“Ainda não chegaram a toda a gente”. A frase é dita num tom de preocupação por Paulo Rodrigues, o presidente da Associação Sócio-Profissional (ASPP) da Polícia de Segurança Pública (PSP), ao Observador. Mas o sentimento é partilhado também pelos presidentes do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL), Armando Ferreira, e da Federação Nacional dos Sindicatos da Polícia (FENPOL), Pedro Magrinho. Os três dirigentes mostram-se preocupados com o facto de não haver equipamentos de proteção individual do novo coronavírus para todos os agentes. E acreditam que é por isso que o diretor nacional, superintendente Manuel Magina da Silva, determinou que os agentes só podem usar máscaras e luvas em determinadas situações — e não sempre.
Segundo o despacho assinado a 13 de março pelo diretor nacional da PSP, a que o Observador teve acesso, foi proibido “o uso indiscriminado e arbitrário” dos equipamentos para “evitar o desperdício e contribuir para o alarme social“. Assim, foram determinadas três “circunstâncias justificantes de utilização” de máscaras e luvas:
- Por pessoa suspeita de infeção, em sala de isolamento;
- Por polícias que se aproximem ou que tenham que contactar com pessoa fortemente suspeita ou comprovadamente infetada;
- Por pessoa fortemente suspeita ou comprovadamente infetada.
O presidente da FENPOL diz que esta proibição faz com que os agentes estejam “condicionados”. “Percebo que não queiram desperdiçar, porque os meios são escassos e ninguém estava preparado para isto, mas não é fácil para os polícias avaliar o que é utilizar indiscriminadamente ou não”, disse ao Observador Pedro Magrinho. Neste sentido, Paulo Rodrigues considera que “se houvesse material para todos, este problema não se colocava“. “O problema aqui é outro: não há máscaras”, acrescentou.
Ao Observador, o porta-voz da Direção Nacional da PSP, intendente Nuno Carocha, garante que, para estas circunstâncias, há equipamentos suficientes. Para esses casos, os agentes têm “a disponibilidade de, a qualquer momento, poder ter acesso às máscaras a às luvas”, disse, assegurando também que não há “qualquer tipo de constrangimento”.
Já distribuímos 15 mil kits, estamos já a distribuir mais 10 mil de reforço e estamos a adquirir mais. Em breve, também vão ser distribuídos também 5 mil pares de óculos cirúrgicos de proteção”, detalhou.
O porta-voz acrescentou que a Direção Nacional “já está a trabalhar no sentido de reforçar” estes equipamentos “porque tanto as máscaras como as luvas são descartáveis” e “não é equacionável usá-las durante uma semana“. “Estamos a reforçar para que, caso haja um agravamento da situação rapidamente, possamos repor todo o material”, apontou.
O intendente Nuno Carocha disse que a PSP está a seguir as indicações das autoridades de saúde. E garantiu que é por isso que “a ideia não é, para já, o nosso pessoal começar a andar permanentemente com máscara”, afastando a hipótese de haver falta de material. “Não nos foi dito isso. Aliás, até foi desaconselhado”, afirmou.
Paulo Rodrigues, presidente da ASPP, contou ao Observador que, no município de Ovar, onde esta terça-feira foi decretado estado de calamidade, a equipa que está em contacto ou próxima da cerca sanitária implementada está a usar máscaras e luvas. “A equipa que está mais recuada e está dentro da carrinha, já não, porque não precisa”, explica. O dirigente reconhece que “a Direção Nacional está a fazer tudo aquilo que pode”, mas há casos que o preocupam: “Preocupa-nos a situação do aeroporto. Aí tem faltado e custa-nos bastante”.
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SINAPOL diz que polícias estão a ser proibidos de usar máscaras, mesmo quando foram compradas pelos próprios
Num comunicado enviado à redações na tarde de quarta-feira, o Sindicato Nacional da Polícia diz que “tem recebido denúncias de profissionais da PSP, a relatar que estão a ser proibidos pela cadeia de comando, de usar máscaras de proteção, mesmo quando estas foram compradas pelos próprios“. Na nota, é explicado que a estes agentes “têm sido dadas ordens de que só devem fazer uso destas máscaras quando em contacto com alguém potencialmente infetado com a Covid-19, a fim de não causar alarme social”
Não conseguimos entender como é que um polícia causa alarme social”, lê-se ainda.
Aos agentes que venham a ser proibidos neste sentido, SINAPOL incentiva que elaborem “de imediato” uma “peça de expediente por escrito, onde deve constar a identificação do superior hierárquico que impediu o uso do equipamento de proteção individual, com o intuito de existência de memória futura, para eventual responsabilização de quem proibiu o uso dos equipamentos”.
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Questionado pelo Observador sobre se proibições deste género têm ocorrido, o intendente Nuno Carocha apontou: “Não estamos em roda livre em que cada um faz aquilo que entende”. O porta-voz lembrou que as instruções das autoridades de saúde — que são as que estão a servir de base às medidas da PSP — indicam que “não é necessário o uso de máscara permanentemente e até poderá contraproducente”.
Naquelas situações em específico que estão concretizadas na diretiva [da Direção Nacional], o pessoal deve envergar esse meios. Nas restantes, não queremos que aconteça”, disse.
O porta-voz não descarta a hipótese de “a PSP vir a ter de trabalhar permanentemente de luvas e máscara”. Mas apenas “se a situação se agravar, seja daqui a uma semana ou um mês — desejavelmente nunca”. “Agora, estamos a apoiar-nos nas indicações das autoridades da saúde”, garantiu.