O governo britânico anunciou este domingo que irá pedir aos mais idosos que fiquem em isolamento prolongado durante um período que pode ir até aos quatro meses. Ao mesmo tempo, está a trabalhar em conjunto com os privados para aumentar a produção de ventiladores. São os esforços de combate à Covid-19 mais recentes no Reino Unido, anunciados escassos dias depois de o primeiro-ministro Boris Johnson ter decretado uma estratégia de “imunidade de grupo”, num tipo de combate à doença bastante diferente do que está a ser praticado no resto da Europa — o que levou, inclusivamente, a críticas por parte de alguns cientistas britânicas.

“Nós não vamos fechar as escolas agora”. A estratégia inglesa tem sido diferente: irá manter-se?

Downing Street procura agora proteger os mais vulneráveis e garantir que o Serviço Nacional de Sáude britânico (NHS) tem capacidade para dar resposta à epidemia. Na noite de sábado, o Telegraph publicou um artigo do ministro da Saúde, Matt Hancock, onde comparava a situação atual à da II Guerra Mundial: “A nossa geração nunca foi testada assim. Os nossos avós foram, na II Guerra, quando as nossas cidades foram bombardeadas durante o Blitz. Apesar dos estrondos a cada noite, do racionamento, da perda de vidas, eles uniram-se num único esforço nacional gigantesco”.

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Hoje a nossa geração enfrenta o seu próprio teste, ao lutar contra uma nova e muito real doença. Temos de a combater para proteger a vida”, acrescentou, prometendo “ação dramática”, do tipo “que normalmente não se vê em tempos de paz”.

Na manhã deste domingo, o Telegraph avançava com a notícia de que a indústria britânica será colocada “em pé de guerra” para ajudar a produzir equipamento para o NHS, nomeadamente ventiladores. Boris Johnson irá reunir-se por telefone com empresas como a Rolls-Royce e a JCB (que faz escavadoras) para lhes pedir que passem a produzir ventiladores nas suas linhas de montagem. O ministro da Saúde confirmou entretanto à Sky News que está a ser comprado “o maior número de ventiladores possível”, mas que tal pode não ser suficiente, devido à saturação do mercado. O grupo Unipart, que fabrica material médico, já anunciou que tem neste momento “muita gente talentosa a trabalhar em ritmo avançado” na produção de ventiladores.

Mas, para além das medidas referentes a material médico, Hancock anunciou na manhã de domingo que estão em curso planos para colocar os idosos com mais de 70 anos em isolamento, nas suas casas, por um período alargado de tempo — o que parece indicar um recuo na estratégia de tentar criar imunidade de grupo. “Sei que isto é pedir muito aos mais velhos e aos mais vulneráveis, mas isto é para a sua proteção”, declarou o ministro da Saúde. Das 10 pessoas que morreram no Reino Unido entre sexta-feira e sábado, oito eram homens com mais de 80 anos.

Uma fonte de Downing Street revelou à revista Spectator que o governo está agora a contar com “um grande esforço da comunidade” para apoiar os mais velhos e que já estão em curso conversações com empresas de entrega ao domicílio como a Uber e a Deliveroo para que possam levar comida aos idosos em isolamento. A mesma revista avança que outras medidas em cima da mesa são a requisição pública de hospitais privados, a transformação de hotéis e outros edifícios em hospitais temporários, o fecho temporário de restaurantes e bares e possivelmente o fecho de escolas. A mesma fonte quis garantir à revista que o ceticismo em adotar medidas mais duras não terá partido dos ministros, mas sim que o governo aguarda os conselhos das autoridades de saúde sobre qual a janela temporal ótima para aplicar estas medidas.

A oposição, porém, já questiona publicamente se não estaremos perante uma inversão de marcha do governo de Boris Johnson. “Precisamos de perceber porque é que o governo está a adotar uma postura diferente dos outros países”, alertou o ministro-sombra da Saúde, Jonathan Ashworth. “Se as coisas se alteraram desde a conferência de imprensa do primeiro-ministro na quinta-feira, então o primeiro-ministro devia fazer uma nova conferência de imprensa hoje a explicar porque é que as coisas se alteraram.”