De um lado as novas, pintadas e luzidias carruagens. Do outro, as velhas. Estavam perfiladas no pavilhão grande de Guifões, à espera de receber António Costa e o seu ministro, já visita habitual nos últimos meses, Pedro Nuno Santos.

Vinham festejar a medida que anunciaram em junho de 2019: voltar a inaugurar a oficina fechada e 2012, com o objetivo de restaurar carruagens “com as quais andam os países mais ricos do mundo”, lembra Pedro Nuno Santos. Duas delas já estão até reparadas e prontas para circular no país sobre ferros, o “do futuro”.

“O comboio não é um meio de transporte do passado, é um meio de transporte do futuro”, Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e da Habitação.

As duas carruagens, recuperadas num mês e meio e “prontas a circular”, custaram à CP 80 mil euros cada, refere o primeiro ministro. O valor difere do de compra, que rondaria os 700 mil. Desta forma, o Estado poupa dinheiro, produz em Portugal e cria emprego, sublinhou.

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“Seria imperdoável investir milhões de euros para comprar material novo sem recuperar o que já havia”, disse ainda o primeiro ministro

Mas a oficina à qual chama fábrica é somente um “primeiro passo” para o ministro Pedro Nuno Santos da “fábrica do futuro que queremos construir em Portugal”. Também para António Costa “podemos ser mais ambiciosos”.

Para uma plateia de trabalhadores, o primeiro ministro confessou ter o sonho de fazer parte “do clube dos produtores de comboios” no futuro, assim como, referiu, “já fazemos parte do clube dos produtores de automóveis”, ao produzirmos em 2019 mais de 300 mil carros. “Também há umas décadas nós só importávamos automóveis”, sublinha.

45 milhões de euros na Comboios de Portugal até ao final de 2022

A oficina de Guifões agora re-inaugurada espera receber até final de 2021 mais 140 postos de trabalho, dos quais 90 especializados, que façam permitir dar às linhas do Minho e do Douro, até ao final do ano, mais 27 carruagens, anunciou Nuno Freitas, presidente do Conselho de Administração da CP. Em dois anos, espera-se que o investimento do Estado na empresa pública seja de 45 milhões de euros.

A acrescentar ao esforço de continuar a eletrificação das duas linhas “até ao fim”, reforça Pedro Nuno Santos, as novas carruagens a circular no norte permitirão soltar algumas automotoras diesel para as linhas do Oeste, do Algarve e do Alentejo. E há outras 40 carruagens à espera para serem completamente remodeladas.

A restauração da frota antiga, assim como a compra de 22 novos comboios, num concurso entretanto impugnado por um dos concorrentes, “é um investimento para uma necessidade diária dos portugueses”, defende o ministro das Infraestruturas.

Atualmente com 70 operários, a oficina será reforçada com mais trabalhadores nos próximos meses.

Voltar a reativar a ferrovia em Portugal foi uma medida bandeira da legislatura anterior, “de que o governo não irá abdicar”, garantiu António Costa. Até porque é uma medida, para o primeiro ministro, capaz de “evitar o ponto de não retorno nas alterações climáticas”. Para isso é preciso restaurar as carruagens velhas e comprar novas, continuar a eletrificar linhas e pôr o país a andar sobre ferros, em vez das rodas em que, diz, se investiu nas últimas décadas.

“Depois de décadas em que o país definiu que o prioritário era investir na rodovia e no transporte automóvel, era tempo de, de uma vez por todas, perceber que se queríamos alterar o quadro de mobilidade em Portugal, era necessário reinvestir na ferrovia”. António Costa, primeiro ministro.

Pedro Nuno Santos diz que separar ferrovia e rodovia “é uma ideia para se trabalhar”

Nuno Freitas, presidente do Conselho de Administração da CP, anunciou que quer fundar um centro de formação profissional e uma incubadora “de empresas orientadas para a ferrovia” e um centro tecnológico “com laboratórios colaborativos”, admitindo que o “investimento estrangeiro também muito bem vindo para este projeto”. “As instalações que inauguramos hoje são parte do ecossistema que queremos construir”, assume, não deixando de tecer largos agradecimentos ao ministro Pedro Nuno Santos, “um verdadeiro ferroviário”.