Ao início da manhã desta quarta-feira, o presidente da Câmara Municipal de Felgueiras já tinha indicado que estava a receber “muitas queixas” de pessoas que estão a ser “segregadas” fora do concelho devido ao facto de serem de um dos locais mais afetados até ao momento pelo surto do novo coronavírus. “É uma discriminação e uma intolerância que não faz sentido, contra a qual me baterei até às últimas consequências”, dizia Nuno Fonseca em conferência de imprensa.
As queixas continuaram ao longo do dia e o autarca de Felgueiras, juntamente com o presidente da Câmara de Lousada, decidiu enviar uma carta aberta a todas as instituições de Ensino Superior a denunciar as pressões de que os alunos vindos de Felgueiras e Lousada estarão a ser alvo para não frequentarem as aulas.
Os dois autarcas referem, numa carta que também foi publicada nas redes sociais dos municípios, que receberam várias queixas de alunos do Ensino Superior que “têm sido coagidos a não frequentar as salas de aulas e demais espaços dos respetivos equipamentos educativos alegadamente devido à problemática do Covid-19”. A situação, referem, está a provocar “indignação” em Lousada e Felgueiras. Para os autarcas, trata-se de “medidas discriminatórias, manifestamente ilegais, lesivas dos interesses e dos mais básicos direitos fundamentais das pessoas”.
Em declarações à agência Lusa, Nuno Fonseca deu o exemplo de relatos de alunos de Felgueiras aos quais não foi permitido frequentar as aulas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). A Universidade do Porto, na segunda-feira, recomendou a “todos os estudantes, docentes, investigadores, técnicos e restantes colaboradores da Universidade do Porto residentes nos concelhos de Felgueiras ou de Lousada que não se desloquem para as instalações da U.Porto” devido à situação. Mas, no dia seguinte, a instituição referiu que já “não se justifica manter a recomendação”. Na Universidade da Beira Interior, também foi recomendado que alunos destes dois concelhos não se desloquem às instalações da universidade.
Alertando para o facto de que “a população de Lousada e de Felgueiras não está em isolamento/quarentena”, mas sim a ser “um exemplo de responsabilidade e de precaução”, os dois autarcas exigem “a imediata revogação de todas as medidas e atos discriminatórios contra os alunos de Lousada e de Felgueiras”. Se isso não acontecer, acrescentam, os municípios vão apresentar queixa-crime contra as instituições e “os respetivos pedidos de indemnização cível”.
Além dos alunos do Ensino Superior, o presidente da Câmara de Felgueiras deu ainda o exemplo de trabalhadores que estarão a ser prejudicados pela situação. Nuno Fonseca falou também à Lusa no facto de o município de Cantanhede, em Coimbra, ter suspendido, na terça-feira, por um período de 15 dias, uma empreitada de requalificação de duas ruas na cidade, pelo facto de alguns trabalhadores serem de Felgueiras, e disse também haver queixas dos bombeiros sobre dificuldades no acesso ao Hospital de Penafiel, quando procedem ao transporte de doentes.
A lista não termina aqui: o autarca de Felgueiras revelou ainda o caso de uma pessoa que trabalha fora do concelho e que terá sido convidada pela entidade patronal a não ir trabalhar por ser de Felgueiras e denunciou ainda nas dificuldades no atendimento dos locais em equipamentos de saúde e em zonas mais afastadas no país.
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Nos municípios de Felgueiras e Lousada, recorde-se, foram detetados vários casos de novo coronavírus, tendo a Direção-Geral Saúde (DGS) determinado o encerramento de todas as escolas e outros espaços públicos e privados, como medida para tentar conter o surto de Covid-19.