O volume de negócios da Farfetch subiu para mais de 2 mil milhões de dólares e as receitas para mais de mil milhões, mas nada disto foi suficiente para evitar que os prejuízos da empresa luso-britânica mais do que duplicassem em 2019. As perdas depois de impostos da loja online atingiram 373,688 milhões de dólares, mais 140% do que em 2018, de acordo com os resultados apresentados nesta quinta-feira em Wall Street.
Só no trimestre que acabou em dezembro, os prejuízos do unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares) liderado por José Neves ascenderam a 110,126 milhões de dólares, mais 30% do que as perdas realizadas no trimestre anterior (85,4 milhões de dólares). Quando a comparação é feita com o mesmo trimestre de 2018 (9,912 milhões), a diferença sobe consideravelmente para mais de 1000%.
Apesar dos prejuízos, Elliot Jordan, responsável pelas finanças da Farfetch, diz que a empresa está “bem posicionada” para continuar a ganhar quota de mercado. “Estamos a prever um forte crescimento de GMV [volume de negócios], com uma melhoria substancial do EBITDA [lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] ajustado direcionada para o próximo ano, à medida que queremos equilibrar as nossas iniciativas de crescimento com investimentos contínuos no negócio em direção aos lucros, em 2021.”
O mercado também reagiu em alta aos resultados. Depois da apresentação dos resultados, as ações da empresa chegaram a subir mais de 15%, num dia que foi negro para os mercados. Só o índice norte-americano Dow Jones registou a maior perda de sempre em pontos num só dia (um total de 1,190.95) fechando nos 25.766,64 pontos. Já o índice Nasdaq (das tecnológicas) caiu 4,6%, a pior perda num só dia desde 2011.
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Ao Observador, Luís Teixeira, responsável por todas as operações da Farfetch (COO), explicou que “a reação da bolsa foi bastante positiva, porque os resultados foram muito melhores do que no ano anterior e melhores face aos expectativas dos analistas”.
“O resultado deste trimestre, em termos de vendas, foi de 12% acima das expectativas dos analistas, do consenso”, afirmou o COO, acrescentando que o EBITDA seguiu o mesmo caminho — acima das expectativas. O consenso dos analistas apontava para 25 milhões negativos e a Farfetch apresentou um EBITDA de 18 milhões negativos. “Logo a seguir à apresentação dos resultados — e neste ambiente macroeconómico que vivemos — os investidores tiveram uma reação tão positiva. Isto reflete o quão positivos são os nossos resultados”, explicou o COO.
Na documentação entregue ao regulador do mercado norte-americano, antes da sua admissão na Bolsa de Nova Iorque, a empresa admitia que podia “continuar a apresentar prejuízos no futuro” e que não conseguia “assegurar que ia atingir a rentabilidade”. Numa entrevista dada ao Observador em junho, o empresário português dizia que não estava preocupado com os prejuízos e que se quisesse ter lucros, já os tinha.
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“Os prejuízo após impostos aumentaram 100,2 milhões de dólares no quarto trimestre de 2019 110,1 milhões. A subida foi impulsionada em grande parte pelos movimentos ocorridos nas despesas com a depreciação e amortização, pagamentos baseados em ações e outros itens, resultando num aumento nas perdas operacionais de 24,6 milhões de dólares, para 126,4 milhões”, lê-se nos resultados divulgados nesta quinta-feira.
As despesas gerais e administrativas da loja online de moda de luxo também mais do que duplicaram no último trimestre do ano, atingindo 63,6 milhões de dólares, devido às recentes aquisições que a empresa fez. No último ano, a Farfetch comprou a empresa de calçado Stadium Goods por 250 milhões de dólares e a plataforma de marcas de design New Guards por 675 milhões.
Em custos legais e de consultadoria, a empresa gastou 5,6 milhões de dólares no último trimestre do ano — categoria que não existia no ano anterior. Ao Observador, Luís Teixeira explicou que estes custos se deveram em parte às duas aquisições que foram feitas e aos custos relacionados com o mais recente levantamento de capital.
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A 30 de janeiro de 2020, a Farfetch anunciou que tinha angariado mais de 250 milhões de dólares junto do grupo tecnológico chinês Tencent e do fundo de investimento norte-americano Dragonner, que entraram com 125 milhões de O montante foi angariado através de obrigações de dívidas emitidas pela Farfetch com uma taxa de juro de 5% ao ano, que serão pagos trimestralmente até 2025.
A par da subida nos prejuízos, uma subida no volume de negócios: em 2019, a loja online de moda de luxo faturou mais 52% do que em 2018, ou seja, mais de 2 mil milhões de dólares (2.139 milhões). As receitas também subiram 69% para 1.021 milhões de dólares e, segundo José Neves, a Farfetch cresceu a sua plataforma digital quase duas vezes mais rápido do que a indústria de luxo online.
“Com mais de 2 milhões de utilizadores ativos e um volume de negócios recorde, Farfetch estabeleceu-se firmemente como o maior destino online global para o luxo Ao mesmo tempo, com mais de 500 parceiros de marca direta no Farfetch Marketplace e mais de 20 clientes corporativos da Farfetch Platform Solutions, somos o parceiro digital claro e preferido das marcas de luxo”, afirmou o fundador e presidente executivo.
Fundada em 2008 por José Neves e com sede em Londres, a Farfetch é a plataforma tecnológica líder global para a indústria da moda de luxo. Estreou-se na Bolsa de Nova Iorque a 21 de setembro de 2018, com um preço por ação de 20 dólares. Foi a primeira startup com ADN nacional a valer mais de mil milhões de dólares e a entrar para o grupo dos unicórnios.
*Atualizado com explicação sobre custos legais em 2019 e reação dos mercados