Já passou quase um ano desde que, em 2019, o Mobile World Congress mostrou que os telemóveis podem ter mais do que um ecrã ou um visor que, literalmente, se desdobra. No mercado, já estão disponíveis produtos como o LG G8xThinQ (o smartphone da LG que vem com uma capa que também é um segundo ecrã) e o Samsung Galaxy Fold (um dos primeiros telemóveis do mundo com um ecrã dobrável). Já muito se escreveu e analisou sobre cada um destes modelos. Contudo, o foco é outro: dos dois mecanismos, qual é o mais produtivo? Ou seja, qual é o sistema que nos permite ter maior produtividade?
[Veja na fotogaleria as principais funcionalidades destes smartphones com um ecrã dobrável e dois ecrãs]
A dúvida surge porque, por ano, e em média, uma pessoa despende cerca de 35 dias só a olhar para o smartphone. É muito tempo para redes sociais e jogos como o Candy Crush. Contudo, este muito tempo também ajudou a facilitar a vida profissional, porque permitiu enviar emails ou editar apresentações Power Point em qualquer lugar.
Se estiver já ansioso pela resposta ao título, tanto o LG G8xThinQ como o Samsung Galaxy Fold são conceitos de smartphones que facilitam — e bastante — estes trabalhos, quando comparados com um telemóvel tradicional. Mas depois de experimentarmos, concluímos que ter um ecrã extra ajuda a ter mais do que uma app aberta. Já ter um ecrã dobrável ajuda a fazer mais e melhor com uma só app.
Dois conceitos de ecrãs vindos do mesmo país: a Coreia do Sul
Antes de nos desdobrarmos em explicações, apresentamos os smartphones que foram para o ringue. O LG G8xThinQ é um telemóvel lançado a setembro de 2019. Tem um ecrã de 6,4 polegadas e, como tantos outros na mesma gama (alta), tem uma bateria com bastante autonomia (tem quatro mil miliamperes), imagens bastante nítidas (tem um ecrã OLED com HDR), muita rapidez (tem 6GB de memória RAM e um processador 855) e é bastante resistente (o máximo, IP68). A cereja no topo do bolo? Além de funcionar como um telemóvel normal, podemos adicionar-lhe uma capa — a LG Dual Screen — que lhe concede um ecrã lateral.
A capa Dual Screen do LG G8xThinQ pode tornar o smartphone mais volumoso, mas abre muitas possibilidades. É como uma capa tradicional com tampa para proteger o ecrã. Esta pode ser virada a 360 graus para ser utilizada com uma mão e, quando está a cerca de 180 (lado a lado), adiciona ao telemóvel um segundo ecrã. Basta conectá-la pela entrada USB-C e já está. Depois, para carregar o telemóvel com a capa inserida, há um adaptador magnético que é um adereço prático. O ecrã não tem a mesma resolução que a do ecrã do smartphone, mas tem o mesmo tamanho (incluindo o entalhe — o notch — no topo onde estaria uma câmara). Podia ser também uma bateria extra, mas não o é (não se pode ter tudo).
[Em 2019, experimentámos o conceito do LG G8xThinQ quando foi apresentado em Barcelona pouco depois de a Samsung anunciar que ia lançar o Galaxy Fold, que também mostramos no vídeo]
Do outro lado do ringue, o Samsung Galaxy Fold. Foi difícil para a marca sul-coreana (como também é a LG) lançar este smartphone em 2019. Mas depois de obstáculos superados, até a Portugal o dispositivo chegou no ano passado. O equipamento tem 12Gb de memória RAM e seis câmaras ao todo: três traseiras, uma no ecrã dobrado de 4,6 polegadas, e duas no ecrã desdobrado, de 7,4 polegadas. Ao contrário da concorrência direta (como o Huawei Mate X), que utiliza apenas um ecrã para o modo aberto e fechado, o Galaxy Fold tem um ecrã exterior que funciona como os tradicionais, e um interior que pode ser desdobrado para uma espécie de modo tablet. O processador do equipamento de 7nm e a dupla bateria com um total de 4,380 milíampéres fazem deste telemóvel o mais cobiçado no mercado. Aqui não falamos de resistência, porque este é um smartphone que mostra o que os smartphones podem realmente vir a ser no futuro.
Apesar de já partirmos para esta comparação de conceitos de ecrãs sabendo que o Fold nos iria surpreender (é mesmo rápido e tem muita bateria e um ecrã dobrável surpreendeu toda a redação), o LG G8xThinQ mostrou que mais marcas podiam investir em capas segundo ecrã. Contudo, convém salientar: apesar de o Fold cativar bastante, o preço de 2.050 euros faz com que os 900 euros do LG pareçam menos assustadores.
Desdobrar pode ser duplicar, mas duplicar não desdobra sempre as opções
Passamos à comparação. Durante uma semana e meia desdobrámos o Samsung Galaxy Fold e abrimos o Dual Screen do LG G8xThinQ para fazer as ações quotidianas dos smartphones tradicionais, aqueles só com um ecrã retangular (nota: depois deste teste, um telemóvel normal deixou de ser cativante). Abrimos o browser (utilizámos o Google Chrome, por facilitar a sincronização com os dados de vários dispositivos), aplicações como o Messenger, o Gmail, redes sociais Facebook, Twitter e Reddit, o WhatsApp, o YouTube, o Microsoft Excel e o Word, mensagens SMS e jogos para telemóvel.
No ecrã exterior do Galaxy Fold utilizámos também a maioria das aplicações. No entanto, o que conta para a comparação é o que foi utilizado no ecrã interior maior desdobrado. O ecrã exterior é pequeno e, como aparece em praticamente todas as análises, serve para o que é: rapidamente utilizar apps que se utilizaria nos telemóveis tradicionais. Quando se vira o segundo ecrã do LG G8xThinQ a 360 graus, ficamos aparentemente com um telemóvel normal, mas mais volumoso (porque tem na mesma os dois ecrãs).
O que vimos como grande vantagem ao utilizar o ecrã aberto do Samsung Galaxy Fold não foi a possibilidade de podermos utilizar mais do que uma app aberta — dá para ter até três a funcionar em simultâneo –, foi o ecrã maior permitir usar mais facilmente qualquer app. Os vídeos no YouTube ficam maiores, mas também a leitura de artigos em jornais. No momento em que é preciso utilizar o teclado, este está claramente preparado para duas mãos. Não é um tradicional, como existem nos computadores, mas é bem melhor do que os dos smartphones atuais. A vantagem é o ecrã não ficar tão cortado e há mais espaço para carregar nas teclas.
O LG G8xThinQ permite utilizar o segundo ecrã como teclado para facilitar a escrita de, por exemplo, emails. Apesar de ser mais difícil, nas definições, pôr um teclado para duas mãos (como é possível ver na imagem acima), a opção também existe. Como o formato do Fold é mais quadrado, foi mais cómodo utilizar o ecrã dobrável para a escrita em duas mãos. Com o LG, a funcionalidade trouxe também mais produtividade, mas não tanto como no Fold.
Ao utilizarmos todas as aplicações, a reação foi praticamente sempre a mesma. O LG G8xThinQ com o Dual Screen ganha nos momentos em que queremos ter mais do que uma aplicação aberta ao mesmo tempo. Já o ecrã dobrável do Samsung Galaxy Fold mostra que podemos fazer mais com as apps que já temos num ecrã maior. Não nos interpretem mal, o Galaxy Fold é melhor do que os telemóveis tradicionais na opção de várias aplicações abertas no mesmo ecrã. Contudo, como as apps ainda estão a ser desenvolvidas para ecrãs retangulares, o LG G8xThinQ é mais prático neste ponto (é como ter dois telemóveis na mão).
Quando falamos da vantagem de ter dois ecrãs, o LG G8xThinQ peca pelo software. Como é uma das primeiras versões de um segundo ecrã num telemóvel no mercado, as apps que estão otimizadas para serem utilizadas em “dual screen” — como o YouTube ou jogos, em que os botões passam para o segundo ecrã — não são tão fluidas como esperaríamos. Já no Galaxy Fold, não encontrámos nenhum impedimento nas principais apps. Só num jogo é que sentimos que não havia otimização, porque a câmara interior cobria um pouco da informação no topo lateral esquerdo.
Em aplicações mais focadas na vida profissional, como o Excel ou o Microsoft Word, apesar de os dois conceitos de ecrãs trazerem melhorias na produtividade em relação aos congéneres tradicionais, não são ainda um substituto de um computador. É sempre possível, por exemplo, com o Fold ou no LG G8xThinQ conectar um teclado extra e aproveitar o ecrã maior, mas isso também retira o propósito de se ter um dispositivo completa e unicamente móvel.
É a febre dos dobráveis: o ano em que Barcelona dobrou os smartphones
Apesar de os dois conceitos de ecrãs promoverem maior produtividade ao utilizador, é o facto de as apps estarem preparadas para isso mesmo que pode trazer vantagens. No Fold, sentimos mais isso. Mesmo que o modo de ecrã inteiro no LG G8xThinQ — os dois ecrãs com a imagem na mesma aplicação — facilite a leitura para alguns artigos no browser, se o compararmos com um ecrã de mini tablet no Fold o conceito fica sempre a perder.
Mas, o que dá maior produtividade?
Duas empresas sul coreanas estão no país. Uma questionou: e se pudesse ter mais um ecrã? A outra: E se pudesse desdobrar o ecrã? Não foi assim que nasceu o LG G8xThinQ nem o Samsung Galaxy Fold, mas leva-nos à conclusão: são dois conceitos de ecrãs diferentes, os dois dão maior produtividade à utilização, mas um ecrã maior desdobrável é melhor do que os dois ecrãs.
Dois ecrãs não duplicam a produtividade. Facilitam, principalmente no momentos em que queremos ter duas aplicações abertas. Ver um vídeo no YouTube enquanto partilhamos coisas no Reddit é como estar a utilizar dois telemóveis. Contudo, um ecrã desdobrável quase que desdobra as possibilidades por permitir fazer mais numa app. Apesar de vivermos numa sociedade que tenta que façamos tudo ao mesmo tempo, o bom é fazermos uma coisa de cada vez nas melhores condições. No caso dos smartphones, isso continua a passar por ter um ecrã maior (todo o mercado dos tablets poderá justificar-se nesta premissa).
O LG G8xThinQ poder ser mais barato do que o Samsung Galaxy Fold e para quem quer um telemóvel diferente do que atualmente existe pode ser um ponto a favor. Contudo, apesar de em 2006 a Nintendo ter mostrado, com a consola portátil DS, que dois ecrãs trazem várias possibilidades, desdobrar um ecrã é mesmo coisa do futuro. Mesmo assim, para mexer num documento Excel, continue a utilizar um computador.