O briefing diário começou esta quarta-feira em tom de otimismo: “A América continua a ganhar terreno na luta contra o vírus”. Daí em diante, não se ouviram muitas frases até Trump reconhecer que em sete Estados norte-americanos, a situação é tão preocupante que foi aprovado um decreto que reconhece que um desastre está iminente e que as autoridades locais já não conseguem resolver o problema sozinhas. O Estado, contudo, está e estará presente para apoiá-las, vincou.
Também houve tempos para garantias: de que os EUA são os campeões dos testes de diagnóstico ao SARS-CoV-2 — o vírus que pode provocar a doença Covid-19 —, de que vem aí um pacote de apoios à economia norte-americana que em valor é o maior de sempre (e até se compara ao New Deal de Roosevelt) e de que a economia norte-americana não vai demorar assim tanto tempo para voltar a engrenar, pelo menos em “grandes partes do país”. E quando retomar, acredita Trump, provavelmente lá para meados de abril, retomará em força.
Nova Iorque, as “Major Disaster Declarations” e o ataque aos críticos e aos media
A proposta do presidente dos EUA para pôr o país outra vez em funcionamento — os trabalhadores nas empresas e nas fábricas, os alunos nas escolas — por alturas da Páscoa, já em abril, é visto com ceticismo por alguns peritos de saúde, como os da Organização Mundial de Saúde, que anteveem que os EUA possam vir a ser o próximo epicentro do surto depois da China e da Itália. Trump reconheceu que o plano pode não abranger todo o país — em Estados mais afetados, as medidas de contenção podem manter-se, “estamos a pensar nisso” —, mas não deixou de dar uma alfinetada àqueles que, entende, querem o país parado para o prejudicar eleitoralmente:
Acho que há certas pessoas que gostavam que não reabrisse tão rápido, acho que há certas pessoas que gostavam que financeiramente os resultados fossem maus porque acham que isso seria bom para me derrotarem nas urnas. Acho que é muito claro que há pessoas na vossa profissão [jornalistas] que escrevem fake news. Tu escreves [referiu, dirigindo-se a uma jornalista], ela escreve [apontando para outra]. Têm sorte por ter este grupo aqui para resolver o problema [Administração Trump e especialistas de saúde], de outro modo já nem teriam país”, rematou.
Apesar de defender que a economia norte-americana vai retomar com força — e não será preciso um “caminho assim tão longo” para superar a crise decorrente da pandemia —, Trump deu luz verde a um decreto de Estado de Grande Desastre em sete Estados norte-americanos e anunciou um plano de estímulos económicos sem grandes precedentes na história da economia dos EUA.
Reconhecendo que a situação em alguns Estados é alarmante, Trump anunciou: “Acabei aprovar Major Disaster Declarations para os estados de Nova Iorque, Califórnia, Washington, Iowa, Louisiana, Texas e Florida“. Estas declarações de Grande Desastre, que podem ser decretadas em caso de iminência de desastre, são o Estado de Emergência máximo estatalmente previsto nos EUA — e significam que os Estados em causa precisam de toda a ajuda possível para se preparar para um desastre iminente. São habitualmente decretados quando as autoridades locais e estatais já não têm capacidade para responder sozinhas a situações de emergência. “Isto tem um grande significado, como sabem, e um [grande] significado legal”, notou.
Na inscrição jurídica que prevê estes decretados, lê-se que podem aplicar-se quando um evento de grande gravidade, como “furacão, tornado, tsunami” ou outros, é visto pelo Presidente dos EUA como algo “que pode causar danos de tal severidade que excede as capacidades de resposta combinadas dos Estados e dos governos locais”. Este decreto “permite uma vasta gama de programas de assistência federal para indivíduos ou infraestruturas públicas” de cada Estado.
O Presidente dos Estados Unidos da América sublinhou ainda que o Estado de Nova Iorque é “de longe” o mais afetado e o que mais preocupações causa quanto à propagação da pandemia. “Estamos a construir numerosos hospitais e centros de saúde em certas áreas de Nova Iorque”, garantiu Trump, acrescentando:
“Quero que saibam que estou a fazer tudo o que está em meu poder para ajudar a cidade a ultrapassar este desafio. É de longe o nosso maior problema”.
Ninguém testa tanto como os EUA, palavra de Donald Trump
Sobre a resposta das autoridades de saúde nos EUA, Donald Trump quis puxar dos galões e vincar que os Estados Unidos estão a fazer “uma grande quantidade de testes por todo o país”.
O presidente dos EUA revelou que tinha acabado de falar com “o presidente Moon”, isto é, com o sul-coreano Moon Jae-in, com quem teve “uma grande conversa”. Isto porque a Coreia do Sul é tida como exemplo internacional na capacidade de rastreio e contenção da propagação da pandemia, tendo-o conseguido através de testes em grande escala e uma análise minuciosa dos movimentos dos sul-coreanos infetados, de modo a travar cadeias de contágio.
Fizeram um grande trabalho nos testes [a Coreia do Sul] mas neste momento estamos a fazer muito mais testes do que qualquer outro país”, apontou o presidente dos EUA.
Estados Unidos podem ser o próximo foco, mas Trump não parece preocupado. Porquê?
Os 2 biliões de euros para dar pujança à economia
Na conferência de imprensa de esta quarta-feira, Donald Trump afirmou ainda que “os democratas e os republicanos no Senado estão quase a aprovar” um pacote de medidas estatais de apoio à economia “para os trabalhadores, famílias e negócios” do país.
Temos muita coisa prevista para os trabalhadores e para as famílias mas temos [sobretudo] uma tremenda provisão para pagamentos de licenças por ausência [dos trabalhadores] por motivos de saúde, sem qualquer custo para os empregadores. Ao todo, temos um pacote legislativo de 2.2 biliões de dólares”, ou seja, aproximadamente 2 biliões de euros à taxa de câmbio atual.
Trump explicou que este pacote de medidas de estímulo à economia “é maior do que qualquer outra coisa” e “é maior, acredito, do que qualquer um jamais aprovado no Congresso”. Se recuarmos, por exemplo, até ao pacote de apoios à economia americana “New Deal”, aprovado por Franklin D. Roosevelt depois da “Grande Depressão”, ver-se-á “algo” semelhante, disse, mas “em termos de dólares é certamente o maior pacote de medidas já implementado”. Nancy Pelosi, uma das suas grandes opositoras democratas, também já veio defender o pacote de estímulos estatais, como aliás o fizera já anteriormente:
The best way to protect our economy in this crisis is to protect workers & families, who are the life-blood of it. That is why we are working to get money into the hands of workers as soon as possible. #FamiliesFirst @SquawkStreet
— Nancy Pelosi (@SpeakerPelosi) March 24, 2020
O presidente dos EUA garantiu ainda: “Vamos tratar do trabalhador americano, destas empresas que fazem avançar este país e o tornam excelente. Não têm a culpa por isto”. No entanto, apontou: “Muito deste dinheiro vai regressar” e parte será cedido em “empréstimos”. Trump está convicto que quando a economia retomará, retomará com grande força.
Ainda neste último capítulo das conferências de imprensa diárias de Donald Trump, o presidente dos EUA queixou-se de que os EUA são “tratados de forma muito injusta” pela União Europeia. “Fazemos o melhor equipamento médico do mundo e temos algumas pessoas, como acontece com a União Europeia, que não o querem porque têm especificidades que não permitem a importação do nosso equipamento, por ser feito de forma diferente. Apesar de ser feito de uma maneira melhor… É uma coisa terrível. E sabem uma coisa, algumas das pessoas que se aproveitaram mais de nós são aliados”, apontou, dando o exemplo da NATO.