Donald Trump falou esta quinta-feira à tarde, numa conferência de imprensa em balanço do surto de Covid-19 nos Estados Unidos. O Presidente americano começou por falar de uma nova droga “já aprovada” que o governo terá capacidade para disponibilizar “quase imediatamente”. Refere-se à cloroquina, substância “muito poderosa”, segundo Trump, utilizada no tratamento da malária, mas também de artrite.

“A vantagem é que é uma substância que já circula há bastante tempo, então sabemos como é que as coisas correm e que não vai matar ninguém”, referiu o presidente dos EUA.

Já a FDA (Food and Drug Administration), a autoridade federal que regula, entre outros domínios, a indústria farmacêutica americana, não mostrou tanta certeza. Na mesma comunicação, Stephen Hahn, Comissário para os Alimentos e Medicamentos, indicou que o medicamento iria ser testado, reforçando a importância de “não dar falsas esperanças” aos americanos. “Até podemos ter a droga certa, mas esta pode não ser a fórmula com a dosagem correta e pode fazer mais mal do que bem”, admitiu Hahn.

Após a conferência de imprensa, um porta-voz da FDA confirmou a Bloomberg que ainda não aprovou o uso da substância em pacientes com Covid-19. A Universidade do Minnesota já tinha anunciado testes clínicos onde a hidroxicloroquina, um derivado da cloroquina, poderia prevenir as pessoas de serem infetadas pelo novo coronavírus.

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A Organização Mundial de Saúde já tinha definido a droga como prioritária num estúdio internacional levado a cabo por vários países para descobrir eventuais tratamentos e curas para a Covid-19. Também a China a cloroquina já tinha sido referenciada. De acordo com um estudo orientado pelo Instituto de Virologia de Wuhan, a substância foi considerada bastante eficaz no controlo da infeção.

Stephen Hahn, Comissário para os Alimentos e Medicamentos © Getty Images

Donald Trump fez ainda referência às restantes “terapias promissoras” que estão a ser produzidas por farmacêuticas como a Gilead e a Regeneron. “Que que todos os americanos saibam que estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance […] é um período muito importante para a medicina”, adicionou, dizendo acreditar que novas descobertas poderão trazer “alívio a muitos americanos”.

“Estamos a cortar em toda a burocracia para vencer esta crise, para desenvolver vacinas, terapias, o mais rápido que pudermos. No começo desta semana, começamos a testar a vacina, algo que há anos seria impensável”, afirmou ainda, referindo-se à nova vacina, que precisará de 12 meses para ser devidamente testada.

Bayer quer doar aos EUA “três milhões de comprimidos” ainda em testes

A farmacêutica Bayer anunciou esta quinta-feira que está disposta a “doar três milhões de comprimidos” de dos seus medicamentos de cloroquina, vendido com o nome Resochin, aos EUA, assim que o medicamento estiver aprovado pelas autoridades farmacêuticas norte-americanas.

A informação foi avançada pela Bayer à CNN. Segundo a farmacêutica, a substância e em específico o medicamento, inicialmente indicados para prevenção e tratamento de malário, parece ter “um espectro maior de propriedades antivirais”. A empresa diz que “dados novos de uma fase inicial e em evolução de investigação clínica levada a cabo na China, embora limitados, mostram potencial de uso de Resochin a tratar pacientes com infeção Covid-19”.

Nos últimos dias a Bayer tem estado em conversas com a Casa Branca, o departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, o Cnetro para Prevenção e Controlo de Doenças e a FDA [reguladora que define quais os medicamentos aprovados nos EUA], oferecendo todo o apoio que pudermos dar, com foco na doanção de Resochin para ajudar o Governo [dos EUA] nos seus esforços para combater o vírus”, referiu fonte da empresa à CNN.

O medicamento não está aprovado para uso nos EUA e a Bayer garante estar a trabalhar com as agências norte-americanas que viabilizam a aprovação de novos medicamentos “para a utilização do medicamento nos EUA”.

“A economia vai levantar-se muito rapidamente”, diz Trump

Sobre o impacto do novo coronavírus na economia, Donald Trump lamenta o timing da pandemia, mas deposita esperança nos alicerces económicos do país. “É uma pena este vírus, porque nunca tivemos uma economia tão forte como até há duas semanas, mas voltaremos ainda mais fortes. Quando isto for derrotado, a economia vai voltar a levantar-se muito rapidamente”, declarou o presidente, que iniciou a sua intervenção instando a Síria a libertar Austin Tice, jornalista norte-americano feito prisioneiro em solo sírio.

Stephen Hahn também falou, sublinhando que, na FDA, 17.000 pessoas trabalham dia e noite para conseguir os medicamentos certos para os americanos.

“É importante que todos os americanos perceberam que se não têm sintomas não têm de ser testados”, afirmou Mike Pence, alertando para a importância do cumprimento da distância de segurança. O vice-presidente dos Estados Unidos acentuou ainda a importância de seguir à risca as diretrizes divulgadas para os próximos 15 dias em todo o território — seguir as indicações das autoridades locais, ficar em casa em caso de sintomas e contactar os serviços de saúde, manter as crianças com sintomas em casa, manter toda a família em isolamento, caso algum elemento teste positivo, manter distância social e isolamento no caso dos idosos e de pessoas com problemas de saúde.

A comunicação terminou com o cirurgião Jerome Adams, que lançou um apelo à nação. “Dar sangue é uma parte essencial deste processo de cuidar dos pacientes e uma doação pode salvar até três vidas. Quero que os americanos saibam que é seguro dar sangue”, rematou.

Os EUA somam já mais de 9.300 casos positivos, incluindo dois membros do Congresso, com três estados a concentrarem mais de 50% da população diagnosticada — Nova Iorque, Washington e Califórnia. O número de vítimas mortais já chegou às 150.

Artigo atualizado no dia 19 de março, às 19h40.