Uma das falhas que atualmente é possível apontar ao combate da epidemia Covid-19 em Portugal é, segundo um médico intensivista do hospital Egas Moniz, assumir-se que doentes sem sintomas da Covid-19 que chegam ao hospital são negativos e que não é preciso redobrar cuidados na abordagem destes doentes.
“O que está a falhar na estratégia é assumir que não é só no doente positivo que temos de usar os equipamentos de proteção individual. É assumir que todo o doente que entre no hospital é um potencial positivo e disseminador”, afirmou Tomás Lamas, especialista em cuidados intensivos, em entrevista no Direto ao Assunto da Rádio Observador.
O médico diz que há “um risco enorme” de infeção nos hospitais, tanto para doentes como para os profissionais de saúde. “São locais de grande concentração de pessoas”, onde a infeção se pode disseminar e que a única forma de resolver, segundo o médico, é através de um “investimento fortíssimo na prevenção”. Ou seja, nos “equipamentos de proteção individual.”
DGS devia “desenvolver campanha para ensinar a utilizar máscaras”
Tomás Lamas, médico intensivista do hospital Egas Moniz, defende também que a Direção-geral da Saúde devia estar empenhada em “desenvolver uma campanha” que ensinasse aos portugueses a utilizar máscaras cirúrgicas.
Para o especialista, a grande vantagem da máscara cirúrgica — quando bem utilizada — é impedir o contágio. “Se todos numa sala estivermos a usar a máscara cirúrgica e eu espirrar ou tossir não envio para toda a gente. Essa é a grande vantagem da máscara cirúrgica: o chamado efeito protetor de grupo”, explicou o médico, à Rádio Observador, acrescentando que as máscaras com respirador são as únicas que permitem proteger o utilizador na inspiração e expiração, devendo essas ser reservadas para a utilização em ambiente hospitalar.
Tomás Lamas: DGS devia “desenvolver campanha para ensinar a utilizar máscaras”
Quanto à utilização da máscara cirúrgica por toda a população, o médico esclarece que países como a China ou a Coreia já têm uma “formação básica em etiqueta respiratória”, o que pode explicar a eficácia da utilização de máscaras no dia a dia e em momentos em que se enfrentam vírus como o Sars-Cov2, o MERS ou o Sars. Por isso mesmo, Tomás Lamas defende que as autoridades de saúde deviam apostar agora em dar essa formação também aos portugueses: “campanha devia ser desenvolvida, para ensinar a utilizar máscaras”.