Moção do novo presidente do CDS aprovada em congresso, a 26 de janeiro: o CDS defende que a solução do novo aeroporto deve passar por Alverca.

Declarações do presidente, a 1 de março, na Feira do Queijo da Serra de Celorico da Beira: o CDS “tudo fará” para que o projeto do Aeroporto do Montijo não seja chumbado.

Apenas 35 dias separam estas duas ideias, mas Francisco Rodrigues dos Santos explica ao Observador que mudou de opinião sobre o novo aeroporto após uma conversa com o antigo ministro António Pires de Lima, que o convenceu com “elementos técnicos” que mostram que a opção Montijo será mais rápida e mais barata.

Tudo começou quando, na moção de estratégia global “Voltar a Acreditar o novo presidente do CDS defendeu que o novo aeroporto de Lisboa deveria ser “definitivamente concluído e encarado como um investimento prioritário”. Até aqui não haveria qualquer contradição, já que se prende com a celeridade no projeto. Porém, naquele documento — aprovado no congresso, o que vincula a direção a aplicá-lo — é dito claramente que o partido defende outra localização: “Devendo a opção, contrariamente ao já anunciado, recair pela solução Alverca, dado contar com melhores acessos, apresenta menor impacto ambiental e acarretar menos custos face à solução Montijo”.

Na feira do Queijo da Serra da Estrela de Celorico da Beira, no último domingo, Francisco Rodrigues dos Santos veio afinal defender uma nova solução: “O CDS é coerente. O CDS tudo fará para que o projeto do Montijo não seja chumbado. E utilizaremos todos os instrumentos jurídicos e políticos para viabilizar uma obra que privilegia o interesse nacional”.

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Questionado pelo Observador sobre esta incoerência, Francisco Rodrigues dos Santos explica que o partido “sempre preferiu a solução Portela + 1” e que, “assim sendo, as soluções possíveis eram Montijo ou Alverca“. Lembrou ainda que, “em matéria de grandes obras públicas”, o CDS sempre defendeu “a necessidade de consensos”. Mas afinal o que mudou para que tenha também mudado de opinião? Precisamente os conselhos daquele que foi o seu maior crítico no Congresso. “Desde o Congresso, tive a oportunidade de conversar com António Pires de Lima — que, como é sabido, não me apoiou, mas que respeito — que nos forneceu elementos técnicos que desconhecíamos e que justificam a preferência pelo Montijo”, justifica o líder centrista.

Francisco Rodrigues dos Santos explica ainda na mesma resposta ao Observador que “Alverca apresentaria uma exequibilidade operacional muito menor face ao Montijo, dada a dificuldade de exploração da capacidade do espaço aéreo na região Global de Lisboa juntamente com a Portela (corredores aéreos)”. No entanto, “dado que a Portela se encontra esgotada e atenta a urgência da construção, Alverca demoraria significativamente mais tempo a ficar disponível quando comparado com o Montijo (disponibilidade da solução menor face ao Montijo) e ficaria mais cara”.

O presidente do CDS sugere ainda que faz esta alteração para honrar compromissos da direção de Assunção Cristas, acresentando que “esta Direção sempre afirmou que respeita toda a história do partido e está disponível para construir os consensos em nome do interesse nacional, como sucedeu neste caso.”

No entanto, a moção foi aprovada 671 votos, 46% do total dos militantes, e deve servir como guia para o programa do líder do partido.

Página 25 da moção “Voltar a Acreditar”, de Francisco Rodrigues dos Santos

No programa eleitoral das legislativas de 2019, Assunção Cristas não utiliza a palavra Montijo, mas fala no trabalho feito pelo executivo PSD-CDS na solução mais tarde anunciada pelo executivo (Montijo). No documento podia ler-se: “Quanto ao novo aeroporto, estamos onde sempre estivemos. O anterior Governo, do qual o CDS fez parte, e assumiu responsabilidades, deixou trabalho feito no sentido da solução que, após quatro anos, o Governo se lembrou de anunciar.”

António Pires de Lima, que foi ministro da Economia nesse governo, já tinha criticado, em declarações ao Expresso, o facto de PSD e PS não se entenderem para resolver o assunto. Pires de Lima preparou terreno, antes das legislativas de 2015, para que a solução Portela + 1 avançasse com o Montijo e não fechou a opção pela proximidade de eleições. Pires de Lima foi um dos maiores críticos de Francisco Rodrigues dos Santos no Congresso.

Ouça aqui a vaia e os apupos a Pires de Lima depois do raspanete a Chicão a partir do palco

No último domingo, Francisco Rodrigues dos Santos disse ainda não estar disponível para “jogos políticos” e afirmou que “não contam com o CDS para esgrimir argumentos com base em interesses político-partidários”. Foi uma crítica ao PSD por não dar a mão ao PS neste assunto.