O presidente dos EUA e o seu principal perito em doenças infecciosas divergiram publicamente sexta-feira, em direto na televisão, sobre as capacidades eventuais da utilização de um medicamento para a malária no tratamento da covid-19.

A discussão entre Donald Trump e Anthony Fauci ocorreu durante o encontro diário com a comunicação social, a propósito da pandemia do novo coronavírus.

Ansiosos por respostas, os norte-americanos ouviram versões contraditórias, com um cientista apegado aos factos e um presidente, que funciona consoante os seus instintos.

Os jornalistas perguntaram aos dois homens, primeiro a Fauci, depois a Trump, se uma droga para a malária, chamada hidroxicloroquina, poderia ser utilizada para prevenir a covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

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No dia anterior, quando Fauci estava ausente da conferência de imprensa, Trump tinha chamado a atenção para a droga.

Mas esta sexta-feira, Fauci ouviu a pergunta do jornalista e foi direto ao assunto: “Não”, disse. “A resposta… é não”.

Ao comentar um ensaio mencionado pelo jornalista, Fauci disse: “A informação a que se está a referir especificamente é anedótica” (singular). “Não foi obtida de uma experiência clinicamente controlada, portanto, não se podem fazer declarações definitivas”.

Acrescentou que a entidade reguladora (FDA, na sigla em Inglês) está à procura de uma forma de tornar esta droga acessível a doentes para utilização de urgência, mas de uma forma que dê ao governo informação sobre a sua segurança e efetividade.

Fauci é diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas e, em mais de 30 anos, já lidou com HIV, SARS, MERS, Ebola e agora o novo coronavírus.

Até agora não há medicamentos específicos para tratar a covid-19.

Mas Trump insistiu no que o seu instinto lhe dizia.

Quando os dois homens saíam do palco, Trump disse que discordava da noção de que não há medicamentos mágicos para a doença do coronavírus. “Talvez (sim) e talvez não”, afirmou. “Talvez haja, talvez não haja. Temos de ver”.

A hidroxicloroquina e uma droga similar, a cloroquina, estão disponíveis e podem ser receitadas pelos médicos nos EUA.

Estas drogas podem interferir com a capacidade de o coronavírus penetrar nas células e alguns cientistas já apontaram sinais potencialmente encorajadores em testes de laboratório e outros em pequena escala.

Mas outros cientistas estão céticos de que estas experiências se traduzam em benefícios para os doentes.

Fauci tem uma história de ser o contraponto, baseado em factos, das avaliações feitas pelo governo de Trump à pandemia.

Depois de Fauci ter afirmado há semanas que uma vacina poderia levar entre um ano e 18 meses, mesmo com todo o processo acelerado, Trump declarou, num comício, que aquela poderia estar disponível “relativamente depressa”.

Na sexta-feira, no palanque da Casa Branca, o cuidado de Fauci não o impediu de limitar o entusiasmo de Trump.

“Veja, pode funcionar e pode não funcionar e concordo com o doutor”, disse Trump. “Pode funcionar e pode não funcionar. Sinto-me bem com isso. É tudo. Apenas uma impressão (‘Just a feeling’). Sabe, eu sou uma pessoa inteligente. Sinto-me bem com isso. E vamos ver. Vamos ver em breve”, acrescentou.

Os dois até debateram a segurança do medicamento para a malária, com Trump a garantir que tinham um registo sem problemas e Fauci a prevenir que a segurança tinha de ser validada outra vez, porque o tratamento da doença causada pelo coronavírus é diferente.

Para a maior parte das pessoas, o vírus provoca apenas sintomas moderados, como febre e tosse. Mas, para outros, em particular adultos idosos e pessoas já com problemas de saúde, pode provocar doenças severas, incluindo pneumonia.