O Secretário de Estado da Saúde, António Sales, deixou claro o aumento no número de testes realizado no último mês na habitual conferência de imprensa: “Analisámos mais de 69 mil amostras desde 1 de março, de segunda a domingo foram quase 40 mil amostras. Mais do dobro da semana que antecedeu”, afirmou confirmando que a passagem à fase de mitigação da doença — e respetiva alteração dos critérios de testagem — teve como consequência também um aumento significativo no número de testes realizados.

Mas estes não foram os únicos números a serem apresentados. “Ninguém fica para trás”, disse António Sales para depois referir que a linha Saúde 24 está a receber 18 mil chamadas por dia, quando antes da pandemia recebia, em média, 5 mil. “Em março recebeu mais de 300 mil chamadas”, afirmou o governante.

Atualmente, a linha Saúde 24 conta com mais de 1.400 profissionais de saúde — um reforço que compara com os 900 funcionários que anteriormente trabalhavam na linha do Ministério da Saúde.

Sales admitiu ainda que estamos a viver “um tempo de adaptação” e que o Serviço Nacional de Saúde “não estava programado para receber uma pandemia desta dimensão”. Ainda assim, elogiou a “capacidade de adaptação extraordinária”.

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Numa altura em que Marcelo Rebelo de Sousa se prepara para passar para o Parlamento a decisão de prolongar o Estado de Emergência, o secretário de Estado da Saúde diz que a tutela “está disponível para não abrandar já estas medidas”. Segundo António Sales, “ainda é cedo para avaliar” se a descida na percentagem de casos registados — novos casos subiram apenas 11%, com esta quarta-feira a registar 808 novos casos de infeção — é resultado das medidas de contenção aplicadas.

“O grau de incerteza é grande, mas não podemos deixar de assinalar que nos últimos dias tem havido um abrandamento da tendência, sem que isso possa servir para retirar conclusões”, afirmou o responsável.

Número total de testes realizados passa de 22 mil para 69 mil em março

Dos números anunciados esta quarta-feira há uns que são mais vistosos que outros: 69 mil testes realizados em março, sendo que destes 40 mil foram realizados só na última semana, ainda que de acordo com o boletim da DGS o número total de casos suspeitos desde 1 de janeiro é de 59.457, tendo sido confirmados 8.251 e estando ainda a aguardar resultado laboratorial 4.957.

A 26 de março, a diretora-geral da Saúde anunciou durante o briefing que já tinham sido feitos “mais de 22 mil testes”.

O anúncio dos 22 mil testes então realizados, coincidiu com o dia da entrada de Portugal na fase de mitigação, o que pode explicar também o grande crescimento no número de testes numa semana quando comparados com os das semanas anteriores.

As dificuldades de utilização do SINAVE podem ajudar também a explicar a diferença nos números de casos suspeitos e o de testes realizados. É que as autoridades de saúde passaram a considerar apenas os dados que a plataforma recolhe para evitar a duplicação de números que aconteceu, por exemplo, no concelho do Porto. Mas perante a dor de cabeça do SINAVE há hospitais que já optaram por registar apenas os casos positivos.

No hospital de São João, no Porto, por exemplo, que está desde o primeiro dia na linha da frente no combate à Covid-19, os médicos já desistiram de reportar os casos suspeitos no SINAVE, diz ao Observador a médica infecciologista Margarida Tavares.

Médicos dizem que sistema que regista casos de Covid-19 tem muitas falhas. “É um pesadelo burocrático.”

Portugal quer duplicar a capacidade de ventilação

Os esforços para reforçar o número de ventiladores em Portugal são claros. O Governo comprou 535 ventiladores — embora ainda não seja certo quando chegam —, as autarquias e comunidades intermunicipais têm-se multiplicado a anunciar aquisições de ventiladores e monitores e há ainda várias doações da sociedade civil, de individuais e coletivos, a aumentar o parque de ventiladores existente. António Sales deixou claro hoje qual o objetivo do Governo: “duplicar o número de ventiladores em Portugal”.

A Diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, esclareceu ainda que o “país está a fazer um esforço grande para aumentar a capacidade”, procurando não manter ventiladores ocupados por situações cirúrgicas que “podem ser diferidas no tempo”. Graça Freitas avançou que o Governo tem “mecanismos para aumentar capacidade além das compras previstas”, embora não tenha detalhado de que “mecanismos” se tratam.

O secretário de Estado da Saúde clarificou ainda a distribuição dos 1.142 ventiladores que existiam em Portugal: nos blocos operatórios, nos cuidados intensivos e ainda cerca de 130 identificados como “capacidade de expansão”.

Diabéticos com doença bem compensada têm “o mesmo risco que a população em geral”

Sendo os diabéticos um dos grupos de risco identificados na doença Covid-19, o presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), o médico José Manuel Boavida, esteve no briefing desta manhã para esclarecer alguns pontos relativamente aos diabéticos e à Covid:

  • “Não há qualquer evidência que as pessoas com diabetes sejam mais atreitas a serem infetadas pelo coronavírus”;
  • “Não existe evidência de diferença entre os vários tipos de diabetes (tipo 1 e tipo 2)”;
  • “Se a diabetes tiver bem compensada o risco é o mesmo da população em geral.”

Depois de enumerar as alternativas já criadas para que os diabéticos possam reduzir ao mínimo as saídas do domicílio, José Manuel Boavida recordou as consultas de telemedicina ou as entregas ao domicílio de medicamentos deixando um “pedido” às equipas de saúde.

“Às equipas de saúde para contactarem com as pessoas com diabetes que têm maior dificuldade de sair de casa, nomeadamente idosos ou pessoas com dificuldade de aceder aos meios eletrónicos”, disse recordando a linha verde que a APDP criou para apoiar quem está em casa.

A APDP está também a entregar medicamentos em casa dos diabéticos, e o presidente da associação fez questão de recordar que “quanto melhor o controlo da diabetes melhor será o diagnóstico”, não devendo os doentes descurar o equilíbrio da diabetes.