sinalização e telecomunicações.

Numa visita ao aeroporto em abril de 2019, Thierry Ligonnnière, presidente executivo da ANA – Aeroportos de Portugal, acompanhado por Rui Moreira, Presidente da Câmara do Porto, e por Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas e da Habitação, reconheceu a necessidade de se investir na ampliação e na capacidade para conseguir acomodar mais passageiros.

E eles só têm aumentado. O aeroporto localizado na Maia teve um aumento de 9,1% de passageiros no primeiro trimestre de 2019, quando comparamos  os números com os do período homólogo de 2018.