Uma jornalista do Washington Post foi suspensa depois de partilhar, na sua página de Twitter, um artigo sobre a acusação de violação de que foi alvo em 2003 Kobe Bryant, o basquetebolista norte-americano que morreu este domingo num acidente de helicóptero.

Segundo o Guardian, o jornal norte-americano considerou que a partilha de Felicia Sonmez, de um artigo do Daily Beast de 2016, foi “falta de bom senso” e algo que prejudicou o trabalho dos seus colegas.

A jornalista de Política Felicia Sonmez foi suspensa enquanto o [jornal Washington] Post analisa se os tweets sobre a morte de Kobe Bryant violam a política de redes sociais para a redação do jornal”, afirmou Tracy Grant, editora do Washington Post.

Bryant, antigo jogador dos Los Angeles Lakers, foi acusado de violação por uma funcionária de um hotel em 2003. Depois da acusação, foi emitido um mandado de prisão, lê-se no New York Times. Em julho de 2003, o basquetebolista entregou-se à polícia, pagou uma fiança no ordem dos 25 mil dólares e foi libertado no mesmo dia. O caso, no entanto, não foi avante: a alegada vítima não quis testemunhar e o Bryant chegou a um acordo financeiro extrajudicial com a jovem de 19 anos. O jogador sempre disse estar inocente, afirmou que tinha sido uma relação extraconjugal consensual, mas mesmo assim pediu desculpa à rececionista. Foi nesta altura que surgiu o seu alter ego: Black Mamba.

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Ele, a bola e um cesto. Mas Kobe era mais do que isso. Tanto que até um poema de vida passou a filme (e ganhou um Óscar)

A publicação, onde se lia “O Caso Perturbador de Violação de Kobe Bryant: a prova de ADN, a história da acusadora e a confissão parcial“, teve vários comentários, desde mensagens com críticas e até ameaças de morte à jornalista. Apesar de já não ser possível ver a publicação — que entretanto foi apagada —, houve quem partilhasse uma fotografia desse tweet numa outra publicação.

Aliás, nessa mesma publicação — a mais recente da página e que nada tem a ver com o basquetebolista — tem várias mensagens de fãs revoltados com o facto de a jornalista ter recordado o caso de 2003 tão pouco tempo depois da morte de Bryant. “Apagar tweets não é o mesmo que pedir desculpa a uma família de luto“, lê-se num dos comentários.

Felicia Sonmez respondeu — numa outra publicação que entretanto também foi apagada — às “10 mil pessoas (literalmente)” que comentaram a publicação e enviaram e-mails e pediu-lhes que lessem o artigo que partilhou. “Qualquer figura pública deve ser recordada na sua totalidade, mesmo que essa figura pública seja adorada. O facto de haver pessoas a responderem com raiva e a ameaçarem-me (alguém que nem sequer escreveu o artigo, mas achou que estava bem feito) diz muito sobre a pressão a que as pessoas estão sujeitas para ficarem caladas nestes casos”, disse a jornalista do Washington Post.

Esta segunda-feira, o jornalista de Media do Washington Post escreveu um artigo para o mesmo jornal onde explica detalhadamente o que aconteceu à jornalista depois de ter feito os tweets — Felicia Sonmez teve de sair de casa, porque alguém partilhou a sua morada — e considerou que se jornalistas do Washington Post podem ser suspensos por partilharem histórias como bem entendem, então “toda a redação devia ser suspensa”.