O ministro da Defesa Nacional mostrou-se esta segunda-feira expectante de que os 35 militares portugueses destacados no Iraque possam “retomar o trabalho” de formação “dentro das próximas semanas”, suspenso após a morte do general iraniano Qassem Soleimani.

“A força nacional destacada está perfeitamente salvaguardada, está em segurança, está a cerca de 30 ou 40 quilómetros de Bagdade, num local chamado Besmayah, que é um acampamento militar, é uma base militar portanto está perfeitamente protegida”, adiantou João Gomes Cravinho.

Em declarações à agência Lusa à margem de uma visita ao centro de apoio social de Oeiras do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (IASFA), o governante português assinalou que “a missão desta força não é uma força de combate, é uma força de formação”.

Neste momento a formação está suspensa, mas a nossa expectativa é que ela venha a ser retomada dentro de algum tempo, logo que houver uma normalização, e eles continuarão a fazer o trabalho para o qual foram para o Iraque”, advogou.

Notando que estas três dezenas de militares estão numa missão que teve início em novembro e terminará em maio, o ministro da Defesa apontou que “se não for para dar formação, então não faz sentido lá estarem”.

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Os 35 militares atualmente integrados na coligação internacional estão afetos em exclusivo ao treino e formação das forças iraquianas.

Na missão da NATO, iniciada em 2018 e também de formação e treino, está, desde dezembro passado, uma major portuguesa, colocada igualmente na base de Besmayah.

“A nossa esperança é que se possa retomar o trabalho dentro das próximas semanas, porque é isso que faz sentido, é isso que dá sentido à nossa missão no Iraque. Se isso não for possível, então obviamente teremos de reequacionar a existência desta força nacional destacada no Iraque”, sublinhou.

Por agora, esclareceu João Gomes Cravinho, o Governo vai “esperar que a situação se esclareça”, na esperança de que “em breve possam retornar às atividades de formação”.

O ministro da Defesa Nacional explicou que militares portugueses “estão enquadrados pelo contingente espanhol, um contingente muito maior” do que o português.

“E já no fim de semana tive oportunidade de falar com a senhora ministra da Defesa de Espanha por telefone, comparar as nossas ideias. Estamos perfeitamente sintonizados, tal como com a generalidade dos países aliados”, precisou.

Fazendo referência à reunião de emergência, em Bruxelas, dos embaixadores dos 29 membros da NATO para discutir a crise entre Estados Unidos e Irão, o ministro português notou que “há um processo de definição, esclarecimento que está em curso”.

Na ótica de Gomes Cravinho, “obviamente que o governo e as autoridades iraquianas também têm de esclarecer aquilo que pretendem”.

Nessa reunião, os membros da Aliança Atlântica consideraram que um novo conflito no Médio Oriente “não é do interesse de ninguém” e apelaram à contenção por parte do Irão, afirmou o secretário-geral da NATO no final do encontro.

NATO: “Irão deve evitar mais violência e provocações”

O general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdad, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No mesmo ataque morreu também o “número dois” da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.

O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e apenas terminou quando Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.

O Irão prometeu vingança e anunciou no domingo que deixará de respeitar os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas — Rússia, França, Reino Unido, China e EUA — mais a Alemanha, e que visava restringir a capacidade iraniana de desenvolvimento de armas nucleares. Os Estados Unidos abandonaram o acordo em maio de 2018.

No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo terrorista Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.

Na sequência da morte de Soleimani, a NATO e a coligação internacional liderada pelos EUA de combate ao “Daesh” (acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico), designada “Inherent Resolve”, anunciaram, respetivamente no sábado e no domingo, a suspensão das atividades de formação e treino.