Portugal está a registar uma “curva não-explosiva” da evolução da pandemia mas Graça Freitas, a diretora-geral de Saúde, sublinha que ainda é cedo para dizer que a pandemia está a ter uma escalada mais controlada em Portugal do que em outros países. Para já, complementa a ministra da Saúde, Marta Temido, há que manter a “disciplina” de cumprir as regras de isolamento associadas ao estado de emergência, ter os cuidados de higiene e “manter as casas bem arejadas“. E, acrescenta Graça Freitas, não faz sentido usar máscaras feitas de tecido não-impermeável, como algumas artesanais que estão a ser vendidas através das redes sociais na internet.

As declarações surgiram na habitual conferência de imprensa das principais responsáveis pela área da Saúde em Portugal, minutos depois de ser divulgado o relatório deste domingo, onde se aponta para a existência de 1600 infetados (um aumento de 25% face à véspera) e 14 mortos com Covid-19 no país. Sobre os números, a ministra da Saúde destacou que 80% dos casos são “ligeiros” e estão em tratamento domiciliário – só há 169 pessoas internadas e, destas, 41 nos cuidados intensivos.

[Lares e comunidade “deviam ter-se preparado”. O essencial da conferência desta manhã:]

O aumento de 25% ilustra uma evolução “não explosiva” do número de casos, afirmou Graça Freitas. Mas acautelou: “Até à data a curva, ascendente, tem tido um comportamento não explosivo. Mas não me atreveria, com base em apenas três ou quatro dias, a prever qual vai ser o comportamento da curva daqui para a frente”.

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“Temos de continuar muito atentos e muito preparados”, alertou Graça Freitas, aludindo aos casos de outros países, em que a situação também se alterou e os casos escalaram rapidamente. “Nada nos deve dar uma falsa sensação de proteção — é como as máscaras! — temos de estar preparados para que esta curva possa ter outro tipo de crescimento”.

“Nada nos deve dar uma falsa sensação de proteção”

Sobre as máscaras, Graça Freitas garante que “não vale a pena a utilização de máscaras, sobretudo se não forem verdadeiras máscaras, mas pedaços de tecido. O importante é o distanciamento social e ter cuidado com o contacto com a boca e com o nariz”. Questionada sobre as máscaras artesanais que algumas empresas estão a produzir, foi categórica: “Aquele pano não é impermeável, vai ficar húmido e os vírus vão passar, só dá uma falsa sensação de segurança”.

Depois de garantir que, até agora, todos os mortos em Portugal tinham um “perfil clássico” de idade avançada e patologias prévias, a diretora-geral de Saúde também foi questionada sobre a imunidade com que ficam os doentes já recuperados: “Tudo indica que há imunidade na maior parte dos casos, mas não sabemos a duração dessa imunidade. Nos futuros meses e anos vamos ter de testar muitas pessoas para perceber isso”, disse Graça Freitas, questionada sobre se uma vez infetado com o novo coronavírus, um paciente fica imune a ele no futuro.

Sobre as cadeias de transmissão identificadas pela DGS, que este sábado deixaram de constar dos boletins informativos sobre o atual surto, Graça Freitas explicou que, à medida que os casos vão aumentando, deixa de ser possível ter um registo fidedigno do percurso de infeção do vírus. “Isto não quer dizer que não estejamos a ser transparentes na informação, quer dizer que estamos a adaptar a informação à velocidade com que o vírus se vai propagando”, assegurou. A nível local, de acordo com a diretora-geral de Saúde, essa informação continua a ser disponibilizada e tratada, no âmbito do combate e da contenção do surto.

“Isso não significa que não haja cadeias de transmissão. Já admitimos que há alguma circulação comunitária, sobretudo em algumas zonas do País; também já dissemos que o País não está simétrico e igual; e também já dissemos que, por vezes, não encontrar a cadeia de transmissão não quer dizer que ela não exista, quer dizer que neste momento, em que temos 12.600 pessoas em vigilância ativa, estamos a canalizar muito do trabalho das autoridades de saúde para a vigilância destes doentes, mais do que para a identificação de cadeias de transmissão”, contextualizou.

Caso do lar de Famalicão: “Deviam ter pensado como preparar-se”

O caso do lar em Vila Nova de Famalicão também foi tema na conferência de imprensa. Nesse lar de gestão privada, oito funcionárias foram diagnosticadas com coronavírus e não há funcionários suficientes para cuidar dos idosos, está a desenrolar-se uma situação que “preocupa” o Ministério da Saúde na medida em que “estas instituições têm de ter um plano de contingência”, como foi dito há vários dias.

Tinham de ter pensado sobre como é que deviam preparar-se para responder a situação deste tipo, ter profissionais de segunda linha de prevenção para poder intervir, ter equipas a funcionar em espelho (por cada um que está a trabalhar, outro em casa, com turnos rotativos)”, disse a ministra Marta Temido, acrescentando que sabe que “nem sempre será fácil haver meios para isto” mas “não podemos deixar 33 pessoas numa entidade, que por acaso não é do Estado, só com dois colaboradores“.