Morreu o filósofo conservador britânico e antigo conselheiro do atual Governo de Boris Johnson, Sir Roger Scruton. Tinha 75 anos e morreu vítima de cancro, noticia o jornal The Guardian.
Numa declaração publicada pela família, Scruton, que em 2016 ganhou o estatuto de Sir pelo contributo que deu ao Reino Unido nas áreas da filosofia, ensino e educação pública, é lembrado como “muito amado marido de Sophie, pai adorado para o Sam e a Lucy e um irmão estimado de Elizabeth e Andrea”.
Morreu pacificamente no domingo de 12 de janeiro. Nasceu a 27 de fevereiro de 1944 e lutava contra o cancro há seis meses. A sua família está profundamente orgulhosa dele e dos seus feitos”, lia-se na declaração.
Além de filósofo, conselheiro de Governo e defensor de uma corrente conservadora e tradicionalista do pensamento, Scruton foi também escritor e professor, tendo lecionado durante 21 anos (entre 1971 e 1992) no Birkbeck College, da Universidade de Londres, refere ainda o The Guardian. Em Portugal, tem publicadas obras como Como Ser Um Conservador, Tolos, Impostores e Incendiários, A Natureza Humana, Guia de Filosofia Para Pessoas Inteligentes e As Vantagens do Pessimismo, por exemplo.
Além de famoso pelas suas obras e ensaios de não-ficção e pelo seu apoio aos dissidentes do Partido Comunista da Checoslováquia nos anos 1980, Sir Roger Scruton tornou-se um nome ainda mais conhecido dos britânicos e europeus no último ano e meio, pela posição de relevo que assumiu junto do Governo do Reino Unido e pelo debate que voltou a levantar sobre o sensacionalismo presente em órgãos de comunicação social, devido a uma alegada “caça às bruxas” de que defendeu ter sido alvo.
Tudo começou quando o pensador foi escolhido para presidente de uma comissão independente chamada Building Better, Building Beautiful, cujas funções são “aconselhar o governo sobre como promover e melhorar a utilização de design de alta qualidade para a construção de novas casas e bairros”, como se lê no site oficial da Comissão.
Escolhido como conselheiro na área da habitação pelo Governo britânico em novembro de 2018, Sir Roger Scruton acabou por ser afastado do cargo poucos meses depois, em abril do passado, por ter alegadamente proferido comentários racistas em entrevista a uma revista política e cultural do Reino Unido chamada New Statesman.
Durante a entrevista que motivou a sua saída do cargo de conselheiro do Executivo britânico, Scruton era citado dizendo que os chineses estavam a “criar robôs a partir do seu próprio povo” e fazendo referência a um “império de Soros” [George Soros, famoso investidor, bilionário e filantropista europeu].
O filósofo queixou-se de ter sido mal citado na entrevista – mais especificamente nas publicações da revista nas redes sociais — e acabou por ver a New Statesman assumir as falhas e citação incompleta, conta o The Guardian. Scruton falara em específico do Partido Comunista Chinês, não da população chinesa em geral, e sobre Soros referira que o seu império “não era necessário um império de judeus, porque isso não faz sentido nenhum”, rejeitando assim algumas teorias da conspiração em voga.
Numa época em que o debate sobre um alegado policiamento da linguagem e num tempo em que a desconfiança quanto aos média aumentou (também, embora não só, a partir das redes sociais), o caso do filósofo veio a ser escolhido como exemplo e campo de batalha pelos conservadores e defensores da liberdade de expressão. Em julho, depois das correções da revista britânica relativas à imprecisão com que citou declarações de Sir Roger Scruton, o pensador e especialista em educação e habitação foi readmitido como conselheiro do Governo, algo que era há muito defendido pelo primeiro-ministro do país, Boris Johnson.